"Elephant" - White Stripes

por Marcelo Costa
maccosta@hotmail.com
20/05/2003

Uma das principais bandas do levante rock and roll que tomou a música pop nos últimos dois anos, o duo White Stripes escalou bem as paradas com seu Elephant, quarto disco da carreira lançado em todo mundo no mês de abril. O dito bateu o topo da parada inglesa e passeia pelo Top 20 norte-americano há semanas. No Brasil, as vendagens estão muito boas, ao menos nas lojas indies paulistanas. O que uma banda que faz rock garageiro, tosco e barulhento tem a dizer às massas é algo que nos faz perguntar e entender cada vez menos o público de música, mas se há um ponto positivo nesta história toda é que Elephant é um discaço.

São 14 músicas (13 originais em uma cover de Burt Bacharah) envoltas em seis capas diferentes que brincam com uma caçada a ratos enquanto no som reina muita, mas muita tosqueira. A banda de Robert Plant e James Patrick Page (aquela de Stairway To Heaven) é, novamente, influência direta, mas aqui e ali pintam resquícios de garageirices matadoras.

Quem é viciado em Internet ou tem algum amigo roqueiro que o seja, já deve ter ouvido o disco. Ou deveria. A V2 distribuiu o álbum em vinil para a imprensa no começo de janeiro, contando que, assim, estava dificultando a chegada do álbum à rede. O álbum vazou em fevereiro (todo mundo sabia que ia vazar), o burburinho começou (todo mundo, principalmente a gravadora, sabia que iria gerar publicidade) e, pelo que fica provado, não atrapalhou as vendas, muito pelo contrário.

Em Elephant, o White Stripes pinça detalhes que marcaram seus três álbuns anteriores. Tem canções cruas que poderiam se encaixar no álbum de estréia (os mais de sete minutos do blues Ball and Biscuit), canções mais leves que caberiam perfeitamente em De Stijl (o folk rock I Want To Be With The Boy) e porradas que não fariam feio no elogiado White Blood Cells (a terceira faixa, There's No Home For You Here, chega a emular o riff de Dead Leaves On The Dirty Ground).

Os White gastaram pouco mais que 10.000 doletas na produção/gravação usando só equipamentos anteriores a 1963, na ânsia pela busca incansável do som de garagem que a banda tanto se identifica (e longe da pasteurização de álbuns "produzidinhos" de bandas "concorrentes").

Das quatorze faixas, metade, pelo menos, é excelente. As outras (principalmente na segunda metade do álbum, que no vinil seria conhecido com "lado b") chegam a cansar um pouco, o que não tira o brilho da genialidade das primeiras faixas. Não é um álbum matador, mas vale a grana investida. Confira as 14 faixas do álbum e, de quebra, faça o jogo dos sete erros com as seis capas de Elephant:




Seven Nation Army

Primeiro single e, de cara, sinal de novidade: introdução com um guitarra em tons graves (que lembra muito um baixo) cheio de suingue remetendo a bacana banda Luscious Jackson, bumbo a frente e vocal rasgado. No meio, guitarras barulhentas. O riff/refrão é muito bom e Meg desce o braço na bateria. Para a pista. 

Black Math

A sujeira reina. Esporrenta, com vocais gritados e bateria retinha na linha Hotel Yorba, mas sem a leveza desta última. No meio, riffs metalizados.

There's No Home for You Here

Lembra Blur, cita o riff de Dead Leaves On The Dirty Ground do álbum anterior e fica no clima "silêncio/barulho" já característico da banda. Jack canta bem e lá pelo meio exibe seus dotes de guitar hero.

I Just Don't Know What to Do With Myself

Original de Burt Bacharah, que ficou famosa nas vozes de Dionne Warwick e Dusty Springfield nos anos 60, ganha uma versão leve, reverente e ultrabacana do duo. Jack encara bem a melodia vocal em um arranjo que remete ao Led Zeppelin de Houses Of The Holy. Refrão pesado (para variar) em uma das melhores canções de Elephant e que já vinha sendo executada pela banda há pelo menos dois anos em shows. Inicia a parte mais suave do disco e deve ser o segundo single.

Cold, Cold Night

Meg assume os vocais. Riff hipnótico à frente que se seguirá pelos três minutos da canção, acompanhada por um zumbido grave atrás. Meg praticamente declama a letra. No meio, espaço para um piano e batidinhas leves no prato da bateria.

I Want To Be The Boy To Warm Your Mother’s Heart

Outra canção mais leve. Lembra Bob Dylan e Rolling Stones.
Bateria mais cadenciada, piano, solo limpo de guitarra.

You've Got Her in Your Pocket

Introdução folk ao estilo Led Zeppelin III (lembra bastante Tangerine deste álbum) com Jack cantando a faixa mais suave do álbum, praticamente solo, só voz/violão. 

Ball and Biscuit

A alma de James Patrick Page volta a assombrar a banda. Em pouco mais de sete minutos, Jack e Meg fazem um blues pesado bem no clima do primeiro álbum da banda de Robert Plant. Faixa mais longa do disco que, por fim, acaba torrando o saco.

The Hardest Button to Button

Canção gêmea de Seven Nation Army. Bumbo a frente, vocal rasgado, guitarra atravessando e refrão "vamos quebrar tudo".

Little Acorns

Canção estranha. Um discursinho chato que dura mais de minuto e conta a história de uma tal Janet que é salva por um esquilo (???) é acompanhado por um piano. Logo depois a guitarra entra, pesada, barulhenta, mas não salva a música da chatice.

Hipnotise

Garage rock esporrenta de menos de dois minutos. Vocal à frente, bateria reta, umas quebradas aqui, outras ali. No meio, um riff bacana, pancadas na caixa da bateria, clima empolgante, porém bem déjà vu. E o White Stripes sendo White Stripes, sem novidades. 

The Air Near My Fingers

Por três minutos e quarenta segundos, Jack/Meg deixam de lado as semelhanças com o velho Led para se apoiarem no bom The Kinks. Riff lento, refrão melodioso, piano. Grande canção. 

Girl, You Have No Faith in Medicine

Clima festeiro em mais um bom garage rock. Para diferenciar um pouco, Meg usa os pratos mais do que de costume, mas continua parecendo White Stripes.

It's True That We Love One Another

Para fechar Elephant, um country brincalhão e divertido em dueto dos White com a inglesa Holly Golightly, outrora considerada a "rainha do garage rock".