Oscar 2025: Resultados do BAFTA, maior prêmio do cinema britânico, embaralham ainda mais as previsões para o Oscar

texto de Alexandre Inagaki

Saíram os resultados do BAFTA, a maior premiação do cinema britânico. Eles tornaram o Oscar mais imprevisível do que já estava. E o coração do cinéfilo brasileiro, que foi avassaladoramente tomado pela torcida para “Ainda Estou Aqui”, passará por um alucinante teste para cardíacos quando os vencedores do careca dourado mais cobiçado do cinema mundial forem anunciados no dia 2 de março.

Mas, antes de mais nada, é importante fazer a seguinte ponderação: o BAFTA é uma premiação que ainda é consideravelmente mais conservadora e bairrista do que o Oscar. Filmes europeus e, claro, os britânicos, costumam ser favorecidos nos resultados. Não à toa, o vencedor do BAFTA 2025 de Melhor Filme foi “Conclave” (que, não por coincidência, ganhou também o BAFTA de Melhor Filme Britânico).

Enquanto o movimento #OscarsSoWhite, que tomou as redes sociais em protesto pelo fato da Academia ter indicado, nos anos de 2015 e 2016, apenas pessoas brancas nas 4 categorias de atuação, catalisou um movimento inclusivo que perdura até hoje, de indicar mais profissionais de outras etnias e nacionalidades para integrarem os quadros de votantes do Oscar, no BAFTA essas mudanças só foram iniciadas em 2020, após a edição daquele ano na qual todos os atores e atrizes indicados eram brancos e nenhuma cineasta mulher concorreu ao prêmio de Melhor Direção. As mudanças no comitê britânico começaram anos depois da Academia de Hollywood, e ainda estão ocorrendo a passos de tartaruga.

Cinéfilos de todo o Brasil: não se desesperem, pois, pelo fato de “Emilia Pérez”, mesmo após todos os escândalos e críticas que tomaram as redes no final de janeiro, ter vencido o BAFTA de Melhor Filme em Língua Não Inglesa. Vamos lembrar que:

A) Os eleitores do BAFTA, além de mais conservadores, são menos afeitos às influências de redes sociais e resenhas em blogs e YouTube, ambientes nos quais “Emilia Pérez” está comendo o pão em que o diabo cuspiu, defecou e fez todas as trends de TikTok antes de amassá-lo;

B) “Ainda Estou Aqui” ainda não estreou nas salas de cinema do Reino Unido. Lá, a distribuição não ficou a cargo da Sony Pictures, responsável por toda a campanha de marketing até agora muito bem-sucedida e 100% focada no Oscar;

C) O período de votação no BAFTA começou em 22 de janeiro, antes dos tweets radioativos de Karla Sofía Gáscon virem à tona, e terminou em 11 de fevereiro. Muitos eleitores votaram antes de serem impactados com a repercussão catastrófica das postagens da protagonista de “Emilia Pérez”.

D) Os últimos filmes sul-americanos vencedores do Oscar de Melhor Filme Internacional foram o argentino “O Segredo de Seus Olhos” (2010) e o chileno “Uma Mulher Fantástica” (2018). Nenhum deles levou o BAFTA, e a produção chilena sequer recebeu indicação. Vale lembrar também que, no Oscar, “O Segredo de Seus Olhos” derrotou “Um Profeta”, do mesmo Jacques Audiard que dirigiu “Emilia Pérez”. E que Audiard é queridinho dos britânicos; jamais ganhou o Oscar, mas acumula 5 indicações e 3 vitórias no BAFTA (por “EP”, “Um Profeta” e “De Tanto Bater, Meu Coração Parou”).

Claro: não podemos ignorar a resiliência de “Emilia Pérez”. Continuo afirmando que “Ainda Estou Aqui” é o atual favorito ao Oscar de Melhor Filme Internacional, mas a peleja está longe de ser decidida e todo o Brasil prenderá a respiração nos segundos que se arrastarão entre a abertura do envelope do Oscar e a revelação do vencedor.

