Terrorismo New Wave
por
Marcelo Silva Costa
maccosta@hotmail.com
07/05/2003
Dia desses, uma amiga jornalista me
perguntava: "O que você acha do novo rock underground nacional?".
A resposta abriu mil e uma possibilidades e análises. A mais grave:
não existe rock nacional hoje em dia. Ponto. Nas rádios e
na mídia só existe uma mera banda (Charlie Brown Jr, seis
anos) que não tenha menos de dez anos de estrada. Ou seja, todo
o novo rock nacional hoje em dia é independente.
O que a Bidê ou Balde tem a
ver com isso? Tudo. E nada.
Tudo porque a banda já foi
apontada como a bola da vez, a salvação do rock nacional,
quando do lançamento de seu primeiro álbum, "Se
sexo é o que importa, Só o rock é sobre amor".
E nada porque eles aprenderam, na estrada, que ter uma banda é mais
do que ter um passatempo. Ou seja, o reconhecimento vem depois. A história
dá voltas. Em 2001, a banda fez as malas, saiu de Porto Alegre e
veio morar em São Paulo. Assinou com o empresário Manoel
Poladian, colocou um mini-hit nas rádios ("Melissa") e faturou prêmio
de clip na MTv. Isso tudo até perder um guitarrista, romper com
empresário e voltar para Porto Alegre. No fim do ano passado lançaram
"Outubro Ou Nada", no Sul do país. Agora, o disco chega aos outros
estados. "Outubro ou Nada" é um quase disco-manifesto, pungente
e tocante, experimental e popular, na mesma medida. O Scream & Yell,
em parceria com a revista Rock Press, tomou um gatorade com a tecladista/vocalista
Katia Aguiar e depois foi acordar o vocalista Carlinhos Carneiro (isso
às 14h) para saber as novidades da Bidê ou Balde:
Como foi gravar o disco novo?
Carlinhos – Com certeza nós
conseguimos aquilo que a gente queria, que era fazer um disco melhor do
que o primeiro, pelo menos no nosso ponto de vista. A gente não
gostava nem um pouco desse disco. Com o tempo, nós começamos
a desvalorizar aquilo que a gente gravou e eu mesmo não conseguia
ouvir de forma alguma as músicas desse primeiro disco. Por isso,
a gente queria fazer um disco melhor, corrigir alguns erros. Muitas das
músicas do primeiro disco tinham sido feito na piadinha, muito no
bom humor. Queríamos corrigir isso, fazendo de um jeito que a gente
gostasse mais, que a gente se divertisse mais, porque a gente não
se divertiu tanto para fazer o primeiro disco. A gente fez meio que na
corrida, no stress. Era inverno, gripe o tempo inteiro, eu gravei pelo
menos duas músicas absolutamente sem voz, me esganiçando,
ganhei um problema de garganta na corda vocal que quase me fez operar a
garganta e até hoje eu tenho que ficar me cuidando por causa disso.
E esse segundo...
Carlinhos – O "Outubro Ou Nada" foi
muito mais relaxado. Acho que boa parte disso é mérito do
Sr. Thomas Dreher (produtor do disco) que é a calma em pessoa. Apesar
de ser um cara que está sempre tendo idéias, ele é,
ao mesmo tempo, um cara tímido e calmo. Para fazer o disco, nós
tivemos, antes, dois meses de ensaio com o Thomas.
Isso permitiu experimentar bastante
as músicas?
Carlinhos – Sim. O Thomas foi essencial
nessa parte, nos arranjos. Muita gente acha que as músicas desse
disco são sobras do primeiro e não são. Apenas duas
músicas são mais antigas. As outras são todas novas.
Tem muitas músicas em que só existia a base ou a letra e
a gente, junto com o Thomas, finalizou os arranjos nessa pré-produção.
O Thomas chegava e a gente começava a trabalhar em cima de uma música
e era uma música nova por dia. O Thomas levava a música para
o computador dele, recortava o que a gente tinha gravado na demo e dizia:
"Olha, quem sabe a gente começa assim" e ele começava a mostrar
vários trechos da música e a gente ficava negociando os arranjos.
(risos)
A gravação seguiu
o mesmo ritmo?
