Por Tiago Agostini
É notório que pés na bunda e corações partidos são uma das grandes – se não a maior – fontes de inspiração para músicos e poetas criarem suas obras. Aquele que por muitos é considerado o primeiro álbum conceitual da história, In The Wee Small Hours, de Frank Sinatra, versa basicamente sobre isso. Um dos grandes poetas da música brasileira, Cartola, era mestre em transformar a dor profunda em lindas canções – “As Rosas Não Falam” talvez seja o melhor exemplo.
Justin Vernon, o americano por trás do projeto Bon Iver, passou por isso recentemente. Fundador da banda indie DeYarmond Edison, ele e seus três colegas resolveram tentar a sorte em Raleigh, na Carolina do Norte. Depois de um ano eles brigaram e Vernon resolveu voltar para casa, em Eau Claire, Wisconsin. O fim de um relacionamento amoroso também colaborou na decisão do retorno. Já em casa, o cantor resolveu passar um tempo isolado em uma propriedade da família no norte do estado. Basicamente queria ficar sozinho para se recuperar de tudo que havia acontecido.
E então, três meses depois, ele apareceu com o material que resultou no disco For Emma, Forever Go. Gravado de forma caseira por Vernon, que tocou todos os instrumentos, o disco apresenta muitas camadas de overdubs, principalmente vocais. Para reproduzir o clima nos shows, o cantor costuma distribuir folhetos com as letras para o público cantar junto – “não quero ser apenas um cara com um violão cantando músicas, porque isso é chato”, ele já declarou. A idéia inicial de Vernon era mostrar as canções, que ele considerava como demos, para algumas gravadoras e depois regravá-las. Por insistência de amigos ele lançou o disco de forma independente em setembro de 2007, atraindo a atenção da gravadora indie Jagjaguwar, que relançou o disco em fevereiro de 2008, mantendo as versões minimalistas.
Sonoramente o disco é bem despretensioso, simples e rústico – mas, bem, vale lembrar que ele foi gravado em uma casinha no meio do nada. Na verdade, Vernon não precisou mais do que seu violão e um punhado de lindas melodias vocais para criar um dos discos mais lindos lançados na década. Folk no sentido mais calmo do termo, ele vai combinando delicados dedilhados a batidas secas nas cordas do violão, subindo o tom da voz nas melodias conforme elas evoluem, deixando um leve coro mais grave para trás para alcançar agudos solitários no limite da afinação. Acalma e instiga com seus versos majoritariamente curtos que tentam trazer conforto ao cantor mas que, tamanha a intimidade que o disco exala, parecem falar diretamente aos corações de quem o escuta pela primeira vez. São apenas nove músicas, e não é necessário nem um minuto a mais.
For Emma, Forever Go é dessas pequenas jóias que poucos vão ouvir. Vai entrar em algumas listas de melhores de 2008, mas não vai fazer estrago. Amigos vão trocar o MP3 entre si e alguns pretensos profetas vão tentar convencer todos de que ele é a melhor coisa lançada nos últimos anos. O que não deixa de fazer um certo sentido pois, assim como uma canção do Spiritualized ou uma comédia de Woody Allen, ele tem o poder de salvar dias cinzas. E isso já é o bastante.
Numa pesquisa do google sobre Bon Iver, cheguei ao seu blog.
Realmente, o disco é muito bom. A simplicidade é de impressionar, músicas sem exageros, sem mistura de sons. Só violão e voz, algo muito “novo” para os tempos atuais…
Parabéns pelo blog.