Elefant
por
Juliana Zambelo
pocketbook.blogspot.com
02/09/2003
Pode começar a espalhar a notícia.
Mais uma banda acaba de sair de Nova York querendo abraçar o mundo.
Eles viram o hype e querem ser parte disso, aproveitar a chance para mostrar
a cara. Seu nome é Elefant, mas você pode chamá-los
de "a banda de Diego Garcia".
Porque o cara está sempre na
frente. Tudo que se fala sobre a banda, é sobre ele o comentário.
Assim como o Yeah Yeah Yeahs,
o Elefant resolveu que o caminho mais curto para o sucesso é se
fazer às custas de um vocalista boa pinta que, com seus sapatos
vagabundos, aparece em revistas descoladas de moda e comportamento. E a
música, onde fica? Tudo indica que ela tem ficado em algum lugar
lá no pé da notinha da coluna social.
Acontece que nem todos os leitores
da revista gringa que elegeu Garcia um dos nova-iorquinos mais carismáticos
devem saber, mas Elefant faz rock. O grupo lançou há poucos
meses, pelo pequeno selo Kemado, o seu álbum de estréia "Sunlight
Makes Me Paranoid". Um disco que, para seguir a regra dos debutantes do
novo milênio, é bem curtinho.
O Elefant é o irmão
mais novo do Interpol, resvalando
em todas aquelas bandas que esse grupo usou para forjar seu som: pouco
mais do que o pós-punk de Joy Division, Echo
and the Bunnymen e The Cure,
porém é mais solto e não tão “dark” quanto
os originais ou o próprio Interpol. Somam-se a isso umas introduções
chupadas de Strokes (que já eram surrupiadas de gente como Television)
e um cheiro bem leve, meio submerso, de coisas bregas dos anos 80, tipo
A Flock of Seagulls. Ou seja, Elefant é a típica banda ótima
de se odiar, com tão pouca criatividade e uma atitude tão
equivocada. Contudo, com essas influências deliciosas, seria preciso
fazer um trabalho muito relaxado para que a música não acabasse
saindo simpática aos ouvidos.
Mas "Sunlight Makes me Paranoid" é
só isso: insignificante em termos de qualidade e fraco no medidor
de diversão, porém fácil de ser absorvido. O baixista
é um sujeito esforçado, o baterista segura legal e o guitarrista
desempenha até que bem, porém Diego, o rei da montanha, o
latin lover filho de argentinos, deixa muito a desejar. Ele, que assina
sozinho todas as faixas, pode ser fotogênico, mas escreve letras
bem básicas e não pariu sequer uma canção realmente
marcante. Além disso, não canta lá muito bem, castigando
a sua voz comum com inflexões que só pioram a situação.
O álbum abre com "Make Up",
que é boazinha. "Misfit" e "Bokkie" são duas das faixas que
entregam a vontade de ser os novos Strokes. "Annie" é provavelmente
a que funciona melhor. Mas então alguém disse a Diego que
sua voz lembrava David Bowie. Foi quando o rapaz tentou fazer a sua própria
"Space Oddity" e compôs "Static on Chanel 4"; o resultado é
anêmico.
Ao menos Elefant assume uma posição
inteligente quando o assunto é troca de música na internet.
Eles têm sido incensados por ajudar as pessoas a piratear sua música,
incluindo no próprio CD as versões em MP3 de todas as faixas.
Tudo indica que a iniciativa foi, na verdade, do selo e não da própria
banda, mas seja de quem for, a idéia é ótima e só
traz vantagens. Porque ouvindo Elefant pelo método ilegal, quando
o álbum termina, você se sente aliviado. Primeiro que você
não precisou gastar nada comprando o CD pelo abusivo preço
do importado, já que nada faz crer que "Sunlight" vá sair
no Brasil tão logo. Depois, como ele não é longo,
você nem perdeu muito tempo para baixá-lo. Melhor assim.
A situação do auê
em torno dos grupos que têm despertado na cidade que nunca dorme,
promovido por parte da imprensa musical e por uma porcentagem do público,
é tão exagerada que nem dá para culpar gente como
o Elefant. A verdade é que eles sabem e nós sabemos que essa
é a única chance que eles terão de aparecer e que,
sem o empurrão de um modismo, esse grupo nunca sairia dos porões
de clubes fedidos. Mas hoje é assim: dizem que Nova York é
o centro do novo rock, que é a cidade onde uma banda precisa estourar
e que se ela consegue fazer isso lá, conseguirá em qualquer
outro lugar. Agora, leitor, se você vai levar a sério mais
esse elefante branco, isso é com você.
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