Carlinhos
– Foi muito legal, porque a gente já tinha experimentado, tinha
plena noção do que podia fazer com relação
a grana da gravadora. Não tinha delírios. No primeiro disco,
ainda dentro do estúdio, a gente delirava em trazer cordas e sopros
para gravar. Nesse não. A gente queria, mas achava que não
ia conseguir. Tínhamos entre nós essa idéia e comentamos
com o Thomas. Na hora ele disse: "Eu consigo". Nisso ele falou com o dono
da gravadora que disse que não tinha problema. Foi uma coisa muito
fácil que nós mesmos estávamos criando dificuldade.
Isso tudo facilitou o processo de gravação. Tudo que a gente
queria, pensava, a gente tinha de sobra, às vezes ia além.
Isso permitiu que o disco saísse do jeito que a gente queria.
Kátia – Na verdade, a gravação
desse segundo disco correspondeu a expectativa, em termos de clima, do
primeiro. No primeiro disco nós estávamos com aquele tesão,
aquela coisa bem juvenil de quem está começando, aquele frescor,
e a gente começou a tomar porrada. Começamos a ver que as
coisas não eram exatamente como a gente pensava, que nós
éramos inexperientes, que tem coisas que não davam para se
fazer no disco. E teve o problema do pessoal da banda estar cansado, gripado.
Agora, foi tudo diferente. Tanto que gravamos novamente no inverno, mas
a gente já estava mais preparado. A pré-produção
de dois meses ajudou no trabalho final, porque tem mão de todo mundo
da banda nas músicas.
Carlinhos – Todo mundo tinha idéia
sobre cada música e isso melhorou o resultado final. Ás vezes
um esquecia algo e outro virava, "Bah, poderíamos ter gravado aquela
guitarra que nós pensamos", e assim as músicas iam ficando
mais fortes. Todo mundo tinha refletido sobre as músicas, o que
não aconteceu no primeiro disco.
Eu achei esse segundo disco mais
conciso, ele parece um álbum...
Carlinhos – A idéia foi essa,
sabe. Alias, era idéia para o primeiro também. Eu dizia para
os guris que para gravar um disco não é preciso gravar um
disco qualquer. E muito do que me desiludiu com o primeiro disco foi isso.
Essa coisa de ele não ter uma cara de álbum. Lá tem
músicas que eram mais bem gravadas que as outras, pois eram as que
a gente iria usar para trabalhar em rádio, e outras mais desleixadas
porque não iam ser música de trabalho. Então, a gente
poderia ter uma música como "Gerson" muito mais bem gravada do que
como ela ficou. A própria "Vamos Para Uma Excursão". E as
duas poderiam ser músicas de trabalho, no lugar, por exemplo, de
"Sr Promotor", que é uma música completamente boba e infantil,
que deveria ser da Wonkavision
(risos) e que foi música de trabalho no Rio Grande do Sul. A gente
podia ter trabalhado "Gerson" ou mesmo até "K7", mas não
aconteceu. Agora, no novo, nós demos atenção especial
a todas as músicas. Às vezes, o Thomas mesmo vinha nos dizer
que nós estávamos dando muito trabalho para as instrumentais
e a gente nem ia colocar o nome delas no disco. Isso mostra como a nossa
preocupação mudou. E nós temos noção
que precisamos ir além, precisamos melhorar mais ainda com o tempo,
até chegar o auge da opera-rock (risos)
Tematicamente me pareceu um disco
mais sério. Vocês concordam?
Carlinhos – Sim, mas é tão
descontraído quanto o outro.
Mas músicas como "O Antipático"
e "Hollywood 52" soam mais sarcásticas...
Carlinhos – É que antes nós
fazíamos piadas com nossos amigos e agora a gente conheceu outro
universo para tirar sarro. (risos)
O disco tem todo um conceito na
parte gráfica...
Carlinhos – Sim, e tem a ver com as
coisas que a gente tava lendo na época da gravação.
Na verdade, nós temos em Porto Alegre alguns amigos que fazem um
movimento-piada que é o "Vive Le Flesh Nouveau!" que é para
ser tipo um desses movimentos de vanguarda. Nós inventamos isso
junto com esse pessoal, após assistirmos o filme "Videodrome" que
acaba com a frase "Longa Vida a Nova Carne". E era tudo para ser brincadeira,
tipo, toda vez que íamos numa exposição de arte, nós
esculhambávamos a ata colocando uma receita de carne, umas coisas
nada a ver. Com o tempo, o pessoal começou a aparecer com uns livros
diferentes, como o "Assalto
a Cultura", que foi um livro que abriu um leque enorme para todos nós.
