Três perguntas: Matu Miranda apresenta seu disco “Matutando”, obra que casa a MPB e o jazz de maneira interessante

entrevista de Renan Guerra

Para entender o som de Matu Miranda é importante entender um pouco de suas andanças. Cantor, compositor e violonista nascido em Campo Grande (MS), Matu atualmente mora no Rio de Janeiro (RJ), porém, durante a pandemia, ele assumiu uma condição nômade e mergulhou em processos criativos diversos, com parceiros musicais espalhados por diferentes regiões brasileiras. Nesse tempo, se dividiu muitas vezes entre o Rio e a cidade de Fortaleza. “O projeto do disco nasce nesse contexto de impermanência… O que se reflete no repertório, pois cada faixa de alguma forma é um universo em si”, explica Matu. Dessas viagens e dos muitos encontros no caminho, Matu foi construindo uma sonoridade que amalgama influências, partindo do pop e da MPB e se encontrando com camadas do jazz, do soul e dos diferentes ritmos da música nordestina.

Todo esse processo resultou no primeiro disco do artista, “Matutando” (2024), lançado em setembro deste ano. De caráter autoral, o disco apresenta composições assinadas por Matu Miranda, bem como por parcerias ao lado de diferentes nomes. Algumas dessas parcerias se encontram bem perto de Matu e o auxiliam em um casamento bastante caro para o artista: o encontro entre a MPB e o jazz, algo que vem de pesquisas musicais e colaborações com o padrasto Carlos Malta e o padrinho Arismar do Espírito Santo, dois mestres do jazz brasileiro. Para seu disco de estreia ele ainda conta com parceiros diversos na hora de dar vida às canções, seja no encontro com a voz de Lenine ou com os instrumentistas de diferentes regiões, como o gaúcho Bebê Kramer.

Além dos encontros e viagens, há outra experiência importante na bagagem de Matu: uma bem sucedida participação na edição de 2023 do programa The Voice Brasil, da TV Globo. Um dos mentorados do time de Carlinhos Brown, Matu chegou à semifinal do programa, fato que ajudou a consolidar seu nome entre uma boa parcela do público e auxiliou com que ele circulasse mais por shows, festivais e eventos internacionais. De todo modo, essa trajetória de diferentes possibilidades não afastou Matu de uma identidade bastante própria, que se aprofunda em sua sensibilidade para gerar canções que conseguem se apresentar de forma bastante pop, mesmo que engendradas em construções complexas e com interessantes camadas.

Aqui no Scream & Yell, Matu Miranda respondeu às nossas três perguntas que apresentam seu disco “Matutando” e falam um pouco mais sobre a trajetória e os desejos do artista. Confira abaixo:

Você nasceu no Mato Grosso do Sul, já morou em Fortaleza, hoje reside no Rio de Janeiro e após a experiência da Covid-19 você também viveu experiências que se aproximam da vivência nômade. Como essas experiências viajando pelo Brasil e pelo mundo influenciaram na composição das faixas do “Matutando”?
Eu acho que a possibilidade dos encontros com pessoas que te movem, que te inspiram em outras direções, seja a parte fundamental do processo de “Matutando” dentro dessa vivência nômade. Porque o disco em si é um retrato desses diferentes caminhos. Cada faixa é uma produção em si, com músicos de diferentes lugares e essa narrativa é tecida em contraste com esse movimento de impermanência e tudo isso me inspira a seguir em movimento.

O seu som habita um casamento muito interessante entre a MPB e o jazz, se casando com diferentes gêneros o baião, o xote, entre outros. “Lunar”, por exemplo, tem muito do jazz mas traz um outro casamento super interessante quando temos a introdução do acordeon bastante gaúcho de Bebê Kramer, por exemplo. Como funcionam esses casamentos sonoros para você? Como você compõe acompanhado do violão, queria entender como essas sonoridades surgem, foi algo natural na produção?
A respeito da fusão dos gêneros das linguagens acho que é uma coisa muito natural para quem é brasileiro e cresceu ouvindo MPB e tudo o que é esse caldeirão, essa amálgama de linguagens, de sons que se misturam ao longo da história. E eu acho que surgiu de maneira muito natural durante o processo de produção das faixas esses convites, esses encontros. O Bebê é um acordeonista gaúcho, mas que toca uma música do mundo, ele realmente transita por onde ele quiser e por isso que eu soube que ele se sentiria muito confortável nessa música e é uma alegria muito grande ter ele junto, sinto que enriqueceu a canção. Todo o processo é muito divertido, o Bebê uma pessoa muito divertida, quem conhece sabe. E foi maravilhoso contar com ele e com o Tunico Secchin também gravando o sax soprano nessa música.

Você teve recentemente experiências de tocar na Rússia, como parte do festival internacional “BRICS Young Winds Music Show”, onde se apresentou em Sochi e São Petersburgo, agora você está partindo para uma turnê internacional. Queria entender como essas experiências no palco ao redor do mundo tem influenciado nas suas sonoridades e na forma que as canções do “Matutando” ganham ao vivo?
Bom, essas experiências todas têm sido muito enriquecedoras. Eu saí do Brasil a primeira vez esse ano indo pra Sochi, primeiro indo para Istambul fazer escala e indo pra Sochi em seguida. Foi a primeira vez que eu saí do Brasil com a minha música. Isso é muito recompensador. A experiência na Rússia foi completamente diferente de tudo que eu já tinha vivido, no sentido artístico inclusive, porque era um megaevento super pop, uma coisa mais a nível de entretenimento, de show, do que eu estou acostumado a fazer que é mais intimista, ligado a música em si. Mas tudo isso tem sido muito enriquecedor e as canções acabam ganhando novas versões praticamente todo o show que eu faço, porque eu vario muito as formações da banda, os formatos, faço muitas vezes solo também. Quando eu faço solo eu sinto que eu interpreto as músicas de maneiras diferentes, mudo, faço variações melódicas e acho que tudo isso é fruto dessa liberdade que eu prezo na minha música.

– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Faz parte do Podcast Vamos Falar Sobre Música e colabora com o Monkeybuzz e a Revista Balaclava

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