por Adriano Costa
Anos 50. Um milionário resolve gastar uma parte da fortuna para abrir um jornal. Puro capricho. O ambicioso projeto terá sede em Roma, a Cidade Eterna na Itália, e (pretende o milionário) se espalhará por todo o mundo em língua inglesa, adotando como foco a excelência e a credibilidade. Esse é o mote inicial que conduz a trama de “Os Imperfeccionistas” (“The Imperfectionists”, 2010), do escritor inglês Tom Rachman, que ganhou edição nacional no ano passado pela Editora Record com 384 páginas e tradução de Flávia Carneiro Anderson.
Os capítulos do livro são dedicados individualmente a um personagem do jornal, indo do chefe de redação até a diretoria. São 11 pessoas que têm um trecho da vida contado durante os anos de 2006 e 2007, fase em que a trama do livro se desenvolve. Entre esses capítulos existem outros menores, onde os bastidores da criação do jornal aparecem e indicam não somente o processo árduo de continuidade, como também os reais motivos por trás de uma empreitada tão arriscada.
Tom Rachman já foi correspondente internacional em vários lugares, como também editor, o que lhe garante domínio para escrever sobre o momento que impulsiona a obra. Os jornais estão à beira da falência e sobreviver sem olhar para o mundo virtual é impossível. Aliás, vencer olhando para o mundo virtual também é bem difícil. Os tempos são outros e se reinventar é preciso, além de ser vital para que ideias continuem sendo expressas e tenham o devido retorno financeiro.
Essa reinvenção é justamente o que não ocorre no jornal em Roma. Sem um endereço na internet e sem colaboradores capazes espalhados pelo mundo, a ladainha corporativa de redução de custos e corte de pessoal paira sobre todos. A tiragem despenca para a metade do que já alcançou um dia e a almejada credibilidade está sendo arrancada com erros grosseiros de escrita e matérias sem inspiração (atenção imprensa brasileira). No meio desse tiroteio silencioso estão os funcionários, a mola mestre do negócio.
É em cima dos funcionários que “Os Imperfeccionistas” se expande. Amarrando os dramas pessoais vividos por cada um com a situação profissional, Tom Rachman cunha um panorama de desilusão e desgosto com a vida, mesmo que em alguns casos isso esteja encoberto por ambições profissionais ou simples desinteresse. Não há felicidade no livro (o que faz perguntar se há felicidade real na rotina do dia a dia). Esse é um artigo em falta. As conquistas que ocasionalmente aparecem são motivadas por algum desastre ou desatino.
De modo geral, a trama de “Os Imperfeccionistas” é interessante e prende a atenção (o que lhe valeu figurar na lista de melhores livros de 2010 de publicações respeitadas como o New York Times e a da Publisher’s Weekly). O autor correlaciona todos os fatos e personagens deixando poucas arestas a aparar. Em passagens como a da leitora Ornella de Monterecchi ou do correspondente em Paris, Lloyd Burko, “Os Imperfeccionistas” alcança um patamar realmente elevado ao mostrar que a vida é implacável ao passar, por mais que se busquem artifícios para ocultar. O jornal pena para aprender essa máxima, assim como as pessoas envolvidas.
****
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop