Resenhas por Renan Guerra
“Shea Butter Baby”, Ari Lennox (Dreamville Records)
Com 28 anos, a norte-americana Ari Lennox lança agora seu debute, “Shea Butter Baby”, e já insere seu nome ao lado de uma excelente safra de jovens cantoras negras que estão remodelando e reconstruindo os significados de R&B nos anos 2010. Com claras referências de gente como Erykah Badu, D’Angelo e Minnie Riperton, Ari chamou a atenção de J Cole, que a chamou para seu selo, o Dreamville Records, por onde seu disco está sendo lançado. “Shea Butter Baby” é um disco sobre sexo e amor, não necessariamente os dois juntos e, por isso mesmo, mostra o trabalho de uma compositora que consegue trazer uma visão muito particular sobre sua própria sexualidade e seu prazer. Canções como “Chicago Boy” e a faixa-título (com participação de J Cole) são amostras da poesia de Ari e como a sexualidade é um tema tratado com naturalidade pela artista. Relações virtuais dão o tom em “Facetime”, assim como o Tinder aparece na genial “I Been”; já a relação entre sexo e amor dá o tom de “Pop”, que parece quase uma canção de ninar em seu minimalismo. A produção do disco é delicada e consegue desenvolver esse universo sensual sem necessariamente cair em chavões do gênero, trazendo um frescor as canções, uma delicadeza que em muitos momentos casa e se choca de forma interessantíssima com a voz rasgada da cantora. “Shea Butter Baby” é um discão que prova que Ari Lennox deve ficar em nosso radar.
Nota: 8
“Cuz I Love You”, Lizzo (WEA International)
Poucas artistas podem se orgulhar de ter tantos talentos quanto Lizzo: com 31 anos, nascida em Detroit, ela tem voz de cantora de R&B, porém também faz rimas fortes de rapper, tanto que participou de diferentes grupos de hip-hop, já fez tour com o Haim e o Florence and The Machine e ainda tem um feat. com ninguém menos que Prince. Para além de tudo isso, ela ainda consegue tocar flauta e fazer twerk praticamente ao mesmo tempo. “Cuz I Love You” é seu terceiro disco e apresenta uma artista completamente ciente de sua força e de sua importância, por isso mesmo toda a aparente bagunça do disco se justifica na persona de Lizzo, que consegue passear entre as baladas românticas, o rap e os singles pops de forma coerente. É maravilhoso vê-la celebrando mulheres fundamentais, como Serena Williams, Lauryn Hill e as garotas do TLC em “Like a Girl”, mostrando seu vozeirão na faixa-título, sua força de rapper ao lado de Missy Elliot em “Tempo”, ou mesmo sua força pop no hit “Juice”. Negra e gorda, Lizzo já sofreu com diferentes questões sobre seu próprio corpo e sua auto-imagem, por isso é de celebrar a sua leveza e seu carisma ao tratar de sua própria sexualidade em canções como “Jerome” ou “Lingerie”. Lizzo é artista pop de primeira grandeza e precisa ser valorizada enquanto isso. “Cuz I Love You” vale audição atenta – recomendamos inclusive a edição deluxe, com três faixas extras excelentes.
Nota: 9
“Hello Happiness”, Chaka Khan (Island)
Chaka Khan, se quisesse, poderia eternamente ficar fazendo shows de greatest hits e, ainda assim, ninguém reclamaria, pois não é todo mundo que pode ostentar uma carreira tão profícua e interessante como a Rainha do Funk. Mesmo assim, aos 66 anos, Chaka se uniu ao DJ e produtor Swicht para lançar seu 12º álbum, “Hello Happiness”, uma espécie de encontro entre a modernidade e os clássicos. Switch fundou o Major Lazer ao lado de Diplo e trabalhou na produção dos quatro primeiros discos de M.I.A.. Em “Hello Happiness”, ele assina a produção de todas as faixas, assim como Chaka assina a letra de todas as canções, em diversas colaborações. Com menos de 30 minutos, o álbum conecta o funk clássico e a disco dos anos 70 com as pistas da atualidade, flertando com a música eletrônica e provando que a voz de Chaka é atemporal. Faixas como “Like a Lady”, “Hello Happiness” e “Like Sugar” são prontas para a pista, mesmo assim há momentos como “Ladylike”, que mostra o vozeirão de Chaka em uma balada mais romântica, que encerra o disco com gostinho de quero mais. “Hello Happiness” é um disco ótimo para introduzir um novo público no universo e na história de Chaka, por isso deve ser celebrado, já que é extremamente inspirador ver uma mulher tão forte como ela em plena forma, desfilando energia e criatividade, sem se mostrar desconectada de seu tempo – que é o hoje, o agora.
Nota: 9,5
– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Também colabora com o site A Escotilha.