por Renan Guerra
O filme francês “7 Minutos” (2020) começa de forma tensa: um jovem casal gay transa em um quarto de hotel enquanto usa doses de GHB e cocaína. Rapidamente, a cena se torna caótica quando um deles simplesmente apaga, o que leva o segundo a saídas extremas. Entram os créditos e aí passamos a acompanhar a história de Jean, um policial de 55 anos, pai de um dos garotos que foi encontrado morto no hotel e que decide, a sua maneira, entender o que levou seu filho a esse jogo autodestrutivo.
Apesar do prelúdio barra pesada, o filme é bem mais ameno do que aparenta. Jean passa a conhecer alguns amigos de Maxime, seu filho morto, e passa a frequentar a boate em que todos os amigos se reuniam – e, óbvio, usavam drogas. O choque do pai em descobrir o universo no qual o filho vivia é uma questão latente dentro da comunidade LGBTQ+ e que tem um nome: chemsex. Em tradução literal, seria algo como “sexo químico”, isto é, sexo sob o efeito de drogas – e essas drogas formam uma lista múltipla, que inclui GHB, metanfetamina, cocaína, ketamina, poppers e MDMA.
Essa combinação é complexa e perigosa e é sobre isso que a primeira metade de “7 Minutos” parece se debruçar. Vemos Jean a conhecer o universo da boate, a se inteirar sobre o consumo de drogas e sobre o tipo de relação que há entre os antigos amigos de seu filho. Jean é tentado a experimentar GHB, cria uma relação entre o paternal e o sexual com um dos amigos e também se vê sem muitas respostas. Em paralelo, começamos a acompanhar um pouco sobre dois desses amigos remanescentes de Maxime, em uma narrativa que quase beira ao moralismo e que, de algum modo, soa bastante superficial.
Com pouco mais de uma hora e 15 minutos, “7 Minutos” é um filme que se perde no raso de seus personagens. Um pai que perde um filho de maneira trágica e que sente desconhecer o filho que acabou de perder é um prato cheio para uma narrativa complexa e cheia de nuances, mas não é o que acontece aqui. O brasileiro Ricky Mastro, diretor e roteirista do longa, parece ter um ótimo ponto de partida, mas não sabe aonde quer chegar e nisso se perdem questões e problemáticas dentro do filme. Depois de uma hora de projeção, por exemplo, as coisas se resolvem de forma meio indefinida e parece que faltavam muitas peças para fechar esse quebra-cabeça.
Além das questões de roteiro, esteticamente o filme é de alguma forma “clean” demais. A balada que eles frequentam parece saída das novelas da Globo, com sua luz bastante clara, pouca fumaça e nada de gente suada. Parece que a construção de toda uma ambiência também fica estagnada em algum passo, é como se o diretor nunca quisesse correr os riscos de ir com tudo no universo que ele se propôs a filmar. A única parte divertida dessa construção da vida clubber do filme é a presença de uma faixa do brasileiro DJ Mau Mau na trilha sonora.
No fim das contas, “7 Minutos” é um filme que fala de um tema urgente e fundamental, que precisa ser debatido dentro da comunidade LGBTQ+, porém desperdiça isso quando opta por nadar no raso, por não ter condições de desenvolver de forma complexa os seus personagens e por soar pouco atrativo. Uma pena, pois é uma excelente história desperdiçada em resoluções pífias.
– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Também colabora com o Monkeybuzz.