Nos estávamos lendo isso justamente na época em que estávamos
morando em São Paulo.
Isso influenciou nas letras?
Carlinhos
– Em alguns momentos, mas mais nos nomes. "Dulci" é um exemplo.
Essa música tem a ver com essa história que a gente inventou,
eu e o Pedro (baterista), de urbanismo fantástico, que é
uma piada daquele urbanismo unitário do situacionismo, que é
uma coisa que até hoje é bastante difundida, essa coisa de
ambiente de trabalho com blocos que podem ser mudados a qualquer momento,
um ambiente unitário. E a gente pensou porque que as cidades não
podem ser assim? A gente estava em Campinas e ia no outro dia para Brasília.
Nós olhamos Campinas, abobados, e ficamos pensando em robôs
caminhando no meio da cidade, prédios de ponta cabeça, começamos
a sugerir várias coisas que criaram esse urbanismo fantástico.
Kátia – O encarte traz muito
isso, várias idealizações, vários arquétipos
do nosso urbanismos fantástico, como o eletrozôo, que é
um zoológico de eletrodomésticos, tem o robô...
Carlinhos – Isqueiros e réguas
nas esquinas para as pessoas poderem usar.
Kátia – É, um isqueiro
que nunca apaga (risos). Manteiga nas bombas dos postos de gasolina. Uma
praia que fique iluminada 24hs no meio da cidade. Está tudo no encarte...
Quem fez a arte?
Kátia – O Nic, que foi o mesmo
cara que fez a arte do nosso primeiro disco.
Carlinhos – Ele fez as ilustrações
e o Sapo, da Tom Bloch, fez a arte.
Quanto tempo vocês ficaram
em São Paulo?
Kátia – Seis meses...
Como foi voltar para Porto Alegre?
Carlinhos – Melhor do que ficar em
São Paulo. (risos) Foi legal porque nós voltamos com várias
coisas para fazer. Tínhamos vários shows marcados, o disco
todo na cabeça, várias músicas novas para se começar
a trabalhar nos arranjos.
Kátia – Muitas músicas
foram feitas em São Paulo e quando chegamos em Porto Alegre, o Sá,
nosso guitarrista, tinha a infra-estrutura de um estúdio na garagem
da casa dele. Com isso, começamos a montar de verdade o estúdio,
colocar novos equipamentos, material suficiente para ensaiar e começar
a produzir o disco.
Vocês chegaram a ficar parados
só montando o estúdio, preparando as músicas novas?
Pedro – Sim, foi um tempo longo, acho
que depois do verão de 2002.
Carlinhos – Isso. Durante o verão
nós fizemos um monte de shows no interior do Rio Grande do Sul e,
depois, nós escolhemos o novo guitarrista. O processo de seleção
foi durante o mês de fevereiro e foram mais de 400 inscritos.
Foi um concurso, certo?
Kátia – É. Tipo um vestibular.
Carlinhos – Foi difícil mesmo.
(risos)
Kátia – Nós mandamos
para os 400 inscritos um formulário com 144 perguntas...
Tipo?
Todos – Você já foi preso?
Você consegue dormir com música alta? Você consegue
dormir com gente fazendo barulho? Você consegue dormir com gente
pirando, fazendo barulho e ouvindo música alta? Você é
adepto do sexo solitário? Você consegue controlar seus gases?
Escreva sete linhas sobre a morte de Brian Jones... risos
Katia – As últimas cinco eram
sobre conhecimentos gerais de rock... e desses 400 candidatos, 200 responderam
o vestibular. Nos dividimos entre os sete da banda e fomos escolhendo.
Dos 200 ficaram 36 que renderam três dias de audição,
em que a pessoa ia, tocava e conversava com a banda, isso tudo filmado.
Teve gente que veio do Rio de Janeiro, muita gente do interior do Rio Grande.
Nisso, nós ficamos entre três caras legais e o Pilla acabou
entrando.
Ele se adaptou bem a banda?
Carlinhos – Bem e muito rápido.
Kátia – Na primeira semana.
Carlinhos – Quando a gente o chamou,
nós dissemos que ele estava muito bem cotado, mas que havia outros
dois. Um deles morava em Novo Hamburgo, o que ia dificultar muito nesse
lance de ensaios e tal. O terceiro era o Patrick, baixista dos Walverdes.
