Matrix Reloaded
por
Marcelo Costa
maccosta@hotmail.com
15/05/2003
Muito complicado arriscar falar de
"Matrix" frente a todo bombardeio que a mídia irá lhe impor,
caro leitor, nos próximos meses. Sim, meses. Porque nem bem um filme
estréia, o trailer do próximo episódio já engorda
os créditos e aguça o desejo do cidadão prostrado
na sala de cinema. Isso que dá lidar com experts em cultura de massa.
Mas o que de relevante há para se falar sobre "Matrix Reloaded"
que ninguém tenha falado? Olha, quer saber a verdade: muita coisa.
Antes de tudo, é necessário
que seja dito que o filme é bom, muito bom. No quesito diversão,
"Matrix Reloaded" é praticamente perfeito. Algumas das tão
faladas cenas de luta são geniais embora cheguem a cansar, mas a
tal da perseguição numa auto-estrada é simplesmente
sensacional. No quesito seqüência, como era de se esperar, fica
devendo ao original, mas até que se sai bem. O problema, na verdade,
é levá-lo a sério demais.
Tanto produtores quanto o pessoal
da direção vem dizendo em entrevistas e materiais de divulgação
que há em "Matrix" uma filosofia e diversos ganchos, tanto religiosos
quanto de fragmentos de cultura pop. O próprio site oficial mantém
páginas em que professores PhD discutem o assunto. Bem, se você
acabou de pensar que, entre um Phd em filosofia e um mero resenhista como
eu, o cara certo a opinar sobre o filme é o tal Phd, você
caiu na grande e excelente armadilha marketeira que cerca a todos nós.
Porque já não mais interessa o que você vê (o
filme em si), e sim o que você pode extrair dele fora da sala do
cinema.
Nos 99 minutos que duram "Matrix Reloaded"
você irá ver lutas, explicações teóricas
sobre computação e o universo Matrix (em si, um conceito
genial), algumas tiradas engraçadas, uma boa dose de sexo e muita
conversa para nerd dormir. Isso tudo porque o universo Matrix idealizado
pelos Irmãos Wachowski é bastante semelhante ao que George
Lucas montou com "Star
Wars". Ou seja: a história, ali, na cadeira de cinema, às
vezes pouco importa. O que cada citação abre em possibilidades
é o que interessa mais no mundo real. Será?
Pode ser que sim, pode ser que não.
O fato principal é que se como conceito e realização
sobra grandiosidade no filme, como arte cinematográfica "Matrix
Reloaded" é completamente vazio. Falta alma em uma obra que pretende
mostrar como o homem (dotado de sentimento) se saíra na tentativa
de salvar seu povo de ser extinto pelas máquinas. E pior: tudo relativo
a emoções em "Matrix" carrega nas tintas do sexo, como se
amor e amizade fossem menores. É tudo planejado demais, mecânico
demais, certinho demais, até o tédio.
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Isso quer dizer que tudo no filme
é ruim? De maneira alguma, se assim fosse eu não iria gastar
mais de 3000 toques enaltecendo seus defeitos. É de se reconhecer
o aperfeiçoamento nos detalhes de filmagem. Tanto na citada cena
da perseguição quanto em trechos como o da luta de Neo (Keanu
Reeves) contra 100 réplicas de Agentes Smith ou quando Trinity (Carrie-Anne
Moss) atravessa a janela de um prédio e cai, atirando, é
de se chapar os olhos. Aliás, Trinity é o grande nome desse
episódio. Em várias passagens ela reina absoluta. A opção
por apresentar situações de romance, disputas por poder e
muito ciúmes (mesmo que, de certa forma, em doses erradas) é
um ponto a se louvar neste segundo episódio.
O grande problema é que todo
o blá blá blá conceitual a respeito de vivermos em
um mundo paralelo é bastante interessante, mas não sustenta
o filme quando Neo demonstra poderes paranormais ou se põe a brincar
de Super Homem. Nesse fragmento de deja-vu toda o reino matrix cai por
terra. Porque, se é diversão por diversão podemos
assistir "Onze Homens e
Um Segredo". E filosofia por filosofia, "Waking
Life".
Assim, na vã tentativa de unir
uma pretensa estética gibi com pretensiosas citações
de filosofia, "Matrix Reloaded" acaba deixando o público perdido,
o que justifica muito de sua campanha promocional e de toda cultura de
massa hoje em dia: não pense. Assista. Compre. Devore. Leia. Se
o próprio "escolhido", Keanu Reeves, assume em entrevistas que não
entende a teoria da trilogia "Matrix", o que dizer de nós, simples
mortais. Mas, citando uma frase que aparece em várias seqüências
do filme: "a escolha é sua".
É claro que, como diria Lao
Tzé (dizem que há muito de budismo no filme... dizem), não
existe escolha certa ou errada. Apenas existe você. Afinal, tudo
depende de como você vê o mundo que o cerca. E você realmente
vê o mundo que o cerca, caro leitor?
Eu disse que era muito complicado
falar sobre "Matrix", não disse?
Ps. Deve ser muito legal falar palavrões
em francês... aliás, por que os franceses são sempre
bandidos nos filmes norte-americanos? :)
Ps.1 - Monica Bellucci como Persephone.
Por Deus...
Ps.2 - Tem até rave.
Ps.3 - Na verdade, um subtítulo
bacana para o filme seria "Sexo, Porradas e Computadores".
Ps.4 - Ou então, "A Guerrilha
contra os Nerds"
Ps.5 - A Persephone...
Ps.6 - Cuidado com bolos de chocolate...
Ps.7 - Tá, acabou. Mesmo?
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