por Marcelo Costa
No tão perto e tão longe século passado, as chamadas grandes gravadoras (majors) foram as maiores responsáveis pela disseminação de milhares de artistas numa equação que, claro, tinha um viés majoritariamente capitalista (já que o intuito final da indústria da música era… vender discos), mesmo em seus momentos mais radicais, mas se permitia produzir Arte (com A maiúsculo) “de vez em quando”. Esse encontro de investimento com potencial artístico rendeu alguns dos grandes discos de todos os tempos, mas a coisa toda mudou no novo século.
A partir da virada do milênio, com a popularização do MP3 e das redes P2P, “a música ficou grátis” (parafraseando o título do bom livro de Stephen Witt) e as grandes gravadoras como um todo, e no Brasil em particular, perderam sua conexão com a música enquanto arte, buscando produzir material para consumo (e lucro) rápido, alegando não haver espaço para correr riscos e criando um fast food musical que renegou o melhor da música brasileira ao underground (uma olhada nas listas de melhores discos dos últimos 10 anos referenda isso).
Se o novo século viu nascer novos ídolos de massa ancorados no tripé midiático tradicional (Majors + TV + Rádio), também permitiu que o cenário independente se estruturasse e, com apoio da internet, começasse a encontrar seu público. Nomes díspares como Liniker, Phil Veras, Emicida, A Banda Mais Bonita da Cidade, Apanhador Só, Cidadão Instigado, Bixiga 70 e Vanguart, entre tantos outros, sedimentaram uma estrada musical sólida, com shows lotados, fãs cantando as canções em coro e um diálogo muito mais estreito com o público.
É nesse momento todo particular da música brasileira que a major Sony Music anuncia o lançamento da coletânea e selo “Novíssima Música Brasileira”, buscando uma reaproximação “do mainstream com o independente”, conforme explica Marcelo Monteiro (do blog Amplificador), responsável pela curadoria e seleção dos 18 artistas presentes no álbum. “Queremos achar um modelo de negócio que funcione para os artistas e para a gravadora”, aprofunda Túlio Brasil, responsável pelo Marketing Digital da Sony Music.
A “Novíssima Música Brasileira” conta com 18 músicas, cinco delas inéditas (três compostas especialmente para a coletânea). “O álbum traz representantes de praticamente todas as cidades com cenas mais atuantes da nova música brasileira, como Natal, Vitória e Aracaju, que se juntam a Rio, SP, BH, Recife e Salvador como usina de novidades”, avisa o release. “São bandas e cantores de rock, afrobeat, nova MPB e grooves da melhor qualidade que lotam shows e festivais por todo país e mesmo assim continuam anônimos para muita gente”.
A escalação da coletânea traz The Baggios e Coutto Orquestra (SE); Nômade Orquestra (SP); Letuce, Mohandas, SereS, Abayomy, Ive Seixas e Zé Vito (RJ), Graveola e o Lixo Polifônico, Iconili e Sara Não tem Nome (MG), cuja foto de Daniel Athayde abre o texto; IFÁ Afrobeat e OQuadro (BA); Fukai (RN); Tagore (PE) mais Fabrício; e Muddy Brothers (ES). O projeto vai virar um selo dentro da Sony com EPs e singles da Nômade Orquestra, Ive Seixas e Iconili já confirmados e parceria com o estúdio Toca do Bandido para gravação de vídeos.
“O projeto é visto com bastante entusiasmo (dentro da Sony)!”, conta Túlio Brasil. “Muitas bandas já eram conhecidas da equipe que trabalha com o digital, mas que a gente nunca teve a oportunidade de trabalhar junto (…). Sempre houve a vontade de trabalhar com essa cena, a dificuldade foi pensar um modelo que fosse vantajoso para o artista e para a gravadora. A coletânea é o primeiro passo”, explica, observando: “É bom pontuar que além do Novíssima, a Sony Music trabalha o digital de dois artistas importantes da cena independente – Selton e Baleia. Dois projetos que a gente se orgulha bastante de ter participado”.
Abaixo você confere o tracking list da coletânea e links para ouvi-la. Fica o desejo verdadeiro de que o selo amplifique o alcance da novíssima música brasileira.
Spotify: http://smarturl.it/Novissima.s
iTunes: http://smarturl.it/Novissima.i
Deezer: http://smarturl.it/Novissima.d
01 – “Cá Estou”, The Baggios
02 – “A Vida vem em Ondas”, Nômade Orquestra
03 – “Babulina’s Trip”, Graveola
04 – “Your Eyes”, Mohandas
05 – “Abelha”, Letuce
06 – “Livre”, Ive Seixas
07 – “Geografia”, Sara Não Tem Nome
08 – “Corre”, Coutto Orquestra
09 – “Obatalá”, Abayomy
10 – “Axé”, IFÁ Afrobeat
11 – “Um Rio”, Fukai
12 – “Vagabundo Iluminado”, Tagore
13 – “Piacó”, Iconili
14 – “Filme”, OQuadro
15 – “Feito Tamborim (Para Céu)”, Fabrício
16 – “Last Chance Trip”, Muddy Brothers
17 – “Não te Interessa”, Zé Vito
18 – “Amigo Reaça”, SereS
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Que dê certo e assim esperamos.Me lembrou um pouco o Chaos,selo que a Sony tinha no anos 90 e começo dos 2000,que infelizmente não foi continuado.Acho que a diferença agora é essa.