"Get Behind Me Satan", White Stripes
por Jonas Lopes
Yer Blues
15/07/2005

Minha história com os White Stripes é bem recente. Quando a dupla fez sucesso com Fell In Love With a Girl e o disco White Blood Cells, desconfiei, e não fui muito além do hit. Ainda contaminado pelo preconceito, deixei Elephant passar direto em seu lançamento. Só voltei as atenções à banda depois da produção de Jack White no belíssimo Van Lear Rose, da cantora country Loretta Lynn, um dos melhores discos do ano passado. Vou dar uma chance, pensei. Fui atrás de todos os discos e gostei bastante, principalmente de Elephant, que já apontava para novos rumos na música da banda.

Get Behind Me Satan chega, então, com um gosto diferente – o primeiro lançamento dos White Stripes que acompanho como fã. Não poderia ser melhor: já virou o álbum favorito da banda por aqui. Jack trouxe novas possibilidades para as músicas, resultado das experiências na produção de Van Lear Rose e de algumas faixas da trilha de Cold Mountain. Influências de gêneros americanos, basicamente. Country, bluegrass, folk, hillbilly. Alguns já vêm chamando Get Behind Me Satan de Exile On Main Street dos irmãos White, pela diversidade. White Stripes rock já era bom, e ampliado é ainda melhor. Outros fãs não gostaram tanto assim das mudanças. Mas se até o Led Zeppelin, estrela-guia da dupla, brincou com sons acústicos em seu terceiro disco, por que não os Stripes?

Não que o lado roqueiro do disco seja fraco. Só fica um pouco preso na inflexão zeppeliana da banda. Isso não é de todo ruim. Red Rain poderia estar no Led Zeppelin I (apesar da guitarra steel), Blue Orchid em Led Zeppelin II, Instinct Blues em Presence. The Denial Twist é prima não muito distante de Gallows Pole, do Led Zeppelin III. E o velho papo: Jack White é Robert Plant e Jimmy Page ao mesmo tempo, o primeiro nos vocais agudos e o segundo nos riffs. Meg ainda compensa a completa falta de técnica com vigor. O mais original dos rocks é The Nurse, voz e xilofone na estrutura básica e explosões elétricas eventuais.

É no restante das músicas, porém, que Get Behind Me Satan ganha poder. Instrumentos como pianos, violões, bandolins e slides ganham espaço na velha fórmula guitarra-bateria. My Doorbell, com presença forte de piano, é a mais grudenta do disco. A vinheta Passive Manipulation é piano-voz, mas a voz, desta vez, é de Meg, adorável. Há um tom de lamentação circulando as canções. Dizem, é sinal da separação de Jack e da atriz Renee Zellweger. A ótima balada Forever For Her (Is Over For Me) e a divertida e country Little Ghost são reflexos do rompimento. Outro destaque é o folk As Ugly As I Seem.

Na faixa que fecha Get Behind Me Satan, I’m Lonely (But I Ain’t That Lonely Yet), que lembra I’m So Lonesome I Could Cry, do mestre Hank Williams, Jack diz que está sozinho, embora ainda nem tanto. Um convite para que os fãs abram as mentes e acompanhem os White Stripes nessa viagem ao coração do cancioneiro norte-americano. Os puristas insatisfeitos sempre podem recorrer aos outros álbuns. Azar o deles. Afinal, esse negócio de recusa à abertura de horizontes só pode ser coisa de pobres de espírito, mentes limitadas ou conformados incorrigíveis.

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