As Panteras Detonando
por Júlia Marina
julia@areaweb.com.br
15/07/2003

Existem realmente filmes que são feitos apenas para divertir, sem nenhuma pretensão de ser inteligente ou lógico. Tudo bem, faz parte do mundo do cinema, mas peraí! Tem gente que anda exagerando na dose e fica até complicado para escrevermos de um filme tão sem razão de ser, como acontece nesta nova aventura do diretor McG, "As Panteras: Detonando" (Charlie's Angels: Full Throttle - EUA, 2003). 

O enredo não poderia ser mais simples (na realidade, quase que não existe): as Panteras são chamadas para recuperar dois anéis secretos, que contêm informações sobre todas as pessoas que estão no Programa de Proteção à Testemunha dos Estados Unidos. Até aí, tudo bem... Temos uma trama banal para um filme despretensioso. Acontece que, na tentativa de tornar a história mais complexa e divertida, temos um filme totalmente incoerente, com um roteiro que parece ter sido recortado e colado sem nenhuma seqüência lógica. 

Partindo do pressuposto de se estar vendo a um filme besteirol, não levando a sério nada do que se passa na tela, "Panteras 2" é até assistível. Mas mesmo assim, alguns exageros e equívocos gritantes vão incomodar o público, e será impossível passarem desapercebidos. Entre os exemplos mais berrantes, temos a cena em que elas são baleadas pela ex-pantera Madison (Demi Moore) e ficam estiradas no chão como se estivessem mortas. Nós todos sabemos que elas não morreram, até mesmo porque estamos no meio do filme, mas o diretor insiste em tentar nos enganar, prolongando a cena. Mas, talvez, o momento mais bizarro, onde você pára e pensa ‘o que estou fazendo aqui? Que filme eu estou assistindo?’ é a cena onde Demi Moore salta de um prédio e, com uma capa num estilo meio Batman, simplesmente sai voando. Cabe ressaltar que gosto bastante de filmes de ação com suas cenas exageradas, que saiam da realidade, mas no caso das Panteras, tudo é muito desconexo e chega a nos ofender. 

E nem mesmo o discurso feminista, que foi usado com muita esperteza pelos produtores da série de TV nos anos 70, já convence mais. Todos sabemos que por trás destas ‘mulheres superpoderosas’ existe um homem, Charlie, que as comanda sem ao menos ser visto. Além disso, as Panteras foram criadas para mostrar que as mulheres podem fazer o que o homens fazem, porém com muita sensualidade. Desta forma, a série agradaria em cheio ao público masculino e feminino. Mas parece que a fórmula não está fazendo mais tanto efeito. E até mesmo nos EUA, onde o público costuma gostar de qualquer coisa, o filme não vem rendendo bons frutos, com uma bilheteria bem abaixo do esperado. 

Quanto ao elenco, a fluência entre as atrizes ainda é o ponto alto da produção. Lucy Liu, Cameron Diaz e Drew Barrymore parecem mesmo que se entendem, dando muita naturalidade à amizade entre as respectivas personagens (Alex, Natalie e Dylan). O ator Bernie Mac ("Onze Homens e Um Segredo") se sai bem no papel do assistente das meninas, Bosley, mas é pouco explorado e não se destaca tanto quanto Bill Murray na primeira produção. Já a sumida Demi Moore deslumbra com sua beleza (e magreza) , mas sua atuação como vilã não convence. Agora, as melhores seqüências do filme são, sem dúvida, aquelas protagonizadas por Matt LeBlanc (o Joey de "Friends") e John Cleese ("Monty Pythons"), com diálogos divertidíssimos. Já o nosso talentosíssimo Rodrigo Santoro faz uma pequena participação, como o vilão surfista Emmers, e apesar de estar sendo criticado por sua atuação ‘muda’, podemos considerar este pequeno papel como um bom início. Diga-se de passagem que vários hollywoodianos famosos começaram em situações bem piores. 

Destaque também para as referências a vários filmes, como "Matrix" (claro!), "Flashdance", "A Noviça Rebelde", entre outros; e pequenas pontas com alguns astros: Carrie Fisher ("Star Wars"), Bruce Willis e a ex-pantera da televisão Jaclyn Smith. 

Bem, "As Panteras: Detonando", assim como o primeiro, mas de forma mais desgastada, é um filme feito para mostrar as bonitas e engraçadinhas ‘angels’ de Charlie. E contando com a direção do videoclipeiro McG, que se diz fã incondicional da cultura pop, não poderíamos esperar muito. Aliás, só dessa forma dá para assistir a este filme: sem esperar quase nada!