Em meu artigo anterior para o S&Y, escrevi: “Se o BAFTA de Melhor Atriz for parar nas mãos de Cynthia Erivo, Marianne Jean-Baptiste, Karla Sofía Gascón ou Saoirse Ronan, ótimo para o Brasil. Agora, se a ganhadora for Mikey Madison por ‘Anora’, segurem-se nas cadeiras: Moore, Torres e Madison disputarão voto a voto o Oscar de Melhor Atriz e qualquer uma das três poderá ter seu nome anunciado quando o envelope for aberto no dia 2 de março”.

Que boca santa, hein? O BAFTA foi para Mikey Madison, e agora podemos dizer que a corrida pelo Oscar embolou de vez. A próxima cerimônia que dará mais luz aos palpiteiros da vez será o SAG Awards, prêmio do Sindicato dos Atores de Hollywood, cujos resultados serão anunciados no próximo dia 23. Mais uma vez, os brasileiros precisarão secar Demi Moore (que assumiu total favoritismo ao prêmio após ter vencido o Globo de Ouro e o Critics’ Choice Awards), já que Fernanda Torres não foi indicada. As concorrentes de Moore são: Gascón, Cynthia Erivo (“Wicked”), Pamela Anderson (“The Last Showgirl”) e Madison.

Como os votos para o SAG Awards foram finalizados antes do cancelamento de Gascón e os vencedores serão anunciados após o término das votações para o Oscar (em 18/2), sua importância será mais no sentido de servir como um termômetro das preferências dos atores e atrizes sindicalizados. Minha torcida é para que a ótima atuação de Erivo leve ao menos uma premiação significativa da temporada, indicando que, no Oscar, os votos norte-americanos estarão pulverizados entre várias candidatas.

E quanto ao Oscar de Melhor Filme? Se na outra semana “Anora” assumiu claro favoritismo para conquistar a estatueta principal após as vitórias nos Sindicatos dos Produtores e dos Diretores, agora contabilizou também o prêmio do Sindicato dos Roteiristas na categoria de Melhor Roteiro Original (“Nickel Boys” levou o de Melhor Roteiro Adaptado). Por outro lado, o BAFTA deu o prêmio de Melhor Filme para “Conclave” e de Melhor Direção para Brady Corbet, por “O Brutalista”. Tanto “Conclave” quanto “O Brutalista” foram os maiores vencedores da noite, com quatro prêmios para cada um.

Ou seja: justamente nas 3 categorias do Oscar para as quais “Ainda Estou Aqui” recebeu indicações, as disputas permanecem em aberto. Como diria Galvão Bueno: haaaaaaaaaja coração, torcida brasileira!

* * *
P.S. 1: Se Adrien Brody (“O Brutalista”), Kieran Culkin (“A Verdadeira Dor”) e Zoe Saldaña (“Emilia Pérez”) ganharem, respectivamente, os prêmios do Sindicato dos Atores nas categorias de Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Atriz Coadjuvante, você já terá pelo menos 3 palpites quase certeiros para o seu bolão. Mas, por enquanto, ainda não descarto totalmente as chances de Timothée Chalamet, Edward Norton (ambos de “Um Completo Desconhecido”) e Ariana Grande (“Wicked”).

P.S. 2: Mais uma estatística interessante comparando os resultados de Oscar e BAFTA. No ano passado, você pode ter visto em algum lugar que os vencedores de ambas as premiações foram exatamente os mesmos nas 8 principais categorias (Filme, Direção, Roteiros Original e Adaptado e as 4 categorias de atuação). Em compensação, você sabia que em 2023 Oscar e BAFTA divergiram completamente nestas mesmas 8 categorias? Vamos torcer para que 2025 siga o bom exemplo de 2023, e “Ainda Estou Aqui” entre de vez para a história do cinema brasileiro e mundial.

– Alexandre Inagaki é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, e consultor de mídias sociais. Já escreveu para a Rolling Stone Brasil, Trip e foi responsável pela criação e planejamento de campanhas online para Coca-Cola, Sony Pictures, entre outros. É curador da Campus Party e youPIX Festival. Publica textos na internet desde 1999. Começou em blogs coletivos e em seu próprio e-zine, chamado SpamZine. Além do Pensar Enlouquece, também foi um dos criadores do InterNey Blogs, um portal brasileiro de blogs.  (linktr.ee/alexandreinagaki)

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