por Allan Hipólito
A garoa fina e a baixa temperatura registrada na noite da terça-feira (07/09) tornavam pouco convidativo qualquer programa na capital paulista. Porém, tais fatores não intimidaram os fãs da cantora Lauryn Hill. Mesmo sem lançar um disco de inéditas desde 2002 – quando gravou o “MTV Unplugged No. 2.0” – Ms Lauryn Hill, como prefere ser chamada atualmente, foi responsável por um público de seis mil pessoas no Credicard Hall, na zona sul da capital paulista.
Os dois primeiros shows da turnê no país – ela já havia se apresentado no dia 3 em Florianópolis e na noite anterior na cidade do Rio de Janeiro – receberam muitas críticas, e a expectativa era de que os comentários surtissem efeito no show de São Paulo. A reclamação recorrente estava não só no repertório (quase sem clássicos de sua carreira solo e de seu ex-grupo, o Fugees), mas também na performance, sem empolgação e com versões muito diferentes de suas músicas, tornando algumas praticamente irreconhecíveis.
Por volta das 21h30, a difícil tarefa de abrir para a atração principal recaiu sobre a banda RED, que não empolgou em nenhum momento o público que ainda chegava ao Credicard Hall, apesar de fazer uma apresentação correta e cheia de balanço. Depois de uma pausa para a preparação do palco que Lauryn Hill pisaria, foi a vez do DJ Rampage, que acompanha a cantora em sua turnê, tentar esquentar o público. Abusando de hits do hip hop em suas mixagens, o DJ animou a audiência, e pouco a pouco os integrantes da banda de Ms Hill foram assumindo seus lugares numa jam session que testou a paciência dos fãs por quase meia hora.
Quando todos pareciam não aguentar mais a interminável jam, Lauryn surgiu ao som da introdução de “Lost Ones”. Vestindo touca amarela, camisa verde e sobretudo xadrez, a cantora parecia não se importar com o som completamente embolado que saia das caixas de som do Credicard Hall. Solucionado o problema, foi a vez de “Hurts So Bad” e “Ex- Factor”, ambas de “Miseducation…”, serem tocadas. “Zimbabwe”, de Bob Marley, e “To Zion”, deram uma animada, mas não impediram que parte do público fosse embora no meio da apresentação.
Os que não desistiram e ficaram até o final foram recompensados. O puxão de orelha causado pelas reclamações nos primeiros shows em solo pátrio deve ter influenciado o setlist para esta noite. A base da apresentação foi a estreia solo da cantora, “The Miseducation of Lauryn Hill”, e as principais músicas do segundo e mais conhecido álbum do Fugees, “The Score”. Assim, guardadas para o fim do show, “How Many Mics”, “Fugeela” e “Ready Or Not”, todas do Fugees, animaram os mais pessimistas que não esperavam por músicas de seu ex-grupo no repertório.
Com uma introdução bem diferente da original, “Killing Me Softly With His Song”, maior clássico da carreira dos Fugees, fez com que toda a expectativa criada para este show fosse extravasada em apenas uma música, muito pouco para uma artista como Lauryn Hill. O inevitável bis trouxe “Turn Your Lights Down Low”, versão da cantora para o clássico de Bob Marley, e “Doo Wop (That Thing)”, encerrando uma apresentação sem consistência e repleta de momentos bocejantes em uma noite marcada pelo tédio e pelo frio. Lauryn Hill ficou devendo ao Brasil.
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Allan Hipólito é jornalista, DJ e um dos apresentadores do podcast Frequência Damata.
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