Texto por Paulo Pontes
Fotos por Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts
Sábado, 21 de setembro de 2019. Cinco bandas, mais de sete horas repletas de clássicos do rock e heavy metal. Assim foi a primeira edição do Rockfest, no Allianz Parque, em São Paulo, que, segundo a produtora do evento, a Mercury Concerts, veio pra ficar. Que assim seja!
O primeiro ponto positivo do festival foi a pontualidade das apresentações, seguindo a risca os horários divulgados para cada show. A abertura do evento ficou a cargo dos brasileiros do Armored Dawn, que fez boa parte do público presente na Pista Premium — área em que era possível avistar muitas pessoas com camisetas da banda —, cantar os coros de suas músicas. Com seu viking metal, os brasileiros fizeram um show pesado, enérgico e consistente. Durante a execução de “Sail Away” rolou uma homenagem especial ao maestro Andre Matos. Momento emocionante.
Após uma breve pausa, eis que surge no palco a primeira atração internacional: os suecos do Europe. Desde a abertura com a ótima e pesada “Walk The Earth” até o encerramento com a clássica “The Final Countdown”, o quinteto mostrou muita competência e colocou o público para cantar junto. O vocalista Joey Tempest tem uma excelente presença de palco e se mostra um grande frontman, conversando com a plateia e até arriscando um palavrão em português.
Outro destaque é o guitarrista John Norum, que continua com a técnica em dia, executando riffs e solos com maestria. Como já era de se esperar, os pontos altos foram “Rock the Night”, a balada “Carrie”, “Cherokee” e a já citada “The Final Countdown”. Uma hora de show foi pouco para os suecos, mas em um festival, principalmente com as bandas de abertura, não dá para exigir muito.
Quando o Rockfest foi anunciado, entre as bandas divulgadas estava o Megadeth, que também tocaria no Rock in Rio. Entretanto, após o vocalista Dave Mustaine vir a público com a notícia de que teria que dar um tempo nos shows para tratar um câncer na garganta, o Helloween foi escolhido para assumir as datas que seriam do Megadeth no Brasil. E, apesar da triste notícia referente à saúde de Dave Mustaine, a escolha pelo Helloween foi extremamente acertada.
Os alemães vivem um dos melhores momentos da carreira desde que o guitarrista Kai Hansen e o vocalista Michael Kiske retornaram ao grupo. Agora contando com sete integrantes, entre eles dois vocalistas (Andi Deris e Kiske), além de Kai que assume os vocais em faixas da primeira fase da banda, os shows têm sido pura diversão, tanto no palco quanto para os fãs. Uma verdadeira celebração. E não foi diferente no Rockfest. O show da banda eram um dos mais aguardados pelo público que marcou presença no Allianz Parque.
A apresentação é uma festa e o mestre de cerimonias é Andi Deris. O vocalista é o que mais interage com o público, mas todos da banda dão um show no palco, seja nas performances ensaiadas ou nos momentos de maior descontração. Michael Kiske continua cantando que é um absurdo, apesar de ser menos carismático que seu parceiro de voz.
A banda conseguiu muito reduzir um setlist que tem sido de mais de duas horas pela metade. É claro que faltaram clássicos, como, por exemplo, “March of Time”, “Halloween” e “Sole Survivor”, mas a banda fez bonito em faixas como “Dr. Stein”, “Eagle Fly Free”, “A Tale That Wasn’t Right” (nessa o destaque ficou para o público que, a pedido de Kiske, iluminou todo o estádio com as luzes de seus celulares), “Perfect Gentleman” e “I Want Out”, que encerrou o show com bolas laranjas e pretas espalhadas pelo público e muito papel picado saindo do palco.
Em determinado momento da apresentação, o animado Andi Deris também se lembrou do motivo por estarem ali e pediu para que os presentes mandassem energias positivas a Dave Mustaine. Um detalhe interessante é que esta foi a primeira vez que o Helloween tocou no mesmo palco que seus conterrâneos, Scorpions. Noite histórica!
