por Adriano Costa
Em dezembro de 1990, o inglês Neil Gaiman ainda não gozava do prestígio de hoje em dia e nem tinha toda uma gama de superlativos relacionados aos seus trabalhos. A publicação de “Sandman” já havia sido iniciada (em janeiro de 1989) e pela sua extrema qualidade começava a chamar a atenção do mundo dos quadrinhos, e enquanto sua fama aumentava lentamente, ele aceitou fazer para a DC Comics uma minissérie dividida em quatro partes que se iniciou em dezembro de 1990 e terminou em março de 1991: “Os Livros Da Magia”.
A série já foi publicada no Brasil em diversos formatos e editoras, mas ganhou sua edição “definitiva” apenas em 2013 (preço em média: R$ 25). A Panini condensou as quatro partes em um volume de encadernado de luxo com 212 páginas, tratamento rebuscado e extras contendo os esboços originais de Neil Gaiman. O trabalho artístico de John Bolton, Scott Hampton, Charles Vess e Paulo Johnson, que se dividiram individualmente nos desenhos de cada episódio, aparecem com resplendor e mais impetuosos que em qualquer outra publicação anterior da série aqui.
Em “Os Livros da Magia”, Neil Gaiman usa uma boa parte do universo mágico da DC Comics, entre personagens mais conhecidos como Boston Brand (Desafiador), Zatanna, Dr. Destino e Espectro até coadjuvantes como Jason Blood, Félix Fausto e Senhor da Noite, além de fazer uma incursão pelo seu próprio universo de Sandman, entrando no reino do Sonhar e trazendo Caim e Abel, assim como Morpheus, personagem principal da série que mesmo tendo acabado em 1996, ganha ano a ano cada vez mais fãs (ou devotos?).
O foco da história de “Os Livros da Magia” é o jovem Timothy Hunter que leva seus dias entre andar de skate e não fazer nada. Em um dia como qualquer outro ele é abordado por quatro figuras peculiares. Vingador Fantasma (também chamado de Estranho nessa época), John Constantine, Dr. Oculto e Mister IO são as figuras que explicam ao garoto que ele pode vir a se tornar o maior mago de todos os tempos. Mesmo não acreditando muito, ele embarca em uma jornada para conhecer o ambiente da magia que lhe falam.
A divisão do conhecimento vai por cada um dos guias e ultrapassa tempos, eras, mundos e dimensões, sempre com Gaiman fazendo referência a diversas outras coisas, sem esquecer-se de deixar na essência uma aventura de busca e conhecimento, uma história de formação. Para contar a história, Gaiman usa as mais diversas prerrogativas e maneiras, insere uma sucessão de perigos e confusões, que bem ao seu estilo são decorados com medo e a ânsia de ir atrás de algo novo, uma dualidade bastante explorada por ele posteriormente.
Depois de “Os Livros de Magia” era de se esperar que Timothy Hunter deslanchasse no universo da magia da DC, porém as coisas partiram por outros caminhos. Mesmo tendo chegado a permear alguns títulos alheios e até um próprio recentemente, é um personagem que merecia ser mais bem trabalhado, devido principalmente ao início primoroso concebido por Neil Gaiman, que agrada mais a quem já conhece o mundo mágico da DC, e é um dos grandes trabalhos do seu autor, numa jornada repleta de nuances e magnificência.
P.S: Existiu (e ainda existe) uma comparação entre Timothy Hunter e Harry Potter, já que as semelhanças visuais e de concepção são muitas, embora seja importante dizer que J. K. Rowling criou seu bruxinho depois de “Os Livros da Magia”. No entanto, o próprio Neil Gaiman já afastou a possibilidade de um possível plágio. Mas…
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop
A brigada dos encapotados é uma das melhores coisas que o Neil Gaiman já fez.