por Adriano Mello Costa
“Superman: Terra Um – Vol. 2”, de J. Michael Straczynski e Shane Davis (Panini)
No universo dos quadrinhos é normal que, de tempos em tempos, grandes editoras busquem reinventar seus maiores personagens, buscando atualizar esses ícones a fim de atingir novo público, porém tratando isso (na maioria das vezes) como um projeto paralelo para que fãs antigos não chiem muito. O resultado de tal iniciativa oscila entre bom e ruim, o que não impede de se tentar novos projetos. Em 2012, a DC Comics começou uma série intitulada “Terra Um”, onde a cronologia de todas as décadas não era levada em conta. O primeiro a ser reformulado foi o Superman (depois já vieram Batman e Titãs), com roteiro de J. Michael Straczynski (da excelente “Rising Stars”) e arte de Shane Davis (“Liga da Justiça”). A Panini publicou aqui em 2013 o arco inicial e em 2015 colocou no mercado “Superman: Terra Um – Vol. 2”, continuação dos fatos desenvolvidos no volume anterior, mas que, como se trata de tramas fechadas, pode ser consumido sem ter conhecimento do que veio antes. Nesse encadernado com 132 páginas encontramos um Superman ainda inseguro com seu lugar no mundo e sem saber exatamente o que fazer com todo o poder. No meio desse caminho de afirmação aparece o Parasita, um dos vilões mais poderosos que o kryptoniano já enfrentou e, dentro dessa ação, o roteiro ainda insere uma boa dose política e apresenta um homem de aço não tão escoteiro como se está acostumado. Mesmo com texto do competente Straczynski e arte-final de Sandra Hope com cores de Barbara Ciardo ajudando os limpos desenhos de Shane Davis, parece que os envolvidos ainda não encontraram um tom para que essa repaginada funcione. Apesar de se levar em consideração que esse “Volume II” é superior ao antecessor, ainda assim temos apenas uma mediana aventura, que não acrescenta nada ao personagem e é plenamente esquecível depois de algumas horas.
Nota: 5
“O Muro”, Céline Fraipont e Pierre Bailly (Editora Nemo)
A adolescência não é tarefa das mais fáceis para qualquer um, por mais que ofereça em contrapartida boa gama de alegrias e lembranças que vão ser levadas durante toda a vida. Imagine então ter 13 anos e morar numa pequena cidade que não oferece opções de entretenimento quando, de repente, sua mãe resolve se mandar com outro cara lhe deixando somente um pai que praticamente não para em casa e vive viajando a trabalho. É assim que se encontra Rosie, a protagonista da graphic novel belga “O Muro” (“Le Muret”, no original). Publicada em 2013, “O Muro” recebeu edição nacional em 2015 através da editora Nemo com 192 páginas e tradução de Fernando Scheibe. Primeiro projeto em quadrinhos da escritora infantil belga Céline Fraipont, “O Muro” conta com a arte do argelino Pierre Bailly em preto e branco. Ambientada no final dos anos 80, o roteiro navega por todas as ânsias de uma garota que se vê sozinha no mundo e que, entre descobertas e desilusões, vai se acertando do jeito que dá. A trama, apesar de delicada, não é demasiadamente juvenil e explora drogas, álcool e sexo envolvidos no traço bastante peculiar de Pierre Bailly, que usa e abusa de sombras e escuridão em quadros dos mais diversos tamanhos, em que consegue repassar ao leitor a sensação de estranhamento e tédio que assola a personagem principal. Ao redor disso, Céline enxerta muita música e discos, como a coletânea “Ramones Mania”, dos Ramones, ou “Three Imaginary Boys”, o registro de estreia do The Cure, fazendo com que a música sirva como coadjuvante e desafogo de uma história que trata do crescimento e formação de uma pessoa perante adversidades, um tema que já foi usado largamente por toda a arte, e aqui é tratado com habilidade. O resultado é um trabalho que merece ser conhecido.
Nota: 7,5
Leia um trecho aqui: http://grupoautentica.com.br/nemo/amostra/1196
“Louco – Fuga”, de Rogério Coelho e Francis Ortolan (Panini Comics)
O projeto Graphic MSP chega ao décimo livro, o quarto em 2015. A série que começou com “Astronauta Magnetar” lá no final de 2012 desembarca agora em “Louco – Fuga”, sempre mantendo um altíssimo nível de qualidade – “Pavor Espaciar”, sobre Chico Bento, foi o único grande deslize. Licurgo Orival Umbelino Cafiaspirino de Oliveira, o Louco, é um dos personagens mais lado B de Mauricio de Sousa, tão lado B que foi criado pelo irmão Marcio Araújo em 1973, uma época tão difícil para a arte no país, mas que trazia no peito essa ideia de liberdade, ainda que de maneira subliminar. Coube a Rogério Coelho, premiado ilustrador de mão cheia, apresentar o personagem dentro do projeto, sendo que foi ele quem se candidatou e quis fazer uma história em cima de tão excêntrica e exuberante figura. Com o auxílio de Francis Ortolan nas cores e a influência do artista inglês Dave Mckean (“Sandman”) na cabeça, Rogério conseguiu uma obra que é um vislumbre visual absoluto. Com 84 páginas e lançamento pela Panini Comics, “Louco – Fuga” pode não ser a melhor HQ feita até agora nessa revisitação, mas sem dúvida é aquela com arte mais encantadora. O roteiro inicia quando o protagonista, ainda criança, solta um pássaro preso pelos Guardiões do Silêncio (os vilões da trama), que tem como objetivo calar todo o canto e alegria do mundo, tosar a criatividade geral e imprimir a aceitação como moeda única. Reforçando as alegorias de liberdade do personagem, o autor utiliza de metalinguagem para contar uma história surreal que viaja no tempo e deixa no ar a sensação de incerteza, de crível, de realidade, ao mesmo tempo em que se alinha com a fantasia, o sonho, o devaneio. Para reforçar essas ideias não se utiliza daquela ordem normal dos quadrinhos, os quadros em “Louco – Fuga” se unem, mesclam, quebram, mudam de tamanho e atravessam entre si. Com o auxílio mágico da turminha como coadjuvante, temos um álbum respeitável no quesito da fantasia e belíssimo na parte dos desenhos, das cores e da montagem.
Nota: 9
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop