textos de Marcelo Costa
“Live In Liverpool”, Echo & The Bunnymen (Sum Records)
O Echo & The Bunnymen é uma das poucas unanimades no meio roqueiro. Praticamente todo mundo que gosta de rock encara os Bunnymen como uma divindade. Live in Liverpool é o segundo ao vivo oficial dos homens coelho, e quem acompanha os caras sabe que a voz de Ian McCulloch já foi pras cucuias há muito tempo, culpa dos excessos com drogas e álcool. Mesmo com o vocal perceptivelmente forçado, a voz de Ian permanece mais bela e tocante que 90% dos vocalistas atuais. E o repertório é aquilo: clássico sobre clássico. Abre com Rescue (que desde sempre tem aberto os shows dos Bunnymen), emenda Lips Like Sugar, permite concessões para algumas canções do último álbum Flowers, resgata My Kingdom, arrepia em The Killing Moon e baixa as cortinas com Ocean Rain. Se a voz de Ian não é lá o que era, o grande destaque acaba ficando com Will Sergeant que despeja riffs e riffs no canal esquerdo do fone de ouvido/caixa de som do ouvinte.
“Heathen Chemistry”, Oasis (Sony Music)
Por incrivel que pareça, o Oasis continua fazendo mais barulho por fatores extra-musicais do que pela música em si. E “Heathen Chemistry” prova que o tempo não passa. Todo mundo saiu com mil teorias, mil e uma analises e mil e duas questões, mas o álbum é o bom e velho Oasis, para o bem e para o mal. “The Hindu Times” é o single arrasa quarteirão, com vocal melodioso no refrão. “Stop Cryng Your Heart Out” é a balada inspirada da vez. Noel canta a normalzinha “Force Of Nature”, clima blues com sampler de “Nightclubbing” do Iggy Pop, a baladinha happy acústico tola “She Is Love” e a bacana “Little by Little”, clima b-side inspirado. Liam escreve, canta e tenta parecer Lennon na bacana beatle “Songbird” além de outras três, mais medianas. No geral, soa aqui e ali como um álbum demo, inacabado, preguicoso, mas que vai satisfazer aos velhos fãs e não conquistar novos. Sinais dos tempos: nos dois primeiros discos todo mundo dizia que eles pareciam Beatles e Stones. Agora eles parecem… Oasis. O tempo passa.
“BRMC”, Black Rebel Motorcycle Club (Virgin)
De São Francisco para o mundo, três garotos aumentam o volume das guitarras numa equação que une Jesus and Mary Chain com Spacamen 3, Nirvana com Spiritualized, Joy Division com Ride, rock and roll com psicodelia. Lançado em março de 2001 na parte de cima do Equador, “BRMC”, a estréia desse trio norte-americano, não tem previsão de ser lançado no Brasil. É uma pena. A equação inicial ainda conta com letras depressivas que remetem a Ian Curtis, poeta suicida do Joy Division. Não chegam ao fundo do poço joydivisiano, mas ficam por ali, lamentando o amor que queima por dentro (a excelente dobradinha de abertura, “Love Burns”/”Red Eyes and Tears”), a venda da alma para o sucesso fácil (“I fell in love with the sweet sensation/ I gave my heart to a simple chord/ I gave my soul to a new religion/ Whatever happened to you?” canta Peter na sensacional porrada “Whatever happened to my rock’n’roll?”, que tem o carinhoso subtítulo de “Punk Song”) até um lamento religioso que desafia Jesus a voltar a Terra (“Jesus seemed to steal my soul/ He’ll never let me go/ Jesus when you go will you come back home” cobra a usina de guitarras “White Palms”). Só importado, mas vale o investimento.
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne