Boteco: Skol Beats ganha versão Extreme

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por Marcelo Costa

No curso de sommelier de cerveja em que me formei, vários professores insistem em dois pontos: no bordão já clássico do “Beba Menos, Beba Melhor” e noutro, quase antagônico, que diz que não existe cerveja ruim. Beerchatos de plantão sentem coceiras pelo corpo quando ouvem a segunda frase, e a razão, neste caso, é intrinsecamente ligada não só à provocação quanto a questão de sociabilidade, mas também à qualidade, pois o ato de beber cerveja, qualquer que seja, está ligado não só ao ambiente em que você está como ao prato que você come e sua companhia. Meio complicado beber uma Barley Wine na esteira da praia debaixo de um sol de 30 e tantos graus como um jantar com seu par pede mais que uma Standard American Lager.

Aliás, as Standard American Lagers são as que mais sucesso fazem no boteco, nos churrascos e nas baladas, e o motivo é bastante simples: ela é quase água gaseificada, o que permite bebe-la em altas quantidades por bastante tempo (e botecagem/churrasco não são coisa de meia-hora) sem ficar bêbado tão rapidamente – três garrafinhas inocentes de 310 ml de boa parte das cervejas belgas fariam um estrago no mesmo fulano em menos de 10 minutos. Partindo deste ponto, quando uma propaganda avisa que a marca de cerveja tal está lançando uma cerveja mais leve e refrescante, ela praticamente está lhe avisando que está tirando malte e lúpulo e colocando mais água, o que transforma a tal cerveja em, praticamente, um isotônico. Ou seja: você está pagando mais por menos cerveja.

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No caso das Standard American Lagers nacionais, o que mais incomoda (e com razão) os Beerchatos é o fato da receita, na grande maioria das vezes, incluir (além de malte, água, lúpulo e levedura) uns tais de cereais não maltados (este artigo esclarece o tema), o que, a grosso modo, quer dizer que boa parte das cervejas mais consumidas no Brasil são compostas por milho e arroz, além de cevada. É uma cerveja, porém, que não vende sabor, mas sim leveza e refrescancia (e mulheres seminuas em propagandas). Isso não quer dizer que não existam Standard American Lagers ótimas, muito pelo contrário, só que há poucas no Brasil – o estilo Pilsen, aliás, é responsável por cervejas arrebatadoras (boa parte delas da República Tcheca).

Tudo isso para falar do novo lançamento da Ambev sob a marca Skol – propriedade da empresa dinamarquesa Carlsberg, licenciada para o Brasil desde 1967 – a versão Extreme da Skol Beats, uma Standard American Lager que completa 10 anos de mercado, e ganha de presente uma versão de corpo bastante semelhante, mas pegada mais alcoólica (6,9% contra os 5,2%). A campanha publicitária reforça a ideia de que a Skol Beats Extreme é uma cerveja para balada, aquele momento em que o(a) bebedor(a) não está preocupado(a) no que está bebendo, mas sim na azaração, na música que está tocando, na companhia para o fim de noite. É uma cerveja que se assume coadjuvante e que vende a promessa de deixar a pessoa bêbada muito mais rápido. Vamos a elas:

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Em 2003, pegando carona no festival eletrônico homônimo que a marca patrocinava desde 2000, a Skol coloca no mercado a versão Skol Beats, valorizando leveza e refrescância. De coloração amarelo palha, e espuma branca média formação e permanência, a Skol Beats traz, no aroma, a força dos cereais não maltados (com destaque para o milho), e praticamente só isso. No corpo paladar, o corpo é baixíssimo e a textura, aguada. O aroma é leve, quase inexistente, e com perseverança é possível sentir o malte, quase nulo. Final e retrogosto valorizam a proposta da marca, que se apoia unicamente na refrescância em uma cerveja que mais parece água gaseificada. Para beber, beber, beber mais e não se desidratar enquanto se faz outra coisa que não prestar atenção ao que você está bebendo.

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Recém-lançada, a Skol Beats Extreme se destaca pela sua embalagem, a garrafa tradicional da marca, mas escura – ou “vestida para a balada”, como diz o slogan oficial. Ela é uma Premium American Lager, só que com a pegada de álcool maior (6,9% contra os 5,2% da versão tradicional) é encaixada na categoria de Malt Liquor, embora continue muito próxima da versão tradicional em sabor e leveza. De coloração dourada e creme de média formação e baixa permanência, a Skol Beats Extreme traz poucos atributos sensoriais no aroma. Com insistência é possível perceber um pouco de malte e milho. No paladar ela é mais presente que a versão tradicional, com malte distribuindo dulçor (ainda que bastante leve) e um amargor moderado. Soa como uma versão mais caprichada da Skol Beats, mas continua valorizando refrescancia e leveza.

Balanço
Houve um tempo, antes da Ambev se formar, em que a Skol (nascida em 1964 na Dinamarca e licenciada para o Brasil em 1967) possuía uma fama estranha, que dizia que a versão em lata não só era superior à versão em garrafa como uma das melhores lagers nacionais do período. Esse tempo se foi, a Ambev surgiu, e em 2003 colocou nas gôndolas uma versão mais suave da Skol, a Skol Beats, que completa seu décimo aniversário ganhando uma parceira pra noite, a Skol Beats Extreme, uma cerveja mais alcoólica, mas que mantém praticamente os mesmos padrões de aroma e sabor da versão tradicional, ou seja, quase nenhum. A ideia aqui é simples: vender a promessa do embebedar-se mais rapidamente, uma tentativa vã de alegria e de perda da timidez em público. Não espere sabor ou personalidade cervejaria. A Skol Beats Extreme (preço sugerido de R$ 2,50 em supermercado – deve chegar a R$ 12 nas baladas) tem como função refrescar e embebedar. Na praia em dia de sol, talvez funcione. Talvez.

Skol Beats
Produto: Standart American Lager
Nacionalidade: Brasil
Graduação alcoólica: 5,2%
Nota: 1,49/5

Skol Beats Extreme
Produto: Malt Liquor
Nacionalidade: Brasil
Graduação alcoólica: 6,9%
Nota: 1,85/5

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– Top 1001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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