Meu disco favorito de 2020: Deep Sea Diver

MEU DISCO FAVORITO DE 2020 #6
“Impossible Weight”, Deep Sea Diver
escolha de Leonardo Tissot

Artista – Deep Sea Diver
Álbum – “Impossible Weight”
Lançamento – 16/10/2020
Selo – High Beam Records

É perfeitamente aceitável que 2020 tenha sido um ano mais dedicado a ouvir músicas antigas, a reassistir filmes, a reler livros… E, com isso, alcançar um mínimo de previsibilidade em um mundo que parece que vai cair sobre nossas cabeças a qualquer momento. Ainda assim, surgiu um disco para ser lembrado neste ano que a maioria de nós gostaria de deixar no esquecimento.

Impossible Weight”, da Deep Sea Diver, conseguiu ser aquele refúgio sonoro capaz de trazer a sensação de estar na companhia do melhor amigo, mesmo ao ouvi-lo pela primeira vez. Não que se trate de um disco seguro e confortável — pelo contrário. O álbum composto pela vocalista e multi-instrumentista Jessica Dobson é tematicamente pesadíssimo e reflete as terríveis experiências da artista com a depressão. Mas qual é o amigo que não precisa de um ombro para chorar de vez em quando?

O “peso impossível” que dá título ao terceiro álbum do grupo é, justamente, aquele provocado pelas doenças mentais e suas consequências, e faz referência à “compaixão que devemos ter por nós mesmos”, como Dobson escreveu no press release do álbum. Em um ano como 2020, no qual poucos são aqueles que passaram incólumes pelas sequelas psicológicas do (necessário) isolamento social, é fácil se identificar com os sentimentos evocados pela compositora nas canções do disco.

A faixa-título, com participação da talentosa Sharon Van Etten, é um dos pontos altos do álbum (você pode assistir ao clipe mais abaixo), mas há outras canções tão ou mais fortes entre as 10 selecionadas pela banda para integrar o tracklist. “Wishing” é, musicalmente, a mais convencional delas. A letra, no entanto, é uma porrada que ajuda a compreender os efeitos da depressão no cérebro de uma pessoa: “Always pretending / The seasons will change / They come and go / And I barely wake” e “Wishing I was somebody else / Because you’re driving me into the ground” são frases que ilustram o transtorno com precisão e empatia.

Outros destaques são “Switchblade”, balada com um doce sabor de Paul McCartney recheado com o azedume de John Lennon, “Hurricane”, um indie rock temperado com pitadas de Carpenters e guitarras a la Neil Young, e “People Come, People Go”, que cairia bem como trilha sonora de um filme (dos bons) da Sofia Coppola.

É um puta clichê, mas não dá pra deixar de dizer: com “Impossible Weight”, Dobson conseguiu transformar algo feio em bonito ao falar de depressão sem ser deprimente. E em um ano “impossivelmente pesado” como 2020, é recomendável aceitar qualquer dose de beleza que nos ofereçam e que nos ajude a ter forças para carregar os fardos que a vida nos impõe.

– Leonardo Tissot (www.leonardotissot.com) é jornalista e produtor de conteúdo

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