texto por João Pedro Ramos
Imagine se Eminem fosse um típico lorde inglês e em vez de versar sobre drogas, desafetos e armas, ele rimasse sobre assuntos como o famoso chá das cinco, seu cachimbo preferido ou seu terno bem cortado? Pois algo assim existe: é o chap hop, estilo musical vindo da Inglaterra que leva o rap para lugares nunca antes navegados.
Parece brincadeira, mas não é: o chap hop é um daqueles estilos estranhos (como o pirate metal e o Nintendocore, dos quais pretendo falar em próximos posts) que, no fundo, são bem interessantes e criativos. Com um quê de steampunk, este tipo de rap normalmente utiliza-se de um instrumental “antigo”, com um banjo ou um ukelele e rimas sobre assuntos da burguesia inglesa, como partidas de críquete, chá das cinco ou até mesmo o cinzento e popular clima da Inglaterra.
Entre os mais populares representantes do chap hop está Mr. B, The Gentleman Rhymer (ah, a educação inglesa!), um alter ego de Jim Burge da banda de britpop Collpsed Lung. O pioneiro do estilo chegou a se apresentar no Glastonbury e no Club NME em Paris, além de ter seu disco “Flattery Not Included”, de 2008, entre os mais elogiados do gênero. Um de seus hits é “Straight Outta Surrey”, uma versão do clássico “Straight Outta Compton” do NWA.
Outro grande “chap hopper” é Professor Elemental, personagem criado por Paul Alborough. Antes conhecido como Emcee Elemental, só depois de seu banho steampunk que Alborough viu o sucesso bater em sua porta, especialmente após o clipe de “Cup Of Brown Joy”, que chamou a atenção de Warren Ellis, famoso autor de quadrinhos como “Hellblazer” e “Transmetropolitan”. Discos como “More Tea?”, de 2012, fazem a cabeça dos rappers de monóculo.
O estilo ficou ainda mais conhecido em 2014, quando o Secretário da Educação inglês Michael Gove revelou em uma entrevista que estava “estranhamente viciado em rappers de chap hop como Professor Elemental, Mr B the Gentleman Rhymer e Mr Bruce and the Correspondents”. A notícia levou o chap hop a todos os jornais e muitos ingleses gostaram da brincadeira, aumentando o número de vendas dos discos. Alguém aí aceita um chazinho?
– João Pedro Ramos é jornalista, redator, social media, colecionador de vinis, CDs e música em geral. E é um dos responsáveis pelo podcast Troca Fitas! Ouça aqui.