por Marcelo Costa
Abrindo uma nova sequencia de latas com a cervejaria paulistana Croma, que tem um belo brewpub no bairro da Vila Madalena, na capital paulista, e produz / envasa essas latas no interior, na Cervejaria Cigana, em Jaboticabal. Essa é mais uma cerveja da linha 4 Billion que conta com quatro dry hoppings e uma combinação secreta de lúpulos. A versão 4 Billion Bikes apresenta uma bela coloração amarela, juicy tal qual um suco de laranja, com creme branco espesso de ótima formação e retenção. No nariz, uma explosão incrível de notas frutadas sugerindo laranjada espremida na hora, manga, abacaxi e pêssego. Há, ainda, leve doçura, mas também com notas derivadas da lupulagem. Na boca, doçura frutada que remete a laranja no primeiro toque, mas traz forte presença de pêssego na sequencia seguida de abacaxi e, por fim, manga. O amargor é potente, mas limpo (algo na casa dos 50 IBUs). Já a textura é suave e levemente picante (com um tiquinho de nada dos 8.2% de álcool). Dai pra frente, uma das melhores Double New England IPA que já bebi, equilibradíssima, saborosíssima e sensacional. No final, cítrico e leve amargozinho. No retrogosto, abacaxi, pêssego, manga e laranja. Uou.
A segunda lata da Croma é a Say Hello!, outra Double New England IPA que apresenta uma coloração amarela, juicy tal qual um suco de laranja, com creme branco espesso de média formação e longa retenção. No aroma, notas deliciosas de frutas amarelas com sugestão intensa de laranja, manga, abacaxi e também pêssego, mas de uma maneira mais comportada do que a explosão incrível da lata anterior. Aqui também é perceptível doçura, leve. Na boca, manga aparece antes, no primeiro toque, e segue dando as cartas a seguir numa paleta que ainda traz laranja e leve lichia. O amargor parece um pouco mais potente do que na anterior, com leve percepção resinosa. A textura é suave com picância trazendo consigo um pouquinho dos 8% de álcool. Dai pra frente, uma bela Double NE IPA, mas que não impressiona tanto devido ao brilho da 4 Billion Bikes (o que conta ainda mais pontos para a primeira). No final, laranja e leve resina. No retrogosto, mais laranja e leve manga.
De São Paulo para o Rio com duas cervejas da nano cervejaria Dr. Otto, sendo que a primeira delas, a Skinny (West Coast) Double IPA, que homenageia a icônica capa do segundo disco do Nirvana, “Nevermind”, com um cara peladão numa piscina nadando atrás de um bouquet de lúpulo, é uma colab com o Tio Ruy Beer House, pub da Barra da Tijuca, no Rio. De coloração âmbar com creme branco espesso de ótima formação e retenção, a Dr. Otto Skinny Double IPA apresenta um aroma com intensa proposta herbal que combina a perfeição com a base maltada, e acertadamente mantendo-se longe das Caramel IPAs. Na boca, uma perfeita replicação do aroma com o herbal (pinho) intenso no primeiro toque e dividindo as atenções com doçura de caramelo média na sequencia. O amargor é potente, mas não sei se chega aos 90 IBUs adiantados pela lata (pra mim para nos 70, o que ainda é excessivo e combina com o estilo). Dai pra frente, uma West Coast IPA que pega o lado mais sem concessões do Nirvana, barulho a troco de tudo, sem nenhuma concessão a melodia. No final, amargor médio, seco e prolongado. No retrogosto, um tiquinho do amargor persiste trazendo consigo mais pinho que doçura.
A segunda da Dr. Otto é uma Rauchbier (aparentemente, um estilo cada vez mais raro no país) que leva o nome de Sinal de Fumaça. De coloração âmbar escura com creme bege de boa formação e retenção, a Dr. Otto Sinal de Fumaça apresenta um aroma com as tradicionais notas (deliciosas) derivadas do malte defumado, sugerindo bacon, presunto, provolone e baconzitos. Há, ainda, uma leve e discreta doçura caramelada na base. No primeiro toque a doçura caramelada se antecipa para levar uma bela rasteira da defumação na sequencia, mas retornar (defumada) logo depois. Não há sensação de amargor (são apenas 23 IBUs que não fazem frente ao bacon) e a textura é leve com delicada cremosidade. Dai pra frente, uma Rauchbier saborosa e correta, com o malte defumado dando as cartas enquanto o malte caramelo tenta equilibrar (ou ao menos, suavizar) o conjunto. No final, doçura de caramelo. No retrogosto, bacon, presunto e fumaça. Adoro.
