"Nostalgia" - Sutil Companhia de Teatro
por
Marcelo Costa Fotos: Divulgação/Site Oficial
maccosta@hotmail.com
09/09/2001
A Sutil Companhia de Teatro está de volta à São Paulo. A Companhia
que tirou o herói pop Rob Fleming das páginas de Nick Hornby,
lhe dando vida em um palco escoltado por Bob Dylan e Kurt Cobain,
apresenta Nostalgia. A nova peça da turma de Guilherme
Weber e Felipe Hirsch não abandona o rock and roll, ao contrário,
anda de mãos dadas com violões e guitarras em um passeio na
memória.
Nostalgia ancora-se em John Fante para brincar com ficção
e realidade. Artur, o personagem principal, é inspirado em Arturo
Bandini, alter-ego do escritor norte-americano de Pergunte
ao Pó. Sua personagem, Camila Lopes, também é citada em
Nostalgia.
Um riff de guitarra da início a peça e, logo no primeiro minuto,
uma voz de mulher na secretária eletrônica lamenta o fim de
um relacionamento, dizendo: "Artur, eu não paro de ouvir esse
disco (na secretária eletrônica, God's Comic de Elvis
Costello). E esse também (Bonny, Prefab Sprout). Bob
Dylan disse que a nostalgia é a morte".
A frase e as canções transportam Artur (Guilherme Weber) para
a infância, aos 13 anos, e é ali, entre discos dos Smiths, histórias
de família, amigos viciados e paixões adolescentes, que a nostalgia
faz do passado, presente. A história é desenvolvida na memória
do personagem (um príncipe melancólico, segundo o pai) que,
relembrando situações da infância, acaba vivendo-as novamente.
Da primeira minhoca ao primeiro porre, de Beach Boys a Nirvana,
Nostalgia vasculha com piadas e desnudação de sentimentos
a memória do que fomos e somos.
Na entrevista que cedeu para o S&Y, quando da centésima apresentação
de A Vida é Cheia de Som e Fúria, Guilherme Weber, protagonista
das duas peças, comentava, feliz, da alegria de ver o público
jovem indo ao teatro. "O que me deixa extremamente feliz é que
estamos fazendo uma renovação de platéia. Porque poucos jovens
vão ao teatro no Brasil. A dramaturgia contemporânea hoje não
reflete nada que traga identificação a esses jovens. Não existe
uma produção contemporânea contundente, então nós estamos levando
ao teatro pessoas que, às vezes, nunca iriam ver uma peça, ou
pessoas que tinham abandonado o teatro com as lancheiras na
escola. Nós fizemos um espetáculo no meio dessa turnê, chamado
"Os Incendiários", e agora vamos estrear um novo, chamado Nostalgia.
E estamos sentindo que esse público jovem, que conquistamos
com o Fúria, está acompanhando o trabalho da Companhia.
Isso é bárbaro".
E a nova peça resgata esse elo. A Sutil Companhia revigora com
temática adolescente a paixão do jovem por si mesmo e, em contrapartida,
pelo teatro. É cultura pop falando de cultura pop, a associação
é imediata. Num exemplo direto, de uma citação de J. D. Salinger,
Artur relembra cronologicamente fatos importantes. Tem desde
o assassinato de John Lennon até a invenção do walkman.
Em comparação direta, Nostalgia está para Som e Fúria,
assim como Um Grande Garoto está para Alta Fidelidade.
Não é uma seqüência, mas, digamos, que já é um estilo. Nostalgia
é a décima-segunda montagem da companhia e traz, no elenco,
Erica Migon (que interpretava a mãe de Rob em Som e Fúria),
Ana Kunter, Beto Matos, Edson Rocha, Paulo Alves e Rosana Stavis.
Daniela Thomas assina a cenografia despojada e amplamente funcional.
E, sim, Nostalgia também tem projeções.
No mais, como não gostar de uma peça que começa com A Night
Like This do The Cure, tem Nick Drake no meio e fecha com
God Only Knows do Beach Boys? Teatro pop da melhor qualidade.
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