por Juliana Torres
“Now I know I’m pretty, but I ain’t as pretty as a couple of titties.” Esse é Drexl Spivey, Gary Oldman em “True Romance”, escrito por Quentin Tarantino e dirigido por Tony Scott em 1993. Como Drexl, Gary Oldman faz um cafetão que decide complicar a vida da “doce” Alabama (Patricia Arquette). Oldman agora estrela “O Espião Que Sabia Demais” (Tinker, Taylor, Soldier, Spy”, 2011), do sueco Tomas Alfredson, a mente brilhante por trás de “Deixe Ela Entrar” (2008).
Neste novo filme, Gary Oldman é Smiley, um agente do Serviço Secreto do Reino Unido no início dos anos 70, tendo a Guerra Fria como pano de fundo – o que serve para colocar em xeque o maniqueísmo (se é que ainda se sustenta algum) entre CIA e KGB. Com base em um romance de John Le Carré, Alfredson levanta um tema muito recorrente em papos de botequim e que vez ou outra contextualiza alguma hashtag no Twitter: como não ceder ao darkside – o que “Deixe Ela Entrar” também abordava. Como ver tudo o que está acontecendo e não debandar para o outro lado.
No meio do fogo cruzado entre as duas agencias de inteligência que polarizavam a Guerra, Smiley e o chefão Control (John Hurt – aquele que também já foi chefão em “V de Vingança”) são obrigados a se aposentar da divisão quando uma ação de espionagem dá errado em Budapeste. Forçado a retomar sua vida – acompanhado de seus fantasmas – Smiley, agora fora do dia-a-dia da Guerra, é chamado para investigar uma suposta traição dentro da Circus (codinome do Serviço Secreto inglês) que estaria passando informações secretas da agência americana para a soviética.
Parece mais um clichê de filme de espionagem, mas não é bem assim. Alfredson pertuba a mente do espectador o tempo inteiro colocando questões morais e dramas familiares em cena. E com o passar do tempo se tem a impressão rarefeita de como é não poder confiar em ninguém.
O roteiro, assinado por Bridget O’Connor e Peter Straughan (e de certa forma “abençoado” por John Le Carré, que é um dos produtores do filme) torna o filme confuso e quase ininteligível no começo (vale consultar o romance homônimo de 1979), mas com o desenrolar da história é possível perceber que a trama não trata o luxo e o poder que a profissão exibia na época, e sim as transações ingênuas e a manipulação de pessoas e interesses. É mais relação humana do que espionagem (ainda que a última esteja em primeiro plano).
Em “O Espião Que Sabia Demais”, cada personagem é uma peça de um jogo de xadrez. E a forma como cada um se movimenta durante o filme é exatamente o que Smiley (e você) deve observar (e desvendar). E como observador, Oldman merece uma indicação ao Oscar. Ele alcança o espião ideal, e o faz com um personagem que já havia sido interpretado por Alex Guiness (Obi-Wan Kenobi, de Star Wars) na série também adaptada do livro de Le Carré nos anos 80.
Como Bill Haydon, um dos principais agentes do serviço secreto, está Colin Firth, último ganhador do Oscar por sua atuação em “O Discurso do Rei”. Foi o suficiente para provar e selar de uma vez por todas sua versatilidade e verossimilhança em qualquer papel que atue.
Tomas Alfredson joga no colo do espectador um amontoado de fatos de um dos períodos históricos mais confusos que já vivemos para realizar não só uma história de espiões, mas também de vampiros. Mas diferente da menina vampira de “Deixe Ela Entrar”, os vampiros de “O Espião Que Sabia Demais” são muito mais humanos e menos civilizados. E usando o plano de fundo de uma situação geopolítica, Alfredson cutuca a essência humana.
– Juliana Torres (@jukiddo) é jornalista e assina o http://jukiddo.tumblr.com/
Belo texto…
Filmaço! Gostei muito, tenso o tempo todo, sem soluções mirabolantes. E baita elenco!
Show de Gary Oldman. Belo filme.