por Marcelo Costa
Abrindo uma nova série de cervejas nacionais por Blumenau com mais uma Hemmer a passar por aqui (após a Emma Weizen, a Angela Witbier e a Blumenau IPA), que desta vez retorna ao site com sua primeira Single Hop, a Double IPA HBC 472, que utiliza esse lúpulo novíssimo. De coloração dourada com creme branco espesso de boa formação e retenção, a Hemmer Double IPA HBC 472 apresenta um aroma com notas que combinam suave herbal, um toque frutado que remete a lichia e uva verde além de caramelo discreto, panificação e coco. Na boca, balinha de coco no primeiro toque seguido de herbal leve, frutado suave (lichia e uva verde) e percepção dos 8% de álcool, mas não de uma maneira que incomoda. Os 70 IBUs marcam presença de maneira suave, sem castigar demais o bebedor, que já tem um lúpulo diferenciado para apreciar. A textura é suave e levemente picante com bastante herbal e álcool sobre a língua. Dai pra frente, uma Double IPA bem alcoólica (olha a redundância), com coco muito mais presente no paladar do que no aroma e sutil herbal que marca todo o passeio. No final, herbal e coco. No retrogosto, mais herbal, mais coco e leve álcool. Diferente e muito boa!
A segunda da Hemmer é uma Catharina Sour com framboesa e hibisco que apresenta uma bonita coloração avermelhada com creme branco de tons vermelhos de boa formação e rápida dispersão. No nariz, sugestão de frutas vermelhas (sem parecer artificial, o que já é algo a se comemorar) aliada a percepção suave de acidez. Na boca, acidez leve no primeiro toque seguida de frutas vermelhas e mais acidez. Os 3 IBUs denotam uma cerveja sem nenhum amargor, e cumprem, deixando todo o caminho aberto para a acidez, que faz uma festa sobre a língua, numa textura leve pinicante e efervescente. Dai pra frente, esse suquinho de frutas altamente refrescante com 4.5% de álcool segue valorizando as frutas com a acidez, em segundo plano, passando uma vassoura em tudo. No final, frutas vermelhas e acidez. No retrogosto, adstringência e refrescancia. Gostosinha, viu.
De Santa Catarina para Minas Gerais, mais precisamente a capital Belo Horizonte, casa da Wäls, que retorna ao site primeiramente com sua Session Free, uma cerveja sem álcool com lúpulo Citra, inspirada em um dos sucessos da carta da Wäls, a Session Citra. De coloração dourada com creme branco de boa formação e retenção, a Wäls Session Free apresenta um aroma que combina sugestão de cereais (sempre presente e dominante no estilo), feno e cevada com leve presença cítrica. Há, ainda, percepção de frescor. Na boca, herbal discreto no primeiro toque seguido de presença assertiva de cereias e quase nada de cítrico. O amargor é baixo, mantendo-se no padrão das lagers tradicionais (na casa dos 15 IBUs). A textura é leve. Dai para frente, uma interessante “non alcoholic beer” nacional. No final, herbal e amargozinho. No retrogosto, cereais e refrescancia.
A segunda da Wäls é mais um do clube MadLab, e surge para ser um dos destaques entre os mais de 30 rótulos já lançados pela cervejaria nesse projeto. Trata-se da Celeiro do Vale, uma Gueuze que nasce da utilização de um mix de leveduras em um conjunto que descansou dois anos refermentando em dorna de carvalho americano. De coloração dourada levemente âmbar com creme branco de boa formação e baixa retenção (tradicional do estilo), a Wäls MadLab Celeiro do Vale exibe um aroma deliciosamente arisco com sugestão de couro, celeiro, feno, madeira, tudo facilmente distinguível. Na boca, a aridez do estilo chega antes no primeiro toque trazendo consigo leve amadeirado. Na sequencia, azedume moderado, acidez leve, doçura de trigo distante mais couro e celeiro. Amargor não é levado em conta aqui, afinal o azedume dá as cartas, e ele é moderado e delicioso, perpassado por toques de madeira. Já a textura é cremosa e levemente frisante. Dai pra frente, uma bela Wild belga feita em Minas Gerais, mostrando mais uma vez que a Wäls se dá muito bem em receitas belgas (e nem tanto em receitas em made in USA). No final, acidez moderada e uma leve doçurinha de caramelo logo escondida pelo azedume, que se estende ao retrogosto, amadeirado. Delicia.
De Belo Horizonte para Ribeirão Preto com mais uma Colorado da série Brasil com S, dessa vez a de número 9, uma American Wheat que recebe adição do fruto amazônico cupuaçu, combinado com o lúpulo El Dorado. O resultado é uma cerveja de coloração amarela mais para o dourado do que para o palha (ainda que apresente traços do segundo) e creme branco de boa formação e média retenção. No nariz, cupuaçu, mas muito cupuaçu. Apenas a intensidade do primeiro impacto é possível perceber doçura de malte, sutil remissão a feno e sugestão de cereais. Na boca, um replay perfeito do que o aroma adianta: cupuaçu varrendo tudo no primeiro toque, mas, conforme a cerveja vai se aconchegando, deixa perceber o trigo e sua doçura. Não há sensação de amargor (a casa diz 15 IBUs, mas poderia muito bem ser 0) e a textura é leve, ainda que se perceba uma discreta suavidade (e muito cupuaçu sobre a língua). Dai pra frente, uma American Wheat Fruit Beer com muito cupuaçu, deliciosa e altamente refrescante. No final, cupuaçu. No retrogosto, refrescancia… e cupuaçu. Curti bastante.
A segunda da Colorado é a número 10 da série Brasil com S, uma Session IPA com tangerina, uma cerveja que na taça apresenta uma coloração dourada levemente turva com creme branco de boa formação e retenção. No nariz, notas cítricas à frente com tangerina em destaque, mas também presença suave de cereais, pão de forma e biscoito, além de laranja. Na boca, frutado cítrico marcante no primeiro toque seguido de afirmação de tangerina e laranja, que ganham impacto, e trazem consigo um amargor moderado, mas interessante, 40 IBUs que não assustam, mas fazem o serviço com elegância. A textura é leve, mas com uma leve suavidade marcante. Dai pra frente, o conjunto privilegia as notas cítricas sem esquecer o amargor e a refrescancia, uma cerveja leve com 4.8% de álcool que, caso fosse de linha, seria bastante indicada para o calor do verão, pois oferece sabor e frescar na medida certa. No final, notas cítricas e um amarguinho sutil. No retrogosto, refrescancia.
Mantendo-se no interior de São Paulo, mas saindo de Ribeirão Preto em direção a Araras, cidade que abriga a cervejaria Hausen Bier, que retorna ao site primeiro com sua American Pale Ale 7 Lúpulos, cuja receita blenda os lúpulos Apollo, Cascade, Centennial, Columbus, Chinook, Citra e Simcoe. De coloração dourada com leve sugestão de âmbar e creme branco de ótima formação e retenção, a Hausen Bier American Pale Ale 7 Lúpulos apresenta um aroma explosivo que combina frutado cítrico (tangerina), discreto herbal (pinho e mate) e leve remissão a frutas vermelhas. Há doçura perceptível (mel), mas distante. Na boca, tangerina no primeiro toque seguido de geleia de morango, mate, pinho e mel. O amargor é potente, 40 IBUs ariscos. Já a textura é picante no começo e vai se tornando cremosa. Dai pra frente, uma APA quase IPA, arisca e deliciosa. No final, tangerina, mel e amargor. No retrogosto, adstringência leve, mel, amargor. Bela cerveja!
A outra Hausen Bier é a IPA da casa, uma cerveja de coloração âmbar alaranjada com creme bege clarinho, praticamente branco, de ótima formação e retenção. No nariz, a doçura de caramelada brilhando entre notas cítricas (com leve predominância de maracujá) e florais entrega uma Caramel IPA. Na boca, doçura cítrica discreta no primeiro toque seguida de doçura de caramelo, discreto toque de café e amargor potente, 60 IBUs que perdem um pouco de sua força devido a presença exagerada de doçura maltada, que carameliza tudo que vê pela frente. A textura é meladinha e cremosa. Dai pra frente, uma típica Caramel IPA, em que os lúpulos lutam bravamente para tentar levar o conjunto a algum lugar, mas o malte caramelo os sufoca sem dó nem pena. No final, caramelo e amarguinho. No retrogosto, caramelo e amarguinho.