Retornando para São Paulo, mas agora na capital com duas cervejas produzidas no taproom da Trilha, no bairro da Pompéia, especialmente para o clube Ultrafresco, com cervejas saindo direto do tanque para o bebedor associado. Essa Alex Espacial é uma Double Juicy IPA com os três variedades de lúpulo (Citra, El Dorado e HBC 472) e apresenta uma coloração amarela turva, juicy tal qual um suco de laranja, e creme branco de boa formação e retenção. No nariz, forte apelo cítrico tendendo a manga, laranja lima e abacaxi levemente maduro. Na boca, doçura cítrica adorável no primeiro toque seguida de frutado cítrico intenso (muita manga e abacaxi). O amargor é limpo e equilibrado, na casa dos 40 IBUs. Já a textura é suave, cremosa, com discreta picância (talvez de lúpulo ou dos 8.2% de álcool, imperceptíveis). Dai pra frente, uma Double Juicy IPA portentosa, caprichada, deliciosa. No final, pegada cítrica. No retrogosto, laranja, manga, abacaxi e leve condimentação.
A segunda da Trilha é uma Milk Stout cuja receita recebe adição de café, aveia, trigo, lactose e uma pitada de canela, e que atende pelo nome de Capuccino. Trata-se de uma cerveja de coloração marrom escura, praticamente preta, de creme bege espesso, de boa formação e permanência. No nariz, café disparado na frente com presença sutil de canela, lactose e chocolate. Há, ainda, leve percepção de café com leite. Na boca, café e canela praticamente juntos seguido de uma leve presença de lactose transformando o conjunto em um delicioso cappuccino gelado. Não há amargor (há um residual de torra bastante suave) e a textura é suave. Dai pra frente, uma cerveja bem interessante com todos os ingredientes nos seus devidos lugares, com destaque para o café e a canela, com a lactose delicada cumprindo o perfil. No final, cappuccino. No retrogosto, cappuccino. Delicia.
Voltando ao Rio com mais uma cerveja da carioca Overhop a passar por aqui, que, no entanto, produz suas receitas em Matias Barbosa, Minas Gerais. A primeira de duas é a Overhop Gangsta, uma Session NE IPA de coloração amarelo palha totalmente turva, tal qual um suco de caju, e creme branco de ótima formação e retenção. No nariz, sugestão caprichada de frutas (abacaxi, manga laranja e pêssego), doçura deliciosa e condimentação intensa derivada da levedura. Na boca, o primeiro toque sugere um suquinho delicioso de abacaxi, mas conforme o trajeto prossegue surge um harsh intenso marcando a garganta – ainda é possível perceber doçura – que, infelizmente, incomoda. O amargor deveria ser baixinho, na casa dos 25 IBUs, mas o harsh tudo varrendo o que aparece no caminho. A textura é suave e picante (com percepção sutil de harsh). Dai pra frente, uma Session NE IPA interessante, que tinha tudo para brilhar, mas foi atropelada por um harsh insano e nada session. No final, amargor e picância. No retrogosto, harsh e frutas amarelas.
A segunda da Overhop é uma receita colaborativa entre a cervejaria, John Palmer e a Mistura Clássica que busca recriar, em formato liquido, o Pizookie, uma pizza de cookie normalmente coberta com uma colher de sorvete, ou seja, um cookie de chocolate gigante que pode ser cortado em fatias. Para tanto, a receita recebe adição de aveia, cacau e cumaru. De coloração marrom bastante escura, praticamente preta, com creme bege escuro de boa formação e média retenção, a Overhop Pizookie apresenta um aroma com abundancia de percepção de cacau e de cumaru com leve sugestão de baunilha e sutil percepção dos 8.5% de álcool (nitidamente quando a cerveja aquece na taça). Na boca, primeiro toque sugere chocolate amargo e, na sequencia, o cumaru se sobressai ao cacau com sugestão de baunilha sutil na base. Não há amargor, e sim muito chocolate amargo – que não é nada amargo. A textura é suave com discreta picância. Dai pra frente, uma bela sobremesa liquida com muito chocolate amargo e pouca percepção da cacetada de álcool. No final, chocolate amargo. No retrogosto, cacau e cumaru.
Do Rio de Janeiro para São Paulo com duas cervejas da Dogma produzidas em Itupeva, na fábrica da Startup Brewing. A primeira delas é a Creamy, uma Milkshake IPA com os lúpulos Mosaic e Mandarina Bavaria e adição de lactose. De coloração dourada com leves traços de amarelo palha e creme branco de excelente formação e longa retenção, a Dogma Creamy apresenta um aroma com doçura sugerindo lactose combinando com frutado cítrico, o que remete a mousse de abacaxi com uma pegadinha bem leve de maracujá. Na boca, doçura de mousse de abacaxi no primeiro toque seguida de frutado cítrico e de um amargor marcante, caprichado, algo na casa dos 70 IBUs, mas que ainda carrega em si algo de… mousse de abacaxi. A textura é cremosa com discreta picância (aparentemente dos 7.3% de álcool). Dai pra frente, uma cerveja deliciosa, envolvente e que remete, sim, a mousse de abacaxi. No final, amargor e secura. No retrogosto, leve álcool, doçura de lactose e sugestão de… mousse de abacaxi.