E o cara é muito bom guitarrista, mas, imagina, se ele entrasse
na Bidê iria ter que sair do Walverdes e, bah, nós somos muito
fãs da Walverdes, não queríamos que ele saísse
da banda, porque essa formação com o Patrick é a melhor.
Tanto que nossa primeira opção quando o Rossato saiu foi
convidar o Mini (guitarrista/vocalista da Walverdes) e acabamos pensando
a mesma coisa, não valia a pena.
Como é que está a
cena gaúcha agora?
Carlinhos – Eu acho que está
numa fase de renovação. Quando a Bidê surgiu, junto
com a Tom Bloch, Vídeo Hits, foi uma renovação de
uma cena que estava meio parada. Agora, parece que é mais ou menos
isso. A cena deu uma parada, deixou o regaee tomar conta e agora está
preparando-se para voltar. Porto Alegre está tomada por genéricos,
que é como nos chamamos os mods. É uma turma que sabe tocar
qualquer instrumento, toca muito e conhece muito de som. Antes eles eram
muito fechados, ouviam Yardbirds, The Who e coisas assim. Supergrass era
a única coisa recente que eles ouviam. Lá pelas tantas nós
conseguimos inseminar uns Blur, uns Flaming
Lips, uns Spiritualized,
e eles vão ouvindo e vão aceitando.
Katia – E tem as puta velha que estavam
adormecidas e que agora estão voltando. A banda do momento em Porto
Alegre é a Pata de Elefante, que é um trio instrumental afudê.
Carlinhos – São só os
três melhores músicos de Porto Alegre, é o Cream de
lá.
Katia – É a melhor banda dessa
cena, o destaque. Eles estão se preparando para lançar disco
e fazer mais shows fora de lá.
Carlinhos – Quando eles virem para
cá vai ter muita gente escrevendo na parede que Gabriel Guedes é
Deus!
Katia – Também tem Os Dissidentes,
que são uma banda de Canoas, que está todo mundo comentando.
O Pilla (guitarrista) viu o show e resumiu como "os Beatles com grunge".
Tem muita coisa legal acontecendo, mas não dá para analisar
direito, já que você vê numas casas sem nenhuma estrutura,
improvisada, mas há muito potencial.
O disco saiu em novembro, certo?
Como foi a repercussão em POa?
Carlinhos – Foi em novembro mesmo.
E "Microondas" foi muito bem nas rádios. Tem show em que ela é
mais cantada que "Melissa", por exemplo. "Matelassê", por ser mais
antiga, por a gente já tocar a mais tempo, também levanta
o público. "Hollywood 52" foi trabalhada só na Rádio
Ipanema e fizemos um show na Usina do Gasômetro (em POa) em que ela
foi cantada em coro e nos animou demais. Agora estamos trabalhando "Bromélias".
Estreou o clip dela, certo?
Carlinhos – É. Quem fez foi
o Marcelo Nunes, que foi o diretor de fotografia do "Melissa" e já
dirigiu "Lunático" da Cachorro Grande, entre outras coisas.
Vocês gostaram do resultado?
Carlinhos – Ficou muito bom. Ele simplificou
bastante essa idéia que nós temos de que a banda tinha que
aparecer tocando, e o resultado foi super simples, mas também super
chique, um plano seqüência sem cortes, um traveling passando
pela banda tocando e alguns detalhes bacanas como troca de roupas e instrumentos.
Coisa simples, mas que funcionaram super bem.
O que vocês andam ouvindo?
Katia – Cara, eu descobri uma banda
muito afudê chamada Hot Hot Heat, ando ouvindo direto. Isso junto
com uns bootlegs do Flaming Lips. Eu ando enfiada no "Yoshimi" e em suas
variações.
Carlinhos – Acho que todo mundo na
banda anda ouvindo muito Flaming Lips. Outro que eu ouvi muito foi o Supergrass
novo. Uma amiga minha trouxe de Londres o cd de uma banda chamada Simian
que é muito legal. Além de MQN, Mooney Susuky. Eu gostei
do Cooper Temple Cause também.
Katia – Ben Kweller a gente ouve nas
viagens...
Carlinhos – Eu acabei de comprar esse
"Transformer" remasterizado com bônus, do Lou Reed...
E os shows?
