"Under Blackpool Lights" - White Stripes
por
Andye Iore
Supers
22/03/2005
Under Blackpool Lights, primeiro DVD do White Stripes,
confirma que o duo é daqueles grupos que funciona melhor no
palco do que no estúdio. São 26 canções tocadas em 1h16 de um
show em janeiro de 2004, em Blackpool, na Inglaterra.
O palco, cuidadosamente decorado com as cores preto, vermelho
e branco - que a banda ostenta nas roupas e capas de discos
- é ocupado somente por um kit de bateria minimalista de Meg
e por Jack que ora empunha uma guitarra, ora um violão, ora
vai ao teclado para despejar um rock'n'roll cru e empolgante.
A ausência de outros músicos, por incrível que pareça, não faz
falta alguma.
O show começa com o resgate ledzeppeliniano de When I Hear
My Name, do álbum de estréia do White Stripes, que, segundo
as notas do encarte do DVD, é uma das músicas mais complicadas
para Meg e Jack tocarem. Um riff pesado alternando heavy e rhythm'n'blues,
vocal rouco e gritado e a capacidade de grudar refrão no público.
Referências que se repetem mais tarde em Hello Operator,
uma das várias canções inéditas em álbum oficial que marcam
presença no show. Hello Operator só saiu em um 7 polegadas
de edição limitada, em maio de 2000.
Como se não fosse o bastasse ter apenas dois músicos no palco,
Jack não se intimida em cantar a capella - e sozinho - uma
das canções preferidas de Meg, Take
a Whiff on Me, de Leadbelly, que ainda é reverenciado pelo
público, a pedido do guitarrista, em outra cover, no fim do
show, Ballit of de Boll Weevil. A lista de covers, alias,
inclui desde os famosos Bob Dylan (Outlaw Blues) e Hank
Williams (I Can't Help It - If I'm Still In Love With You)
até os desconhecidos Screamin' Lord Sutch (Jack The Ripper)
e Toledo (Goin' Back To Memphis), além de Death Letter,
de Son House, que já havia sido registrada no segundo disco
do duo, De Stijl, e a matadora versão de Jolene,
de Dolly Parton, inédita na discografia oficial dos Stripes,
tendo sido lançada como b-side do single Hello Operator,
em 2000.
O garage rock de Black Math, Astro, Outlaws
Blues e Let's Shake Hands (lançada apenas em um single
em vinil) garantem a empolgação do show, mas são com as curtas
Hotel Yorba (2m15) e You're Pretty Good Looking (For
a Girl) (1m28), que a banda mostra como é capaz de fazer
a platéia pular e cantar. Isso sem contar o psychobilly Let's
Build a Home, que também empolga.
Meg não é mera coadjuvante. Ela mantém o pique durante todo
o show e mostra talento ao tocar Let's Shake Hands só
com uma das mãos e aceitar o duelo provocativo de Jack em Death
Letter. O show termina em grande estilo: Seven Nation
Army é a aula sobre como transformar um riff criado durante
uma passagem de som em sucesso planetário.
Para quem não viu o show barulhento que os irmãos protagonizaram
no Tim Festival 2004, no Rio de Janeiro, Under Blackpool
Lights é um excelente aperitivo, com imagem saturada, som
no talo e um bom repertório. Das 26 porradas, seis são
do álbum de estréia, White Stripes (1999), outras seis
são de De Stijl (2000), três são de White Blood Cells
(2001) e quatro são de Elephant (2003). As outras sete
são totalmente inéditas no Brasil, sendo duas delas retiradas
de lados b de single e as outras cinco nunca gravadas pela banda.
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