texto por Paulo Pontes
fotos por Fernando Yokota
O rock tem dessas, né? De tempos em tempos surgem bandas que, de certa forma, servem como porta de entrada para adolescentes e jovens que passam a se aventurar no universo da música pesada. Pode parecer exagero (e talvez seja), mas é factível falarmos que o Evanescence é uma dessas bandas.
Em 2003, ano em que o grupo capitaneado pela talentosíssima Amy Lee lançou seu álbum de estreia, “Fallen”, vi de perto esse movimento (outro nome que teve esse papel à época foi o Linkin Park). Eu já tava em outra, inserido no rock/metal por outras frentes, mas essa influência do Evanescence é inegável.
Dito isso, não surpreende tanto (pelo menos não era pra surpreender) que a banda tenha aterrissado no Brasil, para sua atual turnê, de maneira tão celebrada. E eis que aqui, mais precisamente em São Paulo, em 21/10, no Allianz Parque (que por outro lado ficou grande pro evento) que o grupo fez, até então, seu maior show na história. Alerta de spoiler (se você perdeu): foi um ótimo show.
Antes do quinteto norte-americano subir ao palco, o público foi agraciado com uma excelente apresentação da banda Ego From Alaska… não, espera… Ego Kill Talent. Brincadeiras à parte, metade do Far From Alaska subiu ao palco, a vocalista Emmily Barreto, que foi oficializada como nova integrante do Ego Kill Talent, e o guitarrista Rafael Brasil, que assumiu as seis cordas (vez ou outra o baixo) no lugar de Jean Dolabella, que está em turnê na banda de apoio da Pitty.
Foi um show curto, mas suficiente pra mostrar três coisas: primeira, o som estava impecável, principalmente se formos considerar que era o show de uma banda de abertura; segundo, as quatro faixas novas apresentadas (duas já lançadas nas plataformas digitais e outras duas que ainda serão divulgadas) são excelentes; e, terceiro, a banda acertou muito, mas muito mesmo ao recrutar Emmily Barreto para os vocais.
O grande destaque fica para “Call Us By Her Name”, lançada recentemente como single. Refrão forte, levada cativante e palatável (quase comercial), uma das melhores músicas de uma banda brasileira lançadas neste ano, sem brincadeiras. E ao vivo ficou foda. No geral, o Ego Kill Talent foi muito bem recebido e Emmily estava completamente à vontade em sua nova banda. Vale a pena ficar ligado nos próximos lançamentos do grupo.
Com um atraso mínimo, cerca de 5 minutos, o Evanescence deu as caras com “Broken Pieces Shine”, faixa do mais recente disco da banda, o bom “The Bitter Truth” (2021). Aí já deu pra perceber que Amy Lee está cantando como nunca. Um controle de voz e uma extensão vocal absurda. O palco era simples, mas com um sistema de iluminação muito bem sincronizado, que fez toda diferença no show.
Além de Amy, a mais recente formação do Evanescence traz Troy McLawhorn e Tim McCord nas guitarras, Emma Anzai no baixo e backing vocals e Will Hunt na bateria). Este último, importante destacar, é um monstro das baquetas. Com certeza, o grande destaque ao lado da vocalista. Apesar das guitarras pesadas e bem timbradas, vem de Will a grande massa sonora que deixa o som do Evanescence com mais punch ao vivo.
O público (que nitidamente era reduzido para um estádio do tamanho do Allianz — a pista premium, por exemplo, tinha vários “buracos”) agitou muito desde os primeiros acordes. E logo na terceira música a banda presenteou a galera com a já clássica “Going Under”.
Se somarmos ao setlist as músicas presentes em dois medleys executados — em um deles a banda inseriu “Everybody’s Fool”, faixa que facilmente poderia ter sido tocada na íntegra —, um mais pro início e outro mais no final do show, foram 24 canções executadas. E olha que são apenas quatro discos de estúdio (tem banda aí com mais álbuns na carreira que tem dificuldade pra montar um set bacana, hein?!). Quer dizer que todas as músicas são boas? Definitivamente, não! Mas o show foi bem estruturado pra não deixar o clima cair.
Vale mencionar o esforço que Amy fez pra se comunicar, ainda que pouco, em português (rolou até um trecho de uma música inédita, na nossa língua, no final da balada “My Immortal” — que rendeu um show à parte do público). A vocalista estava visivelmente emocionada com a recepção e o carinho da galera presente.
No meio de tudo isso ainda rolaram bons momentos com “What You Want”, “Call Me When You’re Sober”, “Imaginary” e “Use My Voice”. E pra fechar a noite, aquela que é a maior (em popularidade) música da banda: “Bring Me To Life”, com direito a papel picado e fogos de artifício acima do Allianz ao final. Um ótimo show de uma banda competente, que já faz parte da história e que mostrou ainda ter seu espaço na música pesada.
– Paulo Pontes é colaborador do Whiplash, assina a Kontratak Kultural e escreve de rock, hard rock e metal no Scream & Yell. É autor do livro “A Arte de Narrar Vidas: histórias além dos biografados“.
– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: http://fernandoyokota.com.br/