Kátia – Nós tocamos
muito no interior de Porto Alegre e agora viemos para esse show em São
Paulo, depois temos Curitiba, um lugar que nós nunca tocamos. Daí
voltamos para o interior porque tem muitas cidades que ainda não
conhecem o show novo, do "Outubro Ou Nada". E nós queremos tocar
em Belo Horizonte, que nós nunca tocamos, no Rio de Janeiro que
faz tempo que nós não fazemos show, provável que toquemos
em maio/junho lá.
Carlinhos – Nós estamos vendo
umas parcerias com bandas. Agora, por exemplo, estamos acertando vários
shows no sul com a Cachorro Grande e o Autoramas.
Toda essa parte de distribuição
é da Antídoto?
Kátia – Sim. O dono da gravadora
veio para São Paulo conosco para tentar acertar uma distribuição.
Quais as músicas preferidas
de vocês nesse disco novo?
Kátia – A que eu mais gosto,
que eu acho mais explosiva é "Hollywood 52", que é a que
eu mais gosto de tocar ao vivo. E a do meu coração é
"Bromélias", por causa do momento em que ela foi feita. Eu a acho
linda...
Pedro – Na verdade, cada um tem uma.
O Pilla responde de pronto que adora "Não Adianta Chorar". Eu gosto
de várias, como "O Antipático", a própria "Hollywood
52"...
Carlinhos – Eu gosto dessas duas...
mas a minha preferida no disco é "Cores Bonitas 2", aquela que vem
no final do disco. Como música eu gosto de "Impares Fantásticos",
a instrumental que vem depois da primeira "Cores Bonitas", porque me surpreendeu.
Eu não a conhecia e quando cheguei no estúdio, eles estavam
terminando de gravar e já fazendo a mixagem, tudo bem rápido.
Pedro – As que têm os arranjos
do Leonardo Boff são impossível não gostar.
Kátia – "Soninho" é
de chorar.
Carlinhos – "Dulci" ficou legal, porque
a letra foi escrita cinco minutos antes de gravar. A gente se juntou, principalmente
nós três, e escreveu a letra.
Kátia – O resto ia passando
no corredor e largando umas frases...
Carlinhos – A gente só tinha
a idéia... Essa coisa da Dulci querendo viajar... e em cinco minutos
a letra ficou pronta...
Kátia – E essa música
acabou crescendo na gravação, com o arranjo de vocal, porque
nós não tínhamos como prever como ia ficar, sem ter
a letra. Assim, com a letra, eu, a Vivi e o Thomas podemos inventar muita
coisa ali no estúdio e ficou muito legal. Foi uma surpresa.
Carlinhos – O refrão de "Hollywood
52" também nasceu no microfone do estúdio. Eu tava ali, com
a idéia, e então fui gravar todas as estrofes. Na hora eu
comentei com o Thomas que eu tinha umas idéias e ele mandou eu gravar
para a gente ver como ficava depois. Então eu gravei aquela parte
"todo paspalhão acha que o tal numa festa em Hollywood" bem baixinho
e ele e a Kátia me olhando e dizendo "o que é que você
quer mais, esse é o refrão"!!!!
Como foi morar em São Paulo?
Carlinhos – Bah, você viu. (risos)
Kátia/Carlinhos – Que pergunta
é essa? Quantos porres você não tomou lá em
casa... (mais risos)
Kátia – (séria) Foi
muito legal conviver como banda. Mudou nosso relacionamento totalmente.
A gente começou a entender como cada um era.
Pedro – Acho que a gente se tornou
uma banda quando viemos para São Paulo. Antes era uma reunião
de pessoas que estavam começando a se conhecer, mas nós nos
juntamos como banda aqui em São Paulo.
Kátia – É natural que
você se irrite com a lerdeza de um ou a rapidez de outro quando você
não tem um convívio. Agora, quando se mora junto, você
passa a entender melhor as pessoas. Você começa a entender
desde como um dobra as cuecas e outro conversa no telefone com os pais,
coisinhas mínimas, mas que fazem a gente entender cada um. Você
fica sabendo quem convidar para que tipo de balada e o que conversar com
quem, qual assunto interessa mais.
Carlinhos – O quanto de bebida deixa
o cara apto a fazer outras coisas depois, ou não.
