por Bruno Capelas
“Edifício Bambi”, Hidrocor (Capitão Monga Records)
Formada por Marcelo Perdido (voz e violão) e Rodrigo Caldas (bateria), a Hidrocor canta um universo fofo, em moldura que mistura o folk, o indie pop e algumas pitadas da Jovem Guarda mais calma, com todo o seu bom-mocismo característico. No composto geral, a meiguice presente na paisagem de “Edifício Bambi”, disco de estreia do duo, acaba por deixar o ouvinte meio enjoado, largando o disco antes de seu final. Soltas, porém, algumas músicas funcionam muito bem. É o caso de “Você Só Pode Estar Brincando” e da faixa-título: a primeira fala sobre fazer air guitar e tocar bateria com as mãos; já a segunda canta a ausência da pessoa amada com quem se divide um pequeno apartamento. Vale ainda destacar o protesto divertido de “Ma Chérie”, que se volta contra a mania (quase irritante) do indie brasileiro de cantar em francês apenas por cantar em francês, e “Urso Bipolar”, que conta com a presença de Tatá Aeroplano (que assina o release). Mas, ao final, “Edifício Bambi” lembra bem o título de outra de suas músicas, “Miojo” (que conta com a presença de Lulina): música confortável, feita para satisfazer uma vontade da hora, mas da qual você se esquece logo algum tempo depois que ouviu.
Nota: 5
“Direito de Ser Nada”, Violins (Monstro Discos)
Em seu sétimo disco, a banda goiana segue narrando as angústias que pairam sobre o cotidiano do homem contemporâneo, essa criatura marcada por dubiedades, incertezas e sem muitos sucessos. Aqui junto ao baterista Fred Valle, integrado após “Greve das Navalhas”, Beto Cupertino (voz e guitarra), Pedro Saddi (teclados) e Thiago Ricco (baixo) empreendem um disco interessante, mas que não atinge a força de registros como a grande dobradinha de “Grandes Infiéis” e “Tribunal Surdo”, lançados em 2005 e 2007, respectivamente, e ainda hoje o destaque da discografia da banda. Entretanto, vale a pena prestar atenção em “Direito de Ser Nada” por duas novidades: a primeira delas é a substituição da guitarra pelo baixo como elemento central no arranjo de algumas das canções – repare, por exemplo, na pulsação marcada de “Forasteiros”, e na cama frenético-descontrolada de “Mata a Farra”. A outra boa nova é o foco de Beto Cupertino – um dos letristas mais afiados de sua geração – na esfera pessoal-romântica, algo que acontecia pouco nos discos mais recentes da Violins. Três bons exemplares disso são a declaração por vias tortas de “É Como Está”, a negação da felicidade de “Medo de Dar Certo” e a celebração de um término – “vai começar belo o mais belo espetáculo que há”, canta Beto sobre uma base limpa – de “Nossos Embrulhos”.
Nota: 7
Leia também – Entrevista: Beto Cupertino, do Violins, por Olga Costa (aqui)
“Outro Lugar”, Faria & Mori (Independente)
Estreia da banda de um homem só, “Outro Lugar” foi lançado em 2011, e passou despercebido por muita gente. Não deveria. André Faria, guitarrista paulistano, e seu amigo imaginário Mori são os responsáveis por boas canções, em um disco de sonoridade muito coesa, onde prevalecem boas guitarras, alguns violões e a voz confessional do compositor. Vale prestar atenção na força das baladas do disco, como a guitarreira “Nara”, a urgência do refrão de “Os Cães” e no tom acústico de “Voltei Até Lá”. Mas o destaque fica na modernidade antirromântica de “Precaução”: “Ia me trair / mas não traiu não / traí antes com alguém / só por precaução”. Com “Outro Lugar”, André Faria se junta a outros dois bons nomes vindos de São Paulo que também tem cultuado a forma da canção pop, pura e simples: o elogiado Fábio Góes, de “O Destino Vestido de Noiva”, e Mauro Motoki, do Ludov, que também lançou disco solo (“Bom Retiro”) e assina a produção de “Outro Lugar” junto a Fábio Pinc e ao próprio Faria. Uma boa descoberta.
Nota: 7,5
– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista, escreve para o Scream & Yell desde maio de 2010 e assina o blog Pergunte ao Pop.
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