Texto por Renan Guerra
Fotos por Fernando Yokota
“Em Trânsito”, o mais recente projeto de Lenine, era show, virou disco e DVD, e agora segue seu caráter de obra viva na estrada. No último sábado de abril, Lenine e sua banda subiram ao palco da Casa Natura Musical para apresentar mais uma vez o projeto e mostrar a força de um artista que aos 60 anos segue esbanjando jovialidade e encantando plateias. Já conversamos com Lenine aqui no Scream & Yell e lá ele falava sobre a mudança e o crescimento que suas canções atingiam em cada novo show, por isso é tão simbólico vê-lo ao vivo agora.
Casa lotada, com ingressos esgotados, até que Lenine sobre ao palco sozinho e começa com “Leve e Suave”, enquanto a plateia vai se aquietando e dando atenção total ao cantor. Enquanto ele canta delicadamente, sua banda vai se ajeitando nos instrumentos, até que todos juntos estouram com a bela “Sublinhe e Revele”. Para quem ouviu a versão do disco gravado também ao vivo em “Em Trânsito”, é interessante ver como as canções soam ainda mais coesas e intensas no show, maturidade trazida pela estrada.
O disco “Em Trânsito” ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa e esse prêmio é validado de forma simbólica no palco. Acompanhado de Jr. Tostoi (guitarra), Guila (baixo), Pantico Rocha (bateria) e Bruno Giorgi (guitarra), Lenine faz é um showzaço de rock, com distorções, delays e muito barulho, o que fez a plateia da Casa Natura pular e gritar. É um show de rock que faz dançar, um show que desvirtua a verve MPB a qual Lenine é muitas vezes associado. Um show alto e intenso, tanto que as canções mais calmas parecem sempre destoar. Quando Lenine canta mais calmo, mais baixinho, o público ainda ficava irrequieto, até conseguir se acalmar novamente. “Virou Areia”, “Rua de Passagem (Trânsito)” e “Alzira e a Torre” são momentos fortes, em que o público canta junto, pula e dança.
“Relampiano”, lá do disco “Na Pressão” (1999), é um outro momento mais delicado, em que Lenine canta sozinho no palco e mesmo assim encanta. A plateia sabia todas os versos da faixa e na hora via-se um mar de celulares apontados para o cantor a fim de registrar a canção. “Se Não For Amor Eu Cegue”, do disco “Chão” (2011), também ganha interessante arranjo nesse novo esquema, bem como “Tubi Tupy”, também do “Na Pressão”, que aparece aqui em versão bem mais roqueira, sem as intervenções eletrônicas de seu arranjo original.
É interessante notar que esse não é um show óbvio, que reside no passado, muito pelo contrário: é um show extremamente atual e bastante contundente, em que Lenine se mostra extremamente criativo e pulsante, mas para além disso, é bonito ver como o público dele pede por isso e sabe cantar as novas músicas a plenos pulmões, do mesmo modo que canta os clássicos. Em certo momento da noite, Lenine disse “eu falo pouco aqui, por que o que eu gosto e sei fazer é cantar”, e é isso mesmo, um show sem muito papo, canção atrás de canção, com uma sinceridade emocionante. Lenine termina o show encharcado de suor, pois “Em Trânsito” não é um show quadradinho, mas sim algo vibrante, que exala energia e nos deixa renovados enquanto público.
– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Também colabora com o site A Escotilha.
– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: http://fernandoyokota.com.br/