por Homero Pivotto Jr.
Você está em um circo psicopata, e eu digo bem-vindo ao show! Na real, quem fala isso é o vocalista e guitarrista Paul Stanley, no refrão de “Psycho Circus”, composição que batiza o 18º álbum da “banda mais quente do mundo”. Retirada do contexto da faixa, a sentença — uma tradução livre da letra original, mais precisamente do estribilho — dá um panorama dos tempos de hoje em uma visão ampla: guerra, inflação, negacionismo, polarização, pandemia e, pelo lado positivo, a retomada dos eventos culturais de maneira presencial e, praticamente, sem restrições. Entre os exemplos deste último item estão as apresentações musicais ao vivo, como é o caso da “derradeira turnê” do quarteto mascarado mais famoso do showbusines, batizada apropriadamente como “End Of The Road Tour”. A gira passa por quatro cidades brasileiras no final de abril/começo de maio: Porto Alegre (26/4 – ingressos aqui), Curitiba (28/4 – ingressos aqui), São Paulo (30/4 – ingressos esgotados) e Ribeirão Preto (01/05 – ingressos aqui).
Na capital gaúcha, quem abre o espetáculo é a Hit the Noise, uma escolha acertada da produção local para fazer barulho antes da atração principal. É interessante perceber certa ironia na situação: enquanto o linguarudo (nos sentidos conotativo e denotativo) baixista e vocalista Gene Simmons alardeia aos quatro ventos que o rock morreu, uma banda independente, ainda construindo o próprio caminho, ganha a oportunidade de subir a um grande palco para, justamente, mostrar que o famoso rockeiro não está certo. Sem entrar nos pormenores da questão, que não é o objetivo aqui, é fato que o estilo nascido em berço negro e apropriado pelos brancos não tem o mesmo apelo comercial que já gozou no passado. Mas talvez, entre as causas de o gênero não estar em evidência atualmente, esteja a falta de oportunidades para os bons representantes com condições de revigorar, e rejuvenescer, aquele que muitos chamam de “bom e velho”.
Nesse sentido, é notório que a Hit The Noise está numa posição que certamente muita gente entre seus pares kiss (adoro trocadilhos infames). Afinal, dividir uma aparição com ídolos, e ainda ter a chance de mostrar que, pelo menos fora do mainstream, o rock respira, é uma conquista e tanto.
“Aos 11 anos tive meu primeiro contato com Kiss, pelo álbum ‘Creatures of the Night’ (a primeira versão, azul, ainda com as máscaras). Quem diria que eu, quase 30 anos depois, estaria em uma banda dividindo o palco com os mascarados? A vida pode ser muito surpreendente, se você for persistente”, reflete o baixista Marcel Bittencourt, que faz seu primeiro show com a Hit The Noise na ocasião.
“O Kiss é uma das maiores bandas da história do rock e dividir o palco com monstros como eles é algo que fica marcado na história de qualquer banda, ainda mais uma independente. Se abre uma janela de visibilidade, nossa música chega a muito mais pessoas, isso sem falar na realização pessoal e profissional”, complementa o músico.
Com apenas um disco completo, três singles e um EP ao vivo lançados até o momento, o quarteto — que ainda tem na formação Luciano Schneider (voz), Leonardo Theobald (guitarra) e Daniel Sasso (bateria) — aposta no hard rock de viés setentista, mas com roupagem moderna, para dar seu recado. E cumpre bem a tarefa a que se propõe. Algo que, segundo o próprio material de divulgação do grupo, é fazer “som pesado, melódico, de riffs marcantes e com uma mistura de influências que fazem você colocar um pé nas décadas passadas e ter vontade de bater a cabeça agora”.
“A Hit The Noise está muito feliz e honrada de abrir o show do Kiss. Sem dúvidas é o ponto alto da nossa carreira até aqui (a banda começou em 2018), pois reconhece e consolida um trabalho sério. Um momento inesquecível para todos os integrantes e uma grande oportunidade de mostrar ao grande público toda a energia do nosso som”, afirma o guitarrista Leonardo.
O Kiss já havia tocado em Porto Alegre em duas ocasiões anteriores. Em 1999 (quando um Rammstein ainda aspirante ao sucesso global foi o ato de abertura), no Hipódromo do Cristal; e em 2012, no Gigantinho, com os gaúchos da Rosa Tattooada fazendo as honras da casa.
Sobre a tour do Kiss:
Beirando os 50 anos de carreira, o KISS vai deixar de lado a maquiagem, as botas plataformas e os palcos do mundo. A maior banda de rock de todos os tempos está na estrada com a “End Of The Road Tour”.
Formada em Nova York, em 1973, por Paul Stanley e Gene Simons, o KISS criou alguns dos maiores clássicos do rock, como ‘Rock And Roll All Nite’, ‘Detroit Rock City’, ‘I Love It Loud’, ‘Love Gun’, ‘Shout It Out Loud’, entre outros. Em mais de quatro décadas, a banda vendeu milhões de álbuns e seus shows repletos de efeitos especiais e pirotecnia lotaram arenas de todo o mundo criando uma legião de fãs conhecida como Kiss Army.
A primeira passagem da banda pelo Brasil foi em junho de 1983, durante a “The Creatures of the Night Tour” para shows em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. O grupo voltaria em agosto de 1994 para uma única apresentação na primeira edição do festival Monster of Rock, em São Paulo. Em 1999, durante a “Psycho Circus Tour”, o KISS fez shows em São Paulo e Porto Alegre. Somente 10 anos mais tarde a banda voltaria ao país com a turnê comemorativa de 35 anos de carreira com apresentações em São Paulo e Rio de Janeiro. Em 2012, a banda fez shows em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre como parte da turnê do álbum “Monster”. E em 2015, além de se apresentar em mais uma edição do Monters of Rock, a banda passou por Florianópolis e Belo Horizonte.
A formação atual conta com Paul Stanley (The Starchild) nos vocais, Gene Simons (The Demon) no baixo, Tommy Thayer (The Spaceman) na guitarra e Eric Singer (Catman) na bateria.
Vencedor do Gold Record Award como o #1 da América de todos os tempos, e em todas as categorias, o KISS é considerada uma das bandas mais influentes do rock. Eleita para o Rock’n’Roll Hall of Fame, o grupo já lançou 44 álbuns e vendeu mais de 100 milhões de cópias em todo o mundo.
O legado do KISS cresce geração após geração, transcendendo idade, raça ou credo. A inigualável devoção e lealdade do KISS Army para com a “Banda Mais Quente do Mundo” é um testemunho impressionante do vínculo inquebrável entre a banda e seus fãs.
– Homero Pivotto Jr. é jornalista, vocalista da Diokane e responsável pelo videocast O Ben Para Todo Mal.