Kátia – Tudo isso poupou tempo
da gente ficar irritado com bobagens, sabe. Hoje em dia a gente sabe aceitar
as coisas e pensar "o cara é assim". É uma banda grande,
de sete pessoas, totalmente diferentes, e essas coisas influenciam e muito
no nosso cotidiano. Na verdade, nós somos um seriado de tv (risos)...
então, para isso, foi excelente. Sem contar o fato de conhecer o
mercado, "a caverna do dragão"...
Carlinhos – Teve um momento bem difícil,
que foi quando o Rossato saiu. Foi foda porque o cara era nosso amigo,
gostaria que fosse meu amigo até hoje, e é um cara muito
afudê para se fazer festas, um cara muito afudê para tudo,
só que chegou um momento, que ali dentro da mesma casa, a galera
não estava conseguindo conviver, e o que ele passava para todo mundo
é que ninguém estava conseguindo conviver entre si. E lá
pelas tantas, quando rolou a briga mais violenta, que foi quando a gente
disse "ou a banda acaba ou ele sai", nós, naturalmente, tivemos
que provar para todo mundo que nós poderíamos se dar bem,
como banda. E nós nos damos perfeitamente bem. Assim, nós
fomos esquecendo algumas coisas que eram autoritárias entre nós,
que ainda existem, mas diminuíram, só que hoje em dia nós
estamos conseguindo ser mais relaxados e amigos, conhecendo um ao outro
e superando/ajudando o outro a superar seus erros. Ali foi um momento em
que a banda quase acabou, mas a gente teve que provar para nós mesmos
que poderíamos conviver juntos e conseguimos isso. Mas foi um período
difícil...
Qual a expectativa da banda na
questão futuro, carreira?
Carlinhos – Cara, eu vejo essa coisa
de carreira como ter um monte de discos afudê. O primeiro saiu meio
como uma brincadeira e agora nós parecemos uma banda e esse novo
disco é resultado disso. É o primeiro de uma leva. E enquanto
estamos tocando e divulgando as canções dele, já estamos
ensaiando/preparando novas canções, e são milhares
de músicas novas. Se bobear, a gente pode estar entrando no estúdio
em julho, se alguém convidar. É dessa forma que a gente vê
carreira hoje em dia. Não é uma busca determinada e rápida
pelo sucesso.
Kátia – Outra coisa é
que a própria estada em São Paulo nos ensinou: tanto conhecer
nós mesmos como conhecer a banda em si, onde é que a gente
quer estar, como é que a gente quer chegar. Eu acredito que o jeito
que optamos por fazer as coisas agora, mantendo a base no sul, e respeitando
o público que a gente já tem no resto do Brasil, é
a maneira certa de seguir. É isso que a gente quer fazer.
Carlinhos – Ou a gente é uma
banda que existiu e acabou rapidinho ou a gente vai se uma banda que sabe
que tem uma galera que gosta e que continua fazendo coisas que surpreendam,
tanto a nós mesmos quanto ao público.
Pedro – É isso mesmo, essa
coisa de fazer as coisas devagar, sem muita pressa, mas não negando
os meios que podem nos levar aquilo que a gente quer alcançar.
Carlinhos – Dentro dessa história
da busca do sucesso, dessas coisas, tem muita gente que ficou com ódio
de nós, mas tem outros que respeitaram e esse respeito que a gente
ganhou nos faz dar prosseguimento a coisa, mesmo que lá pelas tantas
a gente esteja trabalhando em uma máquina de xerox e gravando um
disco por ano. Mesmo que não esteja dando grana, acho que a gente
vai continuar fazendo isso por um bom tempo.
E o site?
Carlinhos – O site está quase
pronto, está bem "doente"...
Kátia – Ele é todo baseado
no projeto gráfico desse segundo disco e já tem algumas coisas
para se ir fuçando...
Carlinhos – Mais uma vez a gente criou
uma coisa meio difícil para o webmaster...
Kátia – Mas é mais fácil
para quem for acessar, é menos pesado e mais informativo. E também
será atualizado com mais precisão. A idéia principal
foi fazer um site que nós mesmos pudéssemos atualizar.
Carlinhos – Da outra vez a gente fez
um site muito massa, mas que a gente não tinha a mínima condição
de atualizar. A gente queria, mas não conseguia, porque ele era
cheio de linguagens complicadas que a gente não entendia. Agora
está bem legal!!
http://www.bideoubalde.com.br
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