por Bruno Leonel
“Tomorrow’s Harvest”, Boards of Canada (Warp)
Na ativa desde os anos 80, o duo escocês formado pelos irmãos Marcus Eoin e Mike Sandinson quebrou em 2013 um silêncio de sete anos sem material novo e lançou “Tomorrow’s Harvest”. Sem grandes anúncios, alguns vinis assinados com o nome da banda brotaram em lojas de discos como parte dos lançamentos do Record Store Day gringo em maio provocando a curiosidade dos fãs. Após algumas outras pistas – incluindo um site que exigia uma senha para que o ouvinte tivesse acesso ao streaming das faixas – eis que o álbum ganhou às lojas em junho. Com grande influência de Brian Eno e outros gigantes da música eletrônica experimental, em “Tomorrow’s Harvest” a dupla aposta numa sonoridade drone e psicológica, repleta de sintetizadores melódicos e samples de gravações de programas de TV dos anos 70 em canções que emulam infância e nostalgia. A produção peculiar e a preferência por texturas analógicas ao invés de timbres sintéticos dão ao som do grupo uma característica emocional pouco vista no gênero. Há várias faixas boas como a minimalista “White Cyclosa”, a épica “Split Your Infinites” e a melancólica “Sundown” em um dos discos mais intrigantes lançados em 2013, trilha sonora ideal para filmes antigos gravados em super 8 ou para visitar antigos lugares em que as memórias da infância ainda insistem em assombrar.
Nota: 8
“Rongorongo Remixed”, Me Succeeds (KI Records)
O Me Succeeds é um trio alemão da cidade de Hamburgo, que faz um som meio rock, meio eletrônico, com sonoridades etéreas e minimalistas. O grupo forneceu a mate?ia prima do que se tornou essa coletânea de remix: 11 produtores/DJs de responsa (cortesia do selo Ki Records) pegaram seis faixas do ótimo “Rongorongo”, disco do Me Suceeds de 2011, e remixaram, dando novos arranjos e climas às canções. O resultado é impressionante, extremamente denso e com uma coesão quase geométrica nas faixas. O disco soa como uma escola que revisita o que rolou de melhor na música eletrônica da Europa e EUA nesse começo dos anos 2000 numa sonoridade bem plural, indo desde Trip-Hop, Dubstep até música ambiente e IDM. Interessante pensar que um disco que teve contribuição de tantos nomes, a maioria deles obscuros, conseguiu ter uma sonoridade tão poderosa e ao mesmo tempo eclética. Todas as músicas poderiam ser destaques, desde a climática “Our Charm”, a dançante “Faxekodi” e a cadenciada “Books”. Um bom exemplo da variedade de abordagem é a melancólica “Seventeen”, que aparece em três versões no disco, remixada por diferentes produtores, e soa praticamente como três faixas distintas devido à produção: ela vira um Synthpop na versão de Iron Curtis e um House na versão de Tilman (a segunda uma das melhores do disco). O mesmo acontece com a drone “That’s Why I Cast a Shadow”, que aparece duas vezes – a versão remixada pelo “Suburb, é outro ponto alto do disco. A capa é muito semelhante (quase idêntica) à de “Electric”, do Pet Shop Boys – outro bom disco de música eletrônica lançado em 2013.
Nota: 9
“Settle”, Disclosure (DMR/ Island)
Receita para um bom disco de estreia: escolha uma banda competente, que lançou apenas EPs elogiados, e está prestes a lançar seu primeiro disco. Se eles souberem emular de forma inteligente gêneros como o House dos anos 90, melhor. Imprima uma sonoridade elaborada e ao mesmo tempo acessível para pistas de dança, e então convide alguns cantores hypados para participar. Pronto, é só deixar ferver. Esses foram os ingredientes de “Settle”, trabalho de estreia dos ingleses do Disclosure. O duo certamente não deve ter presenciado “in loco” o grande estardalhaço que a música eletrônica fez no Reino Unido durante os anos 90, mas a sonoridade do disco, repleta de texturas que emulam o som da época, transmite uma riqueza de detalhes digna de quem esteve lá. As colagens sonoras são malucas (tem até o orador motivacional Eric Thomas no hit “When a Fire Starts to Burn”) e sete das catorze faixas trazem participações especiais. Ainda que a seleção seja meio “Top 10 das listas hipsters”, é inegável o valor que as interpretações somam ao conjunto. É o caso da envolvente “Voices” (com Sasha Keable), da contagiante “White Noise” (com Aluna Francis) e da otimista “Defeated No More” (Ed. Macfarlane). As boas letras chamam atenção, pois mesmo faixas dançantes trazem interessantes olhares sobre as relações humanas e momentos de reflexão (algo que o Pet Shop Boys fazia muito bem). Há diversas boas faixas, com grande apelo para as pistas, num filão de hits impressiona, e até deixa dúvida se não estamos diante de uma coletânea do tipo Best of.
Nota: 9,5
– Bruno Leonel é jornalista e já entrevistou Márcia Castro e Siba para o Scream & Yell
Já li em algum lugar que o Disclosure seria o “novo Chemical Brothers”.Não chega a tanto,mas dá um caldo daqueles na pista.E as vozes ficaram muito boas no disco.