Ao vivo: Rodrigo Amarante faz show intimista cheio de inéditas em SP

Texto por Bruno Dias
Fotos por Fernando Yokota

Rodrigo Amarante resolveu aproveitar a nova temporada de shows do Los Hermanos no Brasil, que começou no dia 5 de abril na Arena Fonte Nova, em Salvador (BA), para fazer uma série de shows solo. Assim como Rio de Janeiro e Salvador, São Paulo foi uma das cidades selecionadas por ele para levar aos fãs um show bem intimista, apenas voz, violão e teclado. Na capital paulista, o palco escolhido foi o pequeno teatro do Estrella Galicia Estação Rio Verde, em Pinheiros, que ficou lotado (e quente) na noite de quarta-feira (24/4).

Amarante, que vive desde 2008 em Los Angeles, justificou a escolha de São Paulo por ser um dos lugares em que mais se escuta suas canções solo, que por sinal dominaram o setlist, praticamente todo baseado no álbum “Cavalo” (2013), além de cinco músicas inéditas e NADA de Los Hermanos.

Por volta de 21h45, a cantora norte-americana Cornelia Murr foi chamada ao palco por Rodrigo Amarante – sim, ele fez questão de apresentá-la aos brasileiros -, e, mesmo com uma “gripizinho”, conseguiu prender a atenção do público com seu pop doce. Sozinha no palco, acompanhada por um teclado Omnichord (instrumento usado em boa parte da performance, que também contou com guitarra), ela mostrou canções de seu álbum de estreia “Lake Tear of the Clouds” (2018), como “Man on My Mind”, “Cicada” e “You Got Me”.

“Queria ter aprendido mais português antes de ir pra cá. Eu treinei no Duolingo por uma semana, e ele só me ensinou coisas que não vou usar tipo, ‘o gato comeu o jornal’”, brincou Cornelia, que anunciou uma surpresa não tão surpresa pro final do show: Rodrigo Amarante, que a acompanhou no vocal e violão na faixa “Tokyo Kyoto”.

Aproximadamente 22h27, Rodrigo Amarante surgiu sorridente no palco, já entregando o clima de celebração que se estenderia pela próxima hora. “Que lugar hein, gente?”, falou, para em seguida começar logo com duas canções inéditas. “Carta”, que se mostrou não tão inédita assim (um vídeo de uma session no festival Le Guess Who já soma quase 100 mil views), já que um grupo bem perto do palco cantou ela inteirinha, pra surpresa de Amarante: “Nossa, vocês nunca me viram cantar essa música. Mal criei e vocês já sabem cantar. Você é um teleprompter humano. Vou cantar outra nova, então. Essa você não sabe, não”. Mesmo assim o fã sabia, afinal de contas, na internet já é possível achar a letra inteirinha de “Maré”, a segunda música nova da noite.

Tomando seu “suquinho de maçã” no intervalo de cada faixa, Rodrigo Amarante parecia bem à vontade ali, e não era pra menos, apesar de alguns gritinhos isolados pedindo Los Hermanos, quem estava ali sabia bem o que esperava. Até “Mon Nom”, parecia que a galera estava meio perplexa, acanhada, com a presença dele em um lugar tão pequeno. Uma fã ao meu lado chorou do início ao fim. Mas foi só os acordes de “Irene” começarem pro gelo ser derretido (estava bem quente mesmo!) e o público virar “segunda voz” para todas as faixas de “Cavalo”.

Um momento, digamos, constrangedor rolou logo após Amarante finalizar “Cavalo” no teclado. Na lateral direita do palco, onde está localizada uma escada, algumas fãs estavam praticamente coladas nele. Quando “Cavalo” acabou, Rodrigo Amarante abriu um sorrisão paras as mulheres que estavam ali que, ao invés de curtirem o momento, sacaram seus celulares e praticamente enfiaram na cara dele. Amarante já havia reclamado dos aparelhos no público quando subiu para cantar com Cornelia Murr, mas aquela atitude foi a gota d’água. “O que é a fotografia sem as memórias? Quando tu pegas o telefone ausenta-se. Você vai filmar pra quê? Pros outros saberes que estais aqui? Estamos todos aqui, irmãos e irmãs. Acredita na memória, sem ela nada vai existir aqui”, declarou, arrancando aplausos, mas sem demover as garotas do uso do celular, já que na sequência elas sacaram os aparelhos e seguiram gravando. Paciência.

Não teve Los Hermanos, mas rolou “Evaporar”, do Little Joy, canção que tem feito parte dos últimos setlists dos shows solos de Rodrigo Amarante. “Um Milhão” também se manteve no set e veio acompanhada por mais uma “gracinha” do músico. “Essa música eu nunca gravei, quem sabe eu gravo agora que você pediu?”, falou, atendendo ao grito de um fã. “Tá decidido, agora eu vou gravar!”.

“O Cometa” (dedicada ao poeta e amigo de Amarante, Ericson Pires, morto em 2012), mais uma inédita e “The Ribbon” fecharam o set regular. “É a última, gente. Obrigado! Ninguém aguenta tanto tempo”, declarou Rodrigo Amarante, que simplesmente subiu pro camarim, para voltar cerca de um minuto depois pro bis, obviamente.

“Preciso tocar uma música nova, vocês vão entender. Minha irmã vai entender”, explicou o ruivo, apontando para a irmã, Marcela, que estava no público. A última canção nova apresentada era uma espécie de sambinha, em que ele falava da mãe, do pai e da irmã, claro, com direito a um corinho bem simpático com “bem, bem, bem, oioioioi”. Ainda nas homenagens à presença de Marcela, Amarante simplesmente encaixou “Maná” no ritmo, faixa de “Cavalo” escrita pra Má.

“Vou tocar ‘Tardei” porque faz tempo que você tá pedindo aí”, avisou, sorrindo, deixando claro que a noite era mesmo para ficar bem pertinho dos fãs dedicados. “Vou fazer uma surpresa. Ela finge que não entende português, mas entende tudo. Malandra!”, disse Rodrigo Amarante antes de chamar Cornelia Murr ao palco, para juntos cantarem “I Found a Reason”, do Velvet Underground, com direito a letra em português no meio. Ainda teve gente que ficou batendo palmas numa tentativa de um segundo bis, mas era o fim. E nada de Los Hermanos. Vai ficar pro dia 18 de maio, no Allianz Parque.


– Bruno Dias (fb/brunodias.urbanaque) é editor do Urbanaque – Cultura & Cannabis & Gastronomia
Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: http://fernandoyokota.com.br/

One thought on “Ao vivo: Rodrigo Amarante faz show intimista cheio de inéditas em SP

  1. Essa cobrança por músicas dos Los Hermanos nos shows do Amarante sempre irá existir porque a qualidade das músicas da banda é muito superior as músicas da carreira solo. O mesmo acontece com o Camelo

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