15 anos atrás, Danilo Corci e Ricardo Giassetti decidiram fazer uma pergunta: e se um disco virasse literatura? Nascia a Mojo Books, primeira editora 100% digital do Brasil, que de dezembro de 2006 até dezembro de 2012 explorou de maneira diversificada essa possibilidade, lançando mais de 130 volumes de livros inspirados em discos.
O Scream & Yell tem a honra de republicar os livros da Mojo em seu aniversário de 15 anos buscando manter o acervo da editora online (enquanto também estivermos online). Toda segunda, um livro da Mojo novo sobre um disco! O décimo-sétimo volume da série (os anteriores estão aqui) tem como inspiração o clássico “Endtroducing”, de DJ Shadow, recontado por Filipe Luna.
Lançado em setembro de 1996, “Endtroducing” é “um verdadeiro marco da história do rap contemporâneo. Nunca um disco de samplers havia soado tão coeso, ao mesmo tempo em que transgredia barreiras de gênero. Desde figuras do rock inglês até renomados produtores, são vários os nomes que já citaram o álbum como referência”… Baixe o PDF ou leia online!
BAIXE O MOJO BOOK 017 EM PDF AQUI
Não dava para precisar o que estava mais quente, se era minha cabeça que fervia de raiva e quase cozinhava o sangue que jorrava do meu supercílio ou as minhas pernas presas nas ferragens, que ardiam fedendo a gasolina. O sangue, as ferragens, a gasolina e os cacos de vidro eram culpa do meu carro, um fusquinha branco que o Ricardo tinha me vendido quando eu ainda estava na faculdade e que, assim como o antigo dono, sempre falhava quando você mais precisava dele. Todo mundo tem um amigo como o Ricardo. Daqueles que já te encheram a paciência, mas que tu faz questão de que esteja sempre por perto. O negócio é que, na época da faculdade, o pior que poderia acontecer era a gente tirar um zero e querer matar o moleque. Já o fusquinha, este levava mais jeito pra me matar mesmo.
Pense num carro com vocação para ser ferragem. Atropelava lata de lixo, ralava em grade, derrubava cone e tinha uma paixão especial por postes. Admito que minha imperícia ao volante ajudava na falta de senso de direção do carrinho. Mas que o bichinho era distraído, ah, isso era. Dessa vez tinha sido a soma da velocidade inapropriada para um carro tão fubeca mais a pastilha de freio desgastada e o sinal que calhou estar vermelho na hora em que passávamos. O resultado: uma lata branca amassada – abraçando carinhosamente, veja só, um poste! –, manchada de vermelho pelo meu sangue e pela tinta de uma (até então) imaculada picape 4×4, que — olha como o Onipresente tem senso de humor! — era o motivo da raiva que eu sentia naquela noite.