Texto por Cainan Willy
Fotos por Martina Mombelli
Há dois anos, quando a Lítera lançou o disco “Caso Real”, não tinha como imaginar que esse seria um trabalho que mudaria a vida do trio André, James e Rodrigo e de todas as pessoas curiosas que pararam para escutar a mensagem que eles queriam passar. Neste álbum, os gaúchos cantam sobre o romance proibido vivido por Dom Pedro I e Domitila, a Marquesa de Santos. Eles foram amantes durante sete anos e esse relacionamento ficou registrado em diversas cartas trocadas pelo casal.
Além de inspirar o disco (“A gente se utiliza de uma determinada história para questionar diversos padrões“, eles contaram ao Scream & Yell), as cartas de amor acabaram por inspirar uma intervenção urbana que rendeu à Lítera o título de “banda dos adesivos”. Você pode até não ter escutado nenhuma música deles, mas se mora em São Paulo e passeia pelas calçadas da região da Av. Paulista, já deve ter visto adesivos com a pergunta: “Você já viveu um amor impossível?”. Eles já espalharam mais de 30 mil adesivos nesse molde e não existe meta, isso quer dizer que vai ter muito mais adesivo colorido espalhando amor pelas cidades do mundo.
No último sábado (10/06), os rapazes estavam por São Paulo e aproveitaram essa passagem breve para realizar uma apresentação acústica. O show é intitulado como “Serenata” e André deixa a guitarra de lado para tocar violão, Rodrigo não precisa se preocupar com as ferragens de bateria, pois toca um bumbo leguero (decorado com diversos adesivos da banda), e James, o baixista oficial da Lítera, fica responsável pelo som incrível da escaleta.
O espaço do show é pequeno e aconchegante, a produção deu um trato na Casa 599 espalhando cartas de amor, cartazes e desenhou uma coroa com uma dessas luzinhas de natal. A banda chega quando já não há mais espaço para andar – e muito menos sentar –, cumprimentam os amigos e a galera que saiu de casa num dia frio para assistir essa serenata que prometia muito. Todos a postos e o show começa.
Dando foco total ao repertório de “Caso Real”, eles proporcