por Marcelo Costa
O calendário de festivais gringos está mexendo com os sentimentos de muitos fãs de música ao redor do mundo – Brasil incluso. À frente destaca-se o Primavera Sound, em Barcelona, um dos melhores festivais do mundo, que em 2016 terá Radiohead, Sigur Rós, PJ Harvey, LCD Soundsystem, Brian Wilson, Tame Impala, Air, Beach House, Beirut, Animal Collective, Julia Holter, Savages, The Last Shadow Puppets, Dinosaur Jr., Mudhoney, Cabaret Voltaire, Venom, Kamasi Washington e mais um punhado de artistas somando cerca de 150 nomes.
Pouco depois de anunciado o line-up no final de janeiro, uma piada começou circular tendo o cartaz original como base. Ao invés dos nomes dos artistas, sugiram frases que tentavam jogar a real para brasileiros em época de crise econômica: “O Euro custa 5 Reais – Ingresso 1000 Reais – Você não tem dinheiro – Barcelona é longe – Para de ficar sonhando – Não foi dessa vez mlk – Seu cartão não tem 1000 de limite – Universitário”. Tenso, é verdade, bem tenso. Mas se você for esperar o mundo conspirar a seu favor, esquece: como prega a Lei Murphy, “deixadas à sua própria sorte, a tendência das coisas é ir de mal a pior.” É bom agilizar o lado.
Desta forma, se você tem espaço livre na agenda em junho e anda pensando (sonhando) em ir ao Primavera Sound, vou colocar mais lenha na fogueira. Porque sair do Brasil para passar uma semana em Barcelona, ver o festival e voltar, até vale todo o trampo, mas já que você irá atravessar o Atlântico, por que não estender essas “férias” para 20 dias e encaixar outros DOIS festivais no roteiro. Aviso: não é para principiantes. Fiz isso em 2008 quando vi o Rock Werchter, na Bélgica, na primeira semana; T In The Park, na Escócia, na outra e o Festival de Benicàssim na terceira semana. Em algum momento parei de sentir as pernas (risos).
Ainda assim foi absolutamente inesquecível. Vi o Sigur Rós engolir o Radiohead (quatro dias depois eles se recuperariam em Berlim), Neil Young entrar no palco simulando gestos de Jay-Z (que havia tocado pouco antes), Grinderman e R.E.M. impecáveis na Bélgica; na Escócia, presenciei o drama de Amy Winehouse, a festa do Pogues, Vampire Weekend começando a ser grande e R.E.M., de novo, impecável; na Espanha teve o esporro do Raconteurs, lágrimas no Leonard Cohen, Spiritualized e My Bloody Valentine deixando todo mundo surdo, National começando a ser grande, e Morrissey, Kills, Babyshmables, Gnarls Barkley, Sigur Rós…
Em 2016, uma das coisas que mais chama a atenção no Primavera Sound é que muita gente chegará ao festival com discos novos debaixo dos braços: Radiohead, LCD, PJ Harvey, Savages, Last Shadow Puppets… música fresca! E outro ponto a favor do festival catalão é ser um festival urbano, tal qual era o Planeta Terra, que busca se conectar com a cidade – não é a toa que há uma programação gratuita de shows no bairro (barra pesada) El Raval. Ou seja: você vai ao festival e vai conhecer Barcelona, um das cidades mais tudo de bom no mundo – se possível, guarde dois ou três dias e estique até Madrid para visitar os museus (obrigatório).
Dai você pensa: legal, tô indo para o Primavera Sound ver uns 20 shows (se muito), e de lá para onde eu poderia ir? Bem, na semana seguinte ao Primavera Sound acontece dois festivais muito bacanas: o Isle of Wight, de 09 a 12 de junho na Inglaterra; e o PinkPop, de 10 a 12 de junho na Holanda. Festivais ingleses são um pouco mais complicados porque, se já tá dando medo lidar com o Euro, lidar com a Libra Esterlina é muito pior. Ainda assim, o Isle é bacanudo, não é tão complicado de se chegar e tem uma vibe muito boa (sem contar que não tem a loucura de 10 milhões de palcos distantes como outros no Reino Unido).
Para 2016, o Isle of Wight já anunciou Queen (com Adam Lambert), Steophonics, Iggy Pop, Buzzcocks, The Damned e Adam Ant, entre outros. Já seu concorrente no mesmo fim de semana, o PinkPop, chegou pegando pesado: Paul McCartney, Red Hot Chilli Peppers, Lionel Ritchie e Rammstein encabeçam as fileiras. Ao contrário da escalação indie do Primavera, o PinkPop segue uma linha mainstream, com boas surpresas aqui e ali (em 2015 os headliners foram Muse, Robbie Williams e Pharrell Williams num line-up que ainda tinha Faith no More, Elbow, Frank Turner, Placebo, Eagles of Death Metal e Counting Crows, entre muitos outros).
Na terceira semana, porém, acontece um dos meus festivais atuais favoritos: o Best Kept Secret, outro evento holandês. Estive lá em 2013 (com Portishead, Arctic Monkeys Wolf Alice e Swans) e curti muito o espaço (um safari cortado por um lago) e a proposta do evento: 15 mil pessoas (ou seja, nada de espreme espreme), boa comida e bons shows: para 2016 já estão escalados Wilco, Beck, Beach House, Editors, Explosion In The Sky, Unknown Mortal Orchestra, Band of Horses, Editors e muito mais. O festival, inclusive, acontece próximo da abadia de La Trappe, o que permite conhecer uma das cervejarias trapistas mais famosas do mundo.
Desta forma, o roteiro de viagem “perfeito” ficaria assim:
– Barcelona: 31/05 a 05/06
– Madri: 06 a 08/06
– Ilha de Wight ou PinkPop: 09 a 13/06
– Amsterdã: 14 a 16/06
– Hilvarenbeek ou Eidhoven: 17 a 19/06
– Voltar pra casa: 20/06
É corrido? Muuuito, mas a ideia é aproveitar e ver o máximo de shows e conhecer o máximo de cidades em 21 dias. Estão rolando várias promoções de voos para a Europa, e as passagens internas, compradas com antecedência (o que requer um planejamento milimétrico), podem sair beeem baratas. Quarentão como estou, facilmente iria apenas no Primavera Sound (na primeira semana) e no Best Kept Secret (na terceira), deixando o intervalo entre eles para fazer turismo sossegado (talvez Paris, quem sabe Roma ou mesmo Lisboa e Porto, que tem uma perna do Primavera Sound) aproveitando passagens em conta.
Então é isso: a ideia deste texto era jogar algumas ideias malucas para que você, caro leitor fã de música, adapte e amplie a experiência do Primavera Sound, caso pense seriamente em ir. Há muitas outras alternativas de festivais (confira o http://www.efestivals.co.uk), e shows solo não faltam (o Pollstar é uma boa pedida para consultas), afinal será verão na Europa, e ninguém quer ficar em casa. Nem você. Se você tiver vontade, um dinheirinho sobrando para o básico (a passagem se divide) e dias livres em junho, só digo uma coisa: boa viagem.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne