texto por Luciano Ferreira
Após cinco álbuns, vários EP’s e quase uma década longe dos lançamentos – o último álbum do grupo havia sido “Little Wars”, de 2008 -, a banda Unwed Sailor retornou em 2017 com o EP “Take a Minute” e em 2019 soltou o álbum “Heavy Age”. Sedentos e com um cronograma “inabalável” (a pandemia impediu a turnê que fariam em 2020, mas não os trabalhos de estúdio), eles seguem editando um álbum por ano, concentrando os lançamentos nos meses de maio e junho. “Look Alive’ saiu em 2020 e “Truth or Consequences“, o mais recente, foi lançado no último dia 14 de maio, marcando a estreia pelo selo Partisan Records (mesma label de Cigarettes After Sex, Fontaines D.C., IDLES, John Grant e Laura Marling).
De essência instrumental, o grupo, atualmente baseado em Tulsa (estado de Oklahoma) – aquela mesma cidade onde se passa a série “Watchmen”, da HBO -, tem mais de duas décadas na labuta sob o comando do baixista Johnathon Ford, e conta atualmente com o guitarrista Matthew Putman e o baterista David Swatzell, presentes também nos dois discos anteriores. Vários músicos passaram pelo grupo ao longo de suas mais de duas décadas de existência, incluindo o guitarrista David Bazan, da banda Pedro The Lion, da qual Ford também participou por algum tempo.
No rastro da discografia recente, o grupo segue exercitando números instrumentais com arranjos de dinâmicas diferenciadas que permitem que cada canção seja um passeio por sensações e humores diversos, algo que se espera de uma boa banda instrumental, seja ela de post-rock ou não.
Embora o próprio grupo se defina assim, usar o termo post-rock para apresenta-los acaba não sendo o caminho mais assertivo, já que sua música transita por gêneros diversos. É possível perceber, por exemplo, em certos momentos (referência presente em outros álbuns também) a influência das linhas melódicas de Peter Hook no estilo de Ford, aqui representada em “Palladora”, mas também presente em “Blitz”, que também remete a New Order, que o baixista se diz fã.
Como em geral as canções são criadas e estruturadas a partir das linhas de baixo, o instrumento tem uma presença preponderante, seja ditando o ritmo ou quando assume a melodia das canções, como na já citada “Palladora”. Em “Ajo”, um dos singles do novo álbum, o direcionamento é por um groove repetitivo sugerindo um dream-pop meio torto, mas de resultado bastante original.
O predominante em boa parte das canções é justamente esse lado climático costurado por texturas límpidas de guitarras e teclas atmosféricas, seja quando enaltece uma saudade tristonha, como na faixa que dá nome ao disco, onde os elementos do post-rock surgem mais intensos, seja na simplicidade acústica de “Fellsway”, que merecia um arranjo mais elaborado, ou ainda na climática “Voodoo Roux”.
O álbum finaliza com a presença de um lado mais cinematográfico, por conta da longa “Dark of the Morning”, cujos elementos densos e atmosféricos direcionam a percepção para o final dos anos 80, via “Disintegration”, do The Cure, com uma abordagem que incorpora elementos de drone music no minuto final.
– Luciano Ferreira é editor e redator na empresa Urge :: A Arte nos conforta e colabora com o Scream & Yell.