Yeah Yeah Yeahs
por Marcelo Silva Costa
Especial para a Rock Press
25/06/2003

Ela geme: "Você me faz... você me faz... você me faz... tiquetaque... tiquetaque". Por baixo dos tais gemidos, rock and roll barulhento e cheio de detalhes, dos bons, saca. Bom, estamos falando de mais uma banda novaiorquina, a salvação do rock, a melhor banda dos últimos tempos da próxima semana: o Yeah Yeah Yehas (nome pra lá de bacana, hein!). 

Mas será que eles são tudo isso ai, mesmo? Na verdade, nem precisam. Se o que interessa (e sempre deveria interessar) é a música, o trio Karen O. (vocal), Brian Chase (bateria) e Nick Zinner (guitarra) vai bem, obrigado. E, sim, eles não tem baixista (deve estar em falta no mercado, vide o White Stripes). 

Depois de dois eps barulhentos lançados por selos de renome na cena independente mundial (Touch and Go e Kill Rock Stars) que, juntos, não passavam de meia hora de música, mas encontraram mais de 70 mil compradores no mundo todo, chega ao mercado mundial (inclusive Brasil, via FNM), "Fever To Tell", primeiro álbum "cheio" da banda. 

Por mais que muita gente tenha caído de quatro pelo vocal sexy da mocinha Karen O. (pensa há quanto tempo não aparece uma garota interessante no rock? Isso, a menina é das melhores), o que chama a atenção é o som do trio: uma mistura de Cramps, Jon Spencer Blues Explosion e a new wave dos 80, muito equilibrada e muito tosca. Barulho!

Surgida em 2000, o Yeahs fez seu primeiro show junto com o White Stripes, quando o duo White ainda não tinha a fama que tem hoje. Karen e Nick começaram gravando canções em um gravador de quatro canais. Brian estudava no mesmo colégio que Nick. Numa virada de copo de uísque temos uma nova banda. A fama do trio só fez aumentar quando um integrante dos Strokes (a mais queridinha banda da cidade) apareceu em um programa de TV com uma camiseta do YYY. O burburinho começou a ponto da banda, apenas com um EP na praça, ter bootleg com 18 músicas rodando nas lojas.  

"Master", o tal primeiro EP, tinha cinco músicas, durava exatos 13m52s e trazia "Bang" (guitarra suingada, vocal sexy e refrão depravado), "Mystery Girl", "Art Star" (com refrão 'grindcore'), a sensacional "Miles Away” (com a guitarra emulando baixo até explodir no refrão pegajoso) e "Our Time" (Jon Spencer puro!). Agora, quer saber: nenhuma das cinco pedrinhas preciosas está em "Fever To Tell". 

E, melhor ainda: a banda não abdicou da tosqueira! Mesmo sendo lançado por uma major, "Fever To Tell" surge como um dos trabalhos mais rock and roll de 2003, até o momento. 

São 11 faixas, mais uma escondida. O clima começa porrada que segue até a quinta faixa. Depois, desacelera, fechando o álbum com duas (a última e a canção escondida) faixas mais, ahñ, leves. Numa das grandes estréias dos últimos tempos, o Yeah Yeah Yeahs promete fazer, ainda, muito burburinho. "Fever Bitch"? como tascou 80% da imprensa gringa. Pode ser, os gemidos não enganam. Nem o barulho. Rock and roll, manja. 


 
"Fever To Tell" - faixa a faixa
por Marcelo Silva Costa
Especial para a Rock Press

Rich

Começa com uma guitarra circular, bem bacana, e traz o vocal de Karen O abafado na mixagem.
Depois, ganha peso e ritmo. A vocalista brinca com a voz e lembra Patti Smith. Excelente abertura. 

Date with the night

Porrada. Guitarra tosca, bateria com base nos pratos e vocal sexy. 
No meio, muito barulho. Depois fica dançavel :) 

Man

Impossível não pensar em Jon Spencer e sua Blues Explosion nessa faixa. 
Mas a semeçhança é do bem. Rock dos bons com introdução suingada. 

Tick

Outro dos vocais sexy de Karen O que pedem para que a gente de um jeito de vê-la ao vivo. 
A base é truncada como na faixa anterior. A guitarra, suja, tenta competir com a bateria. 
Grande canção. 

Black tongue

Mais sujeira e a tosquice reina. O vocal novamente se destaca. Riff forte. 

Pin

Guitarra com eco em uma das melhores músicas de "Fever To Tell". 
Começa leve, descompromissada, e engata no refrão. Para a pista. 

Cold light

Outra de base suingada, com a bateria quebrando tudo e chamando a atenção para si. 

No no no

Bateria cadenciada, guitarrinha safada, vocal contido e uns breaks 
conduzem a tosqueira nessa que é a faixa mais longa do CD. 

Maps

Vocal cativante e guitarra de caixinha de bailarina em outra das grandes faixas do álbum. 
Arrastada e bem anos 80. É o grande momento do disco.

Y control

Duas guitarras se cruzam nessa que a faixa mais concisa do álbum, 
com bateria quebrada, mas certinha. Outra bem anos 80. Lembra um música normal. 

Modern romance

Para fechar o álbum, um riff hipnotizante que remete ao Interpol
Outro excelente vocal. Rock para dormir juntinho com seu par.