por Marcelo Costa
Direto ao ponto: Christopher Nolan é o principal nome do cinemão surgido nos últimos dez anos. Isso não quer dizer necessariamente que ele tenha feito os melhores filmes do período, mas desde que assinou “Amnésia”, em 2000, até “A Origem”, em 2010, o diretor britânico tem mantido um bom nível de obras (foram seis em dez anos) e até conseguiu fazer Batman renascer (e o Coringa morrer – piada besta, mas imperdível).
Destes seis filmes o diretor só não se meteu o dedo no roteiro de “Insônia” (2002), e talvez esse seja o fato do filme estrelado por Al Pacino, Robin Williams e Hilary Swank ser o mais fraco dos seis. E qual o mais forte? Muita gente vai dizer “Batman Begins” (2005), alguns “The Dark Knight” (2008) e uma parcela maior, no calor do momento, talvez escolha “A Origem”. E praticamente ninguém vai citar “O Grande Truque” (2006).
Com um elenco luxuoso (Hugh Jackman, Christian Bale, Michael Caine, Rebecca Hall, Scarlett Johansson e até David Bowie), “O Grande Truque” fracassou nas bilheterias, apesar de ser um filmaço. O motivo do desastre talvez resida na dificuldade do público entender a magnífica história dos mágicos rivais, o que mui provavelmente causou o principal defeito do excelente “A Origem”: Nolan explica o filme demais, e o didatismo quase derruba a história.
Isso não quer dizer que você sairá entendendo “A Origem” de dentro da sala escura. O diretor britânico, de forma genial, no momento crucial da película sacou da cartola uma cena que deixou todo mundo que já viu o filme com canções de Edith Piaf atrás da orelha. E as teorias tiveram inicio com gente voltando ao cinema para pescar algo que tenha passado despercebido da primeira vez. Nolan merece o nosso respeito.
Porém, até chegar a este clímax de genialidade (depois das duas horas e tanto de filme), “A Origem” é uma aula sobre o mundo dos sonhos ministrada por Leonardo DiCaprio (como Cobb) com várias intervenções da eterna Juno Ellen Page (ela saiu do colegial e agora está na faculdade), aqui como Ariadne. A dupla passa mais da metade do filme sonhando (na verdade o filme inteiro, e isso é uma teoria) e explicando os passos dos sonhos para quem está sentado na poltrona.
Parece estranho (realmente é), mas a trama de “Origem” é deliciosamente engenhosa. Cobb é um ladrão de sonhos. Ele invade a mente da pessoa enquanto ela dorme (quase sempre na base do ‘boa noite, Cinderela’) através de um maquinário todo especial. Dentro da mente desta pessoa, Cobb entra em seus sonhos e começa a dialogar com a vítima buscando informações que, ali, não vão sofrer resistência do consciente.
No entanto, a missão que lhe foi incumbida agora é (quase) nova: ao invés de roubar uma idéia de outra pessoa através de um sonho, Cobb precisa inserir uma idéia na cabeça do elemento, que possivelmente quando acordar tomará aquela idéia como original, sua, e irá seguir sua rotina de atos sem desconfiar que o que está fazendo foi manipulado durante um doce ronronar. Cuidado: dormir pode não ser mais a mesma coisa depois de “A Origem”.
Cobb monta uma equipe (no melhor estilo assalto a banco) para cumprir a tarefa, e leva seu time por uma espiral de loucuras que, sim, lembra tanto “Matrix” como “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” e “Quero ser John Malkovich” – sem soar tão bem acabado quanto os citados. De natureza charliekaufimaniana, parece faltar a “A Origem” depuração. Esse descuido não tira totalmente o brilho do filme, nem a vontade de decifrá-lo – se é que é possível (aliás, como Lost, por que não?).
As atuações ficam em segundo plano (ninguém aqui deve ser indicado ao Oscar, mas roteiro, som e efeitos são presenças garantidas) para Christopher Nolan fazer o espectador sonhar, e em termos de cinema isso é quase mágica. Nos últimos segundos do filme, a música sublime de Hans Zimmer aumenta progressivamente; um barulho circular toma o ambiente avisando que é hora de abrir os olhos, mas poucos acordam. Inclusive Cobb. Inclusive você. Na mente de quem Cobb/Nolan iria inserir uma idéia mesmo?
Coisa de gênio… mas até os gênios escorregam. “A Origem”, o quase filme perfeito do ano.
Leia também:
– “Juno”: roteiro esperto, boa direção e uma atriz encantadora, por Marcelo Costa (aqui)
– “Brilho Eterno”: Kaufman mostra que também é coração, por Marcelo Costa (aqui)
– “Batman Begins” faz esquecer os outros filmes da franquia, por Marcelo Costa (aqui)
– “Matrix Reloaded” deixa o público perdido, por Marcelo Costa (aqui)
só uma coisa, Mac:
tira o nome de Edward Norton do elenco de The Prestige. ele não está no filme. talvez você tenha confundido com outro filme sobre mágicos estrelado por ele na mesma época, The Illusionist.
Boa, xará!
Além de Matrix, Quero se John Malkovich e Brilho Eterno, Origem lembra um pouco o obscuro Dreamscape (A Morte nos Sonhos), é o que estão dizendo. Já baixei e assisti à primeira metade. Vou terminar de assistir para ver se rola uma homenagem aí.
Finalmente uma critica coerente…
O filme eh otimo, mas nao eh perfeito, porem ele nao eh nenhum lixo de blockbuster..
com certeza Christopher Nolan esta num nivel acima
Gostei muito do filme. Nolan está mostrando ser o “cara”. Abs.
O filme é tudo o que eu esperava e mostra a evolução do Leonardo Dicaprio como artista. Aliás, o Nolan está se especializando em montar grandes elencos. Foi assim em Cavaleiro das Trevas e agora em A Origem.