A segunda Dogma é a Lupulin, uma New England American Pale Ale (produzida também na fábrica da Startup Brewing, em Itupeva, interior de São Paulo) que destaca a utilização de dois lúpulos clássicos made in USA, o Citra e o Simcoe. De coloração amarela turva, mas não tão juicy como um suco, e creme branco de ótima formação e retenção, a Dogma Lupulin apresenta um aroma com muitas notas frutadas cítricas remetendo a laranja lima e, sutilmente, a abacaxi. Há, ainda, um traço herbal bem sutil e leve percepção resinosa. Na boca, frutado cítrico no primeiro toque seguido de leve sugestão de laranja acompanhada por um traço suave de resina. O amargor, de 30 IBUs, é bastante suave e a textura é leve. Dai pra frente, uma deliciosa APA, bastante refrescante e com um finalzinho que traz consigo hortelã (ou casca de limão). No final, frutado cítrico, laranja lima e casca de limão.
De volta ao Rio de Janeiro com duas Brewlab que integram uma série de New England APAs com a mesma receita base, a Haze Baze, mas com adições diferenciadas. A base traz os maltes Pilsen, Carahell, centeio e flocos de aveia mais lúpulos Galaxy, Citra e Azzaca num duplo processo de dry-hopping. A versão Haze Blaze Flea (dos Red Hot Chilli Peppers) recebe adição de coco queimado e apresenta uma coloração amarela, super juicy tal como um suco de caju ou laranja, e creme branco de ótima formação e longa retenção. No aroma, coco queimado. Muito! Assim que o nariz se acostuma é possível perceber leve sugestão de baunilha e a condimentação típica das leveduras NE. Na boca, o paladar segue o aroma com muito coco desde o primeiro toque seguida de mais coco, doçura leve e condimentação. O amargor é baixo, 35 IBUs bastante suaves. Já a textura é cremosa e picante. Dai pra frente, uma NE APA que é puro coco queimado (mesmo o perfil APA fica escondido). No final, coco e doçura. No retrogosto, mais coco queimado e leve condimentação. Interessante.
A segunda Haze Baze da Brewlab é a Citrus, que traz George Harrison (fardado como integrante da Banda do Sargento Pimenta) estilizado na lata e, como adianta o nome, recebe adição de frutas cítricas, no caso, laranja e tangerina. No copo, a Brewlab Haze Baze Citrus apresenta uma coloração amarela, super juicy tal como um suco de laranja, e creme branco de ótima formação e longa retenção. No nariz, cítrico potente com leve toque artificial, que, no entanto, não atrapalha o conjunto e sugestiona laranja e tangerina. Há, ainda, leve percepção de doçura. Na boca, doçura cítrica no primeiro toque seguida de leve efervescência cítrica na sequencia (bastante laranja com sotaque artificial) e amargor leve, os mesmos 35 IBUs da anterior, mas aparentemente ainda mais leve. A textura é cremosa e picante. Dai pra frente, uma NE APA deliciosamente cítrica e levemente picante (de levedura). No final, suquinho de laranja artificial. No retrogosto, mais cítrico, mais laranja, mais picância leve.
Croma 4 Billion Bikes
– Produto: Double New England IPA
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 8.2%
– Nota: 4.16/5
Croma Say Hello!
– Produto: Double New England IPA
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 3.84/5
Dr. Otto Skinny Double IPA
– Produto: Double West Coast IPA
– Nacionalidade: Guapimirim, RJ
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 3.40/5
Dr. Otto Sinal de Fumaça
– Produto: Rauchbier
– Nacionalidade: Guapimirim, RJ
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3.40/5
Trilha Alex Espacial
– Produto: Double New England IPA
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 8.2%
– Nota: 4.00/5
Trilha Cappuccino
– Produto: Milk Stout
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3.72/5
Overhop Gangasta
– Produto: Session NE IPA
– Nacionalidade: Rio de Janeiro, RJ
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 3.21/5
Overhop Pizookie
– Produto: Double Oatmeal Stout
– Nacionalidade: Rio de Janeiro, RJ
– Graduação alcoólica: 8.5%
– Nota: 3.92/5
Dogma Creamy
– Produto: Milkshake IPA
– Nacionalidade: Itupeva, SP
– Graduação alcoólica: 7.3%
– Nota: 4.02/5
Dogma Lupulin
– Produto: NE APA
– Nacionalidade: Itupeva, SP
– Graduação alcoólica: 5.2%
– Nota: 3.60/5
BrewLab Haze Baze Coconut Flea
– Produto: New England American Pale Ale
– Nacionalidade: Rio de Janeiro, RJ
– Graduação alcoólica: 5.6%
– Nota: 3.73/5
BrewLab Haze Baze Citrus Beatles
– Produto: New England American Pale Ale
– Nacionalidade: Rio de Janeiro, RJ
– Graduação alcoólica: 5.6%
– Nota: 3.80/5
Leia também
– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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