O Descolado Que Saiu Deslocado.
por hugo
A culpada de tudo, a ruivinha que conquistou o meu coração: Drew Barrymore
Este filme, é, provavelmente, a decepção do ano. Tinha tudo para dar certo, pois como o original não era lá grande coisa, estava na posição confortável de jogar pelo empate. Era só sair um bom filme de ação para acompanhar a pipoca e todo mundo estaria feliz. Mas ...

Mas, faltou, principalmente, argumento e roteiro. Ambos são tão bem elaborados quanto os de um filme pornô, além de terem a mesma função: matar o tempo entre as cenas de ação.

Cenas essas, aliás, que são um caso interessante: usar os mesmos efeitos especiais de Matrix não é nada; a tecnologia está aí para ser desfrutada mesmo. O problema é copiar seqüências inteiras, coreografias completas e abusar delas. Matrix as usava com economia mas aqui, elas são tão longas e freqüentes, que caem no ridículo com facilidade.

Já as reviravoltas da trama e as soluções encontradas, constrangem qualquer criança que tenha lido um gibi de super-herói pelo menos uma vez na vida.

E por isso mesmo é curioso notar que o filme (talvez em um arroubo de auto-crítica) faz questão de não ser levado a sério e nos avisa sempre disso. Principalmente no início, o roteiro está cheio de piadinhas auto-depreciativas que dizem o tempo todo "prestem atenção em como somos despretensiosos e em como não nos levamos a sério" (sem contar que as piadas com anjos - angels - são tão repetitivas que enchem o saco). E isso, é claro, não passa de um habeas corpus preventivo contra a própria incompetência. Quiseram também fazer algumas gracinhas, mantendo algumas características da antiga série de TV (como elas cumprimentarem Charlie em coro, algumas das musquinhas de BG e a abertura inspirada na original), mas isso tudo é tão desesperadoramente antigo, que ao invés de soar descolado, soou deslocado.

Oh!, e por falar em gracinhas, temos que falar no elenco, não é mesmo? Todos parecem ter se divertido muito nas gravações e é engraçado rever Crispin Glover (o George McFly de De Volta Para o Futuro) que, infelizmente, parece só fazer dois tipos de papéis em blockbusters: o de idiota e o de idiota-que-pensa-que-é-durão. Bill Murray é o mala de sempre e Tim Curry (Corwin, o dono da Red Star) é o destaque, fazendo um vilão cômico, é claro, já que essa é a sua especialidade.

E esqueça Cameron Diaz, que é linda, óbvio, mas depende muito de efeitos especiais (ou você acha que aquele sorriso é natural? Pra mim, é computação gráfica); e preste atenção em Drew Barrymore (sósia da Chris Couto, pode reparar), que está tão sexy, que (juro) chegou a me doer o dente. E, sinceramente, com esta pantera, é muito bom ver as gordinhas serem devidamente valorizadas (é a vingança delas, depois de Alicia Silverstone ter sido apelidada de "Fatgirl" em Batman Eternamente. Meu Deus!, como as pessoas podem ser cruéis ...).

Ah, é ... e tem a Lucy Liu também, é claro (sabia que estava me esquecendo de alguém) ...

E uma coisa: é quase legal a maneira maliciosa como elas se apresentam no início, tendo uma atitude meio escrota em relação a tudo e encarando os homens da mesma forma com que nós encaramos as mulheres. Parece até algo feminista-razoável; mas depois tudo descamba e elas são apresentadas como meninas inocentes na mão dos homens maus (será por acaso que, dos dois mocinhos, um é homossexual e o outro é comparado a um pai, por elas?), sempre burrinhas e dóceis. Uma pena.

Mas, mais do que os atores (e muito mais do que o público), quem deve ter se divertido nesa história mesmo, foi o felizardo que fez a seleção da trilha sonora. Bastante eclética, não deu pra sacar nenhum critério específico, nenhum "tema". Cobrindo os últimos 30 anos, são só um bando (e que bando!) de sucessos e mega-hits manjadíssimos, mas que se casam perfeitamente com as cenas que acompanham, e soam, por isso, novinhas em folha. Algumas, aliás, parecem ter sido compostas exclusivamente para o filme, como Smack My Bitch Up (lição de Matrix e Clube da Luta: cena de ação em câmera lenta, acompanhada de música tecno, é supimpa).

Saldo final: não fosse eu um cara criterioso, que sabe escolher onde assistir os seu filmes, estaria reclamando o meu dinheiro de volta, pois nem como diversão descompromissada o filme serve. Mas como só gastei R$ 1,50, posso dizer que valeu a pena.

hugo ( hugolt@hotmail.com ) colabora com este zine, e declara que o seu coração sempre balançou entre Kelly e Sabrina (a primeira era mais sexy, e a segunda, mais inteligente). E é claro que ele está falando das originais!