texto por Luciano Ferreira
O embalo suave que escorre da música do Still Corners – emoldurado pela voz envolvente de Tessa Murray – na faixa homônima que abre os trabalhos de “Last Exit” (2021), seu mais novo álbum, explicita mudanças e permanências na sonoridade desse duo anglo-americano cujo encontro casual num incidente de ônibus em Londres deu início ao projeto, lá em 2007.
Numa carreira de quase uma década e meia, a dupla (que ainda conta com o multi-instrumentista Greg Hughes) tem na bagagem outros quatro bons álbuns lançados entre 2011 e 2018 – os dois primeiros, via Sub Pop, os outros três, incluindo “Last Exit” (lançado também em vinil cristalino), por um selo próprio, a Wrecking Light Records.
A suavidade sempre foi um atributo presente ao longo da discografia do duo, variando o enfoque sonoro, tanto com elementos de dream pop quanto agregando efeitos eletrônicos típicos do synthpop em batidas e sintetizadores. O aceno agora é para um indie-folk com o fio condutor de guitarras com texturas cristalinas e uso recorrente do pedal steel e elementos acústicos.
Voltando para “Slow Air” (2018), seu álbum mais próximo, percebemos que em faixas como “The Message” o Still Corners já mostrava essa feição que aqui se tornou mais ampla e aprimorada, ganhando de quebra o conceito de “desert songs”, ou “desert noir”, como pretende a dupla – conceito que está na capa do disco, no título das faixas e no uso de sons da natureza para captar a atmosfera: uivos, vento, trovões.
As letras complementam a ideia narrando viagens por estradas que cortam o deserto em “Last Exit”: “Estou vagando para lugar nenhum / O passado ecoa em minha mente / No meio do deserto / O diabo seguindo logo atrás”; ou imagens oníricas que surgem pelo caminho, em “Mystery Road”: Eu estava dirigindo / Não havia nada lá fora / Mas uma sensação / Apenas dois faróis e uma estrada vazia (…) No escuro eu vi um jovem caminhando na estrada / Mas quando eu esfreguei meus olhos / Ele tinha envelhecido”.
Em “Crying”, Tessa diz estar chorando tentando esquecer… um amor ou a situação de loucura a que esse nosso mundo chegou com a pandemia? Tanto faz: “Eu tenho batido palmas / Para poder desligar / Estou contando até dez / Enquanto o mundo desmorona”, ela confessa.
Apesar de em alguns momentos “Last Exit” transmitir certa linearidade, quando os arranjos repetem os mesmos elementos, noutros percebe-se a tentativa de mudanças, como em “It’s Voodoo”, que remete diretamente ao Dire Straits, nos timbres de “White Sands”, ou no clima country/western de “Bad Town”.
Esse é aquele tipo de álbum que segue do início ao fim sem grandes arroubos, com mudanças mínimas de andamento, para ser ouvido naqueles momentos em que o que mais se deseja é algo suave.
– Luciano Ferreira é editor e redator na empresa Urge :: A Arte nos conforta e colabora com o Scream & Yell.