Mais uma breve e programada pausa antes de David Coverdale e sua trupe invadirem com tudo o palco do Rockfest. Era o momento de o público presenciar um dos maiores frontman de todos os tempos. Coverdale estava extremamente à vontade no palco, principalmente na passarela que o aproximava ainda mais dos fãs.
O vocalista passou a maior parte do show naquela região do palco, para a alegria dos presentes, e deu um verdadeiro show performático, com caras e bocas e uma habilidade ímpar com o pedestal na mão. Sua voz já não é a mesma há anos, isso é inegável, mas o vocalista se esforça ao máximo para manter o show lá em cima. Vale ressaltar que ao final de uma apresentação de pouco mais de 75 minutos sua voz já estava se esgotando, mas ele segurou as pontas.
O atual Whitesnake é sensacional! Se o baixista Michael Devin e o tecladista Michele Luppi são mais contidos, porém não menos competentes, os guitarristas Joel Hoeskstra e Reb Beach e o baterista Tommy Aldridge dão um show de presença de palco e técnica em seus instrumentos. O entrosamento da dupla de guitarras é impecável e o baterista Tommy Aldridge é um monstro insano atrás de seu kit. O solo de bateria do cara, que inclui um já conhecido momento em que toca com as mãos, sem as baquetas, foi um dos destaques, claro. Como mostra vitalidade, mesmo próximo aos 70 anos de idade. Impecável!
Coverdale e banda presentearam os fãs com seus grandes clássicos, como “Bad Boys”, “Love Ain’t No Stranger”, ‘Is This Love” e “Here I Go Again”, mas abriram espaço para “Burn” (da fase em que Coverdale esteve à frente do Deep Purple) também apresentaram a força das excelentes “Hey You (You Make Me Rock)”, “Trouble Is Your Middle Name” e “Shut Up & Kiss Me’, faixas do bom ‘Flesh & Blood’, disco lançado este ano pelos britânicos e no qual David Coverdale coloca sua voz em tons mais adequados para seu atual momento. A banda encerrou a apresentação com a Clássica Burn do Deep Purple. Showzaço!
Mais um intervalo e a Mercury Concerts aproveitou para anunciar nos telões um de seus próximos shows. A produtora confirmou que a The End of the Road Tour, turnê de despedida do Kiss, passa pelo Brasil em maio de 2020, para alegria dos fãs.
Com alguns minutos de antecedência do horário previsto, eis que o Scorpions, headliner do festival, entra no palco com “Going Out With a Bang”, faixa presente no disco “Return To Forever”, lançado em 2015. Foi um show curto para um headliner: pouco menos de uma hora e meia, que ainda contou com um longo solo de bateria de Mikkey Dee (ex-Motorhead). Mas foi suficiente para mostrar a força que os alemães ainda possuem.
A banda intercalou suas baladas com alguns clássicos mais pesados e entregou um show competente. Um detalhe que pode ter incomodado que estava mais longe do palco foi o excesso de efeitos utilizados nos telões, prejudicando que todos vissem a banda em ação. Os destaques ficaram para “Wind of Change”, que sempre é cantada em uníssono, “Blackout” e o encerramento com “Rock Like a Hurricane”.
No geral, o saldo deste primeiro Rockfest foi extremamente positivo. Um sábado que com certeza fez a alegria dos fãs da música pesada. Esperamos que o festival realmente tenha vindo para ficar, como prometido.
– Paulo Pontes é colaborador do Whiplash, assina a Kontratak Kultural e escreve de rock, hard rock e metal no Scream & Yell. É autor do livro “A Arte de Narrar Vidas: histórias além dos biografados“.
Excelente resenha!
Também tenho a mesma impressão sobre a performance do Tommy Aldridge e da atual dupla de guitarras do Whitesnake.
Pô, eu como em todo intervalo eu ia pra sala de imprensa, não vi a divulgação do show do Kiss no Brasil em 2020!
Acabei de ficar sabendo pelo texto.
Parabéns, Paulo!