texto por Tiago Agostini
fotos por Ananda Deckij
Cerca de meia hora antes do horário marcado para o início do show do Cansei de Ser Sexy, na quinta, 07 de abril, a Clash estava com menos da metade de sua lotação ocupada. Mesmo que a fila se formasse na entrada e alguns grupos ainda bebessem no bar ao lado, parecia pouco para uma noite tão emblemática: o primeiro show desde 2007 da mais importante e conhecida banda brasileira no exterior em sua cidade natal. Com um tradicional atraso de 40 minutos, o lugar teve tempo de se encher proporcionando uma muvuca saudável ao som dos primeiros acordes de “Jager Yoga”. Menos mal.
O show, porém, só foi pegar fogo mesmo na quinta música, quando a banda tocou “Music Is My Hot Hot Sex”, primeira do disco de estreia, de 2005, a aparecer no setlist. Antes, por mais que as boas “Jager Yoga” e “Left Behind” (de “Donkey”, de 2008) e “Patins”, do EP “CSS SUXXX”, tenham provocado gritos, os pulos da plateia old school só foram vigorosos com a canção da estreia.
Sintomático, o comportamento inicial resume de alguma forma como foi o show. A catarse coletiva só veio quando os hits circa 2005 surgiram, mesmo que em doses homeopáticas – uma “Alcohol” aqui, uma “Off The Hook” ali, uma “Bezzi” acolá para encerrar a primeira parte do show. O resultado quando a banda tocou músicas novas, do terceiro CD, a ser lançado em agosto, foi ainda mais frio, o que levou Lovefoxxx a soltar um “quero ver no show depois de lançar o disco, vocês vão conhecer melhor elas”.
Aliás, Lovefoxxx continua sendo a grande atração da banda, com sua performance arrebatadora – principalmente para quem assistia ao show pela primeira vez. Em uma espécie de strip tease longo e frenético, a vocalista foi tirando aos poucos cada peça do complicado figurino, da capa vermelha até a camiseta rasgada, terminando o show só de shortinho jeans e sutiã preto. Ela pula, canta, joga brindes para a plateia, se joga em um mosh controlado, abraça as diversas meninas que sobem ao palco, tudo sorrindo como criança em noite de Natal. Não é de se espantar que os gringos tenham se apaixonado por ela.
Musicalmente a banda está mais madura, e isso é notado de longe. Adriano Cintra foi esperto ao assumir o baixo e recrutar um novo e bom baterista para sustentar a cozinha milimetricamente. A base segura da banda permite os floreios de guitarra erráticos e a performance explosiva de Lovefoxxx.
É irônico, porém, que justamente o que torna o CSS melhor possa ser algo que jogue contra a banda. As novas músicas são um bom exemplo. Bem construídas, com climas variados, elas representam uma evolução clara no rock dançante do grupo, mas com uma característica: cada vez menos irreverente. “Donkey”, lançado em 2008, já havia reverberado menos na imprensa internacional do que a estreia. Conforme vai ficando mais sério e mais banda, o CSS se distancia do que foi o responsável por seu sucesso inicial, uma época em que a atitude parecia ser mais importante que a música.
“Let’s Make Love and Listen Death From Above” e “Superafim” vieram no bis para mostrar o que o CSS tem de melhor, uma certa malícia sacana subjetiva, mais uma provocação sutil na pista do que um flerte fatal. As canções do primeiro álbum, inclusive, crescem com a formação instrumental mais coesa. Um final de noite redentor para a banda, na véspera do embarque para uma longa turnê pelos Estados Unidos, com direito a show no Coachella.
É engraçado, no entanto, que o show do CSS tenha feito menos barulho aparente nas redes sociais do que a festa fechada com os australianos do Miami Horror na noite anterior. É claro que o frenesi em torno do show dos australianos diz mais sobre o público blasé modernete e pseudo-antenado de São Paulo do que sobre a qualidade das bandas (fosse esse o critério o CSS estaria léguas à frente), mas o episódio não deixa de mostrar o lado mais cruel do hype: ele é passageiro.
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Veja mais fotos do show do CSS em São Paulo, por Ananda Deckij (aqui)
Tiago Agostini é jornalista e edita o http://discosdavida.wordpress.com/
Falou tudo, Tiagão.
“da mais importante e conhecida banda brasileira no exterior em sua cidade natal”
E o Sepultura?
Acho que ele quis dizer “banda brasileira mais conhecida no exterior ATUALMENTE”, pois Sepultura e Mutantes são as mais conhecidas e, especialmente, importantes.
SC, até uma criança de 02 anos sabe que o Sepultura é de Minas Gerais, Belo Horizonte, Sepultura claro que e um grupo conhecido e influente, mas restrito ao nicho do metal, nem gosto do CSS, mas eles circulam em vários meios alem do Indie.
me explicando:
juro q na hora q tava escrevendo ia colocar um “da mais importante e conhecida banda brasileira no exterior nos últimos anos em sua cidade natal”. achei q tava, so vi agora q nao coloquei isso. faço o mea culpa, esqueci das palavras na frase.
Paulo, circulam em vários meios além do indie???? Cite umzinho sequer!!!
O pior que tem jornalista que acredita que CSS é música.
Pior ainda é que tem fake que, por não concordar com o gosto dos jornalistas, lhe dá o direito de denegrir o trabalho deles.
*se sente no direito…
CSS nunca foi e acho que nunca quis ser Atemporal…
O tempo para eles já passou, e acredito que esse show foi a mesma coisa que ver o Pelé jogando pelo Cosmo.
Matéria muito boa. Espelha bem como o hype sacaneia com (quase) todo mundo que trabalha com música hoje em dia.
Gosto é gosto…
eu, particularmente nao gosto de CSS… ou melhor, acho horrivel…
mas, tem gosto pra tudo…