De Araras para Várzea Paulista com uma linha especial lançada pela cervejaria Dádiva em 2019, a Orchid, inspirada na cidade das orquídeas que abriga a fábrica, e que chegou ao mercado com cinco rótulos. Aqui seguimos com dois, o primeiro deles uma Session IPA de coloração amarela, dourada, com creme branco espesso de ótima formação e retenção. No nariz, aroma levemente cítrico sugerindo laranja lima colhida da árvore – com destaque para notas que destacam casca. Na boca, frutado cítrico delicioso no primeiro toque seguido de mais sugestões de laranja lima, um suquinho agradável sem tanto amargor, algo que não deve passar os 25 IBUs – e nem precisa. A textura é leve e dai segue uma Session IPA que honra o estilo e pode ser bebida de litros, pois combina um equilíbrio de amargor, lee textura e apenas 4.5% de álcool, conjugando sabor e drinkability. No final, frutado cítrico bem suave. No retrogosto, laranja lima. Delicinha.
A segunda Orchid é a Witbier da casa, cuja receita recebe as tradicionais adições de extrato de coentro e extrato de casca de laranja. Ela apresenta uma coloração amarelo palha levemente dourada que fica no meio do caminho entre a Hoegaarden e a Blue Moon, duas wits famosas e bem diferentes – neste caso, o conjunto da Orchid Witbier tende levemente a escola belga. O creme é branco e de boa formação. No nariz, aromas refrescantes que entregam os itens adicionados (coentro e casca de laranja) combinados com cereais e doçura leve maltada. Na boca, coentro e doçura no primeiro toque abrindo pra percepção delicada de casca de laranja e bastante refrescancia. O amargor é baixíssimo, coisa de 10 IBUs, e a textura, levíssima. Dai pra frente, uma Witbier bastante equilibrada, com todos os ingredientes de destaque brilhando e auxiliando no bem maior da receita: a refrescancia. O final é temperadinho e levemente cítrico. No retrogosto, refrescancia. Delicinha (2)
Mantendo-se ainda no estado de São Paulo, mas saindo do interior em direção a capital, primeiro com duas da cervejaria Trilha produzidas em seu taproom no bairro da Pompeia. A primeira é Uppumaango, uma Juicy Sour Gose com adição de manga. De coloração amarela turva, juicy tal qual um suco de laranja, com creme branco de média formação e retenção, a Trilha Uppumaango traz muita fruto ao nariz, com destaque para maracujá, laranja e manga. A acidez também é antecipada pelo aroma. Na boca, manga deliciosa no primeiro toque seguida de traços de maracujá e laranja e, então, acidez marcante. Não há amargor aqui, mas uma pancada de acidez que faz a boca salivar loucamente. Até por isso, a textura sobre a língua também é intensa, pinicando tudo. Dai pra frente, uma interessante Sour frutada, que finaliza com muito maracujá e manga e retorna com um punhado de adstringência, deixando no final muita refrescancia. Delicinha. (3)
A segunda da Trilha é mais uma do clube Ultrafresco da cervejaria, e saiu em janeiro direto do tanque para a casa dos associados. Trata-se da Double Citra-Me, uma poderosa Juicy IPA Single Hop de coloração amarela turva, juicy como um suco de laranja, e creme branco espesso de ótima formação e média alta retenção. No nariz, frutado cítrico intenso sugerindo laranja lima bem docinha e melão. Há, ainda, um floral discreto delicioso e nada que entregue os potentes 8.5% de álcool. Na boca, frutado cítrico para dar e vender, muita sugestão de laranja desde o primeiro toque, e seguindo acompanhando o bebedor caminho a frente. Há, ainda, doçura frutada deliciosa, incrível. O amargor é baixinho, não chega a 40 IBUs amaciados pelo frutado incrível. A textura é cremosa e levemente picante. Dai pra frente, uma Double IPA de perigoso drinkability, muito sabor e muito frutado cítrico (e muito álcool, ainda que ele não apareça tanto). No final, laranja. No retrogosto, mais laranja e refrescancia. Uau.
Mantendo-se na capital paulista com outra cervejaria que produz receitas em seu próprio taproom, a Dogma, caso das três cervejas que seguem. A primeira é a ½ Rizoma, uma American Pale Ale cuja receita se inspira na Rizoma original, um dos cavalos de batalha da cervejaria, que aqui surge numa versão mais comportada, Session, de 4.5% de álcool e oferecendo leveza e conforto. De coloração amarela turva, juicy como um suco de caju (talvez a levedura não seja a mesma da Rizoma original), e creme branco espesso de ótima formação e retenção, a Dogma ½ Rizoma apresenta um aroma com bastante frutado cítrico, tropical e floral com percepção de levedura. Na boca, doçura cítrica no primeiro toque seguido de amargor e resinoso potentes, que riscam a garganta conforme o líquido desce. A textura é cremosa e picante (de levedura) e, dai pra frente, segue-se uma cerveja potente e adorável, de alto drinkability e muito sabor. No final, frutado tropical e resina sutil. No retrogosto, frutado, amargor e refrescancia. Uma delicia!
A segunda cerveja da Dogma produzida no taproom da marca, no bairro de Santa Cecilia, é a Mandrakia, uma Double India Pale Ale que combina os maltes Simcoe e Nelson Sauvin com um mix exclusivo de leveduras. De coloração dourada levemente turva com creme branco de ótima formação e retenção, a Dogma Mandrakia apresenta um aroma delicioso que combina um leve frutado cítrico com doçura de mel, uma pegada suave de anis e presença discreta, mas marcante de levedura (e também dos 7.7% de álcool). Na boca, doçura no primeiro toque seguida de frutado cítrico médio no paladar, delicioso e com uma presença sutil de anis. O amargor é marcante, algo em torno dos 60 IBUs, e delicioso. Já a textura é suave e picante, prevendo mais álcool do que o conjunto tem. Dai pra frente, uma Double IPA caprichada, com as leveduras puxando a responsa pra si, e impressionando, mas principalmente o Nelson Sauvin inserindo características deliciosas no conjunto. No final, doçura e condimentação. No retrogosto, picância, doçura, álcool e frutado cítrico. Delicinha.
Fechando a série com a terceira cerveja da Dogma produzida no bairro de Santa Cecilia, a Hysteria, uma Triple IPA com 11.7% de álcool carregada de (lúpulos) Mosaic e Simcoe. De coloração amarela bastante turva, juicy como um suco, e creme branco espesso de ótima formação e permanência, a Dogma Hysteria apresenta um aroma que é uma pancada tropical, com percepção de manga e laranja além de doçura e álcool, bastante sutil. Na boca, doçura frutada tropical no primeiro toque abrindo-se de maneira incrível com remissão primeiro à manga e depois à laranja até a pancada de resina (no entanto, sem muito amargor, com doçura presente), que serve para equilibrar o conjunto (esse Empire State Building alcoólico). A textura é suave e bastante picante, com o álcool sambando sobre a língua sem, no entanto, incomodar o cliente. Dai pra frente uma cerveja extrema e perigosamente deliciosa, com o frutado tropical, a resina e o álcool deixando o bebedor em estado de êxtase. No final, cítrico, resina bem suave e calor alcoolico, que se emenda ao retrogosto, que ainda traz mais frutado tropical e calor. Uau.
Hemmer Double IPA HBC 472
– Produto: Double IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 3.44/5
Hemmer Catharina Sour Framboesa e Hibiscus
– Produto: Catharina Sour
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.8%
– Nota: 3.31/5
Wäls Session Free
– Produto: Sem Álcool
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 0.0%
– Nota: 3.01/5
Wäls MadLab Celeiro do Vale
– Produto: Gueuze
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5.7%
– Nota: 3.88/5
Colorado Brasil com S – American Wheat com Cupuaçu
– Produto: American Wheat
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.6%
– Nota: 3.33/5
Colorado Brasil com S – Session IPA com Tangerina
– Produto: Session IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.8%
– Nota: 3.35/5
Hausen Bier APA 7 Lúpulos
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3.50/5
Hausen Bier IPA
– Produto: American India Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6.5%
– Nota: 3.10/5
Orchid Session IPA
– Produto: Session IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 3.36/5
Orchid Witbier
– Produto: Witbier
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3.36/5
Trilha Uppumaango
– Produto: Sour
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3.59/5
Trilha Double Citra-Me
– Produto: Double India Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 8.5%
– Nota: 4.01/5
Dogma ½ Rizoma
– Produto: American Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 4.01/5
Dogma Mandrakina
– Produto: Double IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 7.7%
– Nota: 3.52/5
Dogma Hysteria
– Produto: Triple IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 11.7%
– Nota: 4.04/5
Leia também
– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)