por Marcelo Costa
“Lady Bird – A Hora de Voar”, de Greta Gerwig (2017)
Indicado a cinco Oscars, “Ladybird” narra as desventuras de Christine “Lady Bird” McPherson (Saoirse Ronan, excelente), uma adolescente que vive em Sacramento, a capital da Califórnia, ainda que todos só lembrem de Los Angeles, São Francisco e São Diego. Os McPhersons lutam para dar aos filhos um futuro estável, mas Lady Bird quer mais do que a família classe média tem condições de bancar. De personalidade forte, a wannabe Lady Bird (que se batizou assim “aposentando” o nome escolhido pelos pais) briga diariamente com a mãe, Marion (Laurie Metcalf é o grande nome do filme, merecidamente indicada ao Oscar), e planeja voar para longe (numa citação do subtítulo dispensável). Das regras não descritas pela Academia deve constar uma clausula que obriga a presença de ao menos uma (1) produção indie na seleção do ano. Só isso explica “Ladybird” entre os finalistas – e a ausência de “Mudbound” na lista principal. E não é que “Ladybird” seja um filme ruim, imagina, é um bom filme, mas de bons filmes o inferno está cheio. A estreia da atriz Greta Gerwig (“Frances Ha”) na direção é um bonito “come of age” com requintes autobiográficos, um acerto de contas de Greta com sua mãe e com sua cidade (de interior) natal, e, mesmo já tendo sido feito zilhões de vezes, é importante por mostrar que o enfrentamento no seio familiar é possível (quando você está lá, parece que não) e que sair de casa abre um universo de possibilidades, boas e más, que cabe a cada um aprender como enfrentar. É sempre bacana ter um filme com um recado assim em destaque, mas um exagero coloca-lo na lista principal tanto quanto indicar Greta em Melhor Direção, uma honraria que seria muito mais justa, por exemplo, a Agnès Varda por “Visages Villages”. Desta forma, fuja das expectativas e não espere de “Lady Bird” um filme indicado ao Oscar. Espere um bom filme. Ele entrega isso.
Nota: 7.5
“Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississippi”, de Dee Rees (2017)
Indicado a quatro Oscars (mas ausente da categoria principal), “Mudbound” é um belo épico independente que teve seus direitos de distribuição em alguns mercados comprados pela Netflix, incluindo EUA (no Brasil, os direitos foram adquiridos pela distribuidora Diamond Films). Adaptado do premiado romance de mesmo nome lançado pela escritora Hillary Jordan em 2008 (aliás, se você gostou de “O Conto da Aia” vá atrás de “Quando Ela Acordou”, distopia lançada por Hillary em 2011), “Mudbound” foca em duas famílias vivendo no delta do Rio Mississipi nos anos 40, uma branca e a outra negra. Os McAllans mudam-se para lá quando Henry (Jason Clarke) compra uma fazenda na área rural e leva a esposa Laura (Carey Mulligan) e o pai (Jonathan Banks). Os Jacksons já trabalhavam na fazenda, com o casal Hap (Rob Morgan) e Florence (Mary J. Blige) dedicando o coração a uma bela família, e começa então um difícil relacionamento numa região ainda marcada intensamente pelo racismo – com a Ku Klux Klan assombrando a todos. As duas famílias cederam um ente para o exército aliado, e o retorno deles após a queda de Hitler os aproxima, ainda que ninguém na cidade veja com bons olhos a aproximação amigável de um homem branco e de homem negro, o que trará problemas para ambos. Com fotografia esplendorosa (da primeira mulher indicada ao Oscar na categoria: Rachel Morrison), um roteiro cuidadoso (também indicado) que consegue dar ao espectador ideia de tudo que move cada um dos personagens aprofundando-os de maneira exemplar, e grandes atuações (a cantora Mary J. Blige foi a única indicada – como Melhor Atriz Coadjuvante – mas todo o elenco honra o filme), “Mudbound” é daqueles filmes impecáveis em todos os quesitos que formam uma grande produção, que merece ser vista no cinema, e revista em casa. Várias vezes.
Nota: 9
“Eu, Tonya”, de Craig Gillespie (2017)
Patinadora artística, Tonya Harding disputou por duas vezes os Jogos Olímpicos, foi campeã norte-americana em 1990 e conquistou a medalha de prata no Campeonato Mundial de 1991. Sua carreira, porém, foi interrompida aos 24 anos quando ela foi acusada de participar de uma conspiração que culminou em um ataque a adversária Nancy Kerrigan, que teve o joelho ferido. A vida “real” pode ser muito mais maluca (inventiva ou mesmo criativa) do que a arte, e caso “I, Tonya” não fosse inspirado em eventos reais, poderia muito bem ser taxado de inverossímil (ainda que duvide-se que tudo aquilo ali aconteceu… realmente do jeito que é contado), mas o que se vê em 120 minutos de exibição é uma produção divertidamente e tragicamente acelerada (com grandes méritos para a Edição, indicada ao Oscar) que se utiliza da constante quebra da quarta-parede para colocar o espectador ao lado de Margot Robbie (numa atuação magistral digna de Oscar ao recriar a personagem principal) numa surreal epopeia esportiva dos tempos modernos, que flagra uma grande atleta (“caipirona”, segundo juízes, que não queriam uma garota “chucra” representando os Estados Unidos, mesmo que seu talento no rinque de patinação fosse inegável) abusada emocionalmente pela mãe (Allison Janney, também indicada ao Oscar) e fisicamente pelo marido. Irmão torto de “A Grande Jogada” (2017) no quesito “os podres bastidores do esporte em níveis olímpicos” ou “o preço que cobramos dos jovens para nos trazer medalhas de ouro”, este “Eu, Tonya” é depressivamente realista e cinematograficamente empolgante, uma descarga imensa de adrenalina, violência (doméstica, social, esportiva, familiar e profissional) e dramatização que, ao final, deixa o gosto amargo de uma poça de sangue na boca.
Nota: 9
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Eu gostei bastante de Lady Bird. E de Call me by your name. E muito muito de Three Billboards Outside Ebbing, Missouri . Espero ver Mudbound e I, Tonya nos próximos dias.
Não entendi foi a indicação de Get out! para melhor filme. Um terror comum, de roteiro previsível, com vários furos e abordando temas desgastados na ficção científica que já são explorados desde a década de 80. Parecia um episódio longo e ruim de Black Mirror, que não coube na temporada 4.
Lady Bird é um dos melhores dramas do ano passado. É impossível não se deixar levar pelo ritmo da historia. Amei o grande elenco do filme, quem fez possível a empatia com os seus personagens em cada uma das situações.