Heavy Trash em Curitiba

Por Murilo Basso e Luiza Garcia

Cerca de uma semana atrás, pouco ou quase nada se ouvia falar sobre o Heavy Trash em Curitiba. Duas semanas atrás então… Mas o fato é que ao chegar na fila de entrada, que poderia até ser considerada longa, era possível ouvir diálogos como: “Quem toca aí hoje?”, logo atrás, um garoto, no máximo 16 anos, responde: “Sei lá, um tal de Jon e… ah, sinceramente também não sei”.

O show de abertura ficou por conta da banda curitibana Koti e os Penitentes, uma ótima surpresa. Visual bacana e criativo, canções bem arranjadas longe de clichês, harmonicamente limpas com letras inteligentes e diretas, afinal quem nunca saiu “andando pelas ruas de bar em bar, procurando alguém pra amar”?

Agora você pode esquecer, pelo menos por alguns momentos, o Pussy Galore, o Boss Hog ou até mesmo o Blues Explosion, pois o que se viu de Jon Spencer em seu novo projeto (sim, mais um) foi algo puramente enraizado na rockabilly, e, ao mesmo tempo tão sujo e visceral como qualquer projeto anterior do nova-iorquino.

O desempenho da banda se deve, principalmente, ao que sua música tem de mais simples. Unido ao ex-Madder Rose, Matt Verta-Ray, o Heavy Trash apostou no rústico, que neste caso, também pode significar sincero e despretensioso. E isto serviu como referencial para o show.

Free jazz, rockabilly, blues, country e punk deram forma ao atual projeto de um dos nomes mais influentes da cena independente norte-americana desde a década de 90. Contando com mais dois músicos, Matt e Jon lançaram dois álbuns (“Heavy Trash” e “Going Way Out With Heavy Trash”) sem em nenhum momento esquecer o espírito barulhento que permeava a carreira de Spencer.

A linha de baixo, inspirada em “baixões” típicos do rockabilly, ditava os riffs juntamente com a semi-acústica de Verta-Ray e o violão de Jon. A bateria – mais simples possível – baseava-se na caixa, e vez ou outra era complementada por um garrafão de vinho. Já vazio… claro.

O set list – baseado no segundo disco do grupo, pode ser considerado irretocável. O instrumental, as canções e a performance são tão fortes e marcantes que você sente vontade de ver o mesmo show novamente. E de novo. E mais uma vez. Só pelo prazer de poder ter a chance de pegar algo que lhe tenha escapado. Ou de não permitir que aquele momento acabe; uma verdadeira viagem no tempo; topetes, guitarras à la Elvis, tudo com uma classe única. Punks tocando rockabilly com sotaque caipira.

Olhando para o Heavy Trash no palco, você se sente mal pela grande maioria das bandas nacionais (mais da metade delas, certamente). Você percebe que aqueles caras nasceram para estar no palco, e fazem muito bem aquilo que propõe. Não é uma questão de precisar estar ali e sim de “querer estar”, o que acaba tornando tudo muito divertido. E no fim das contas não importa se grande parte do público não sabia o que tinha ido fazer lá ou se a cerveja era cara (na verdade, sempre é), o que interessa é que por algumas horas aquele garoto da fila se divertiu feito uma criança. E, agora, ele conhece o tal John Spencer.

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Foto: Vinicius Salvino (http://www.flickr.com/photos/vinicius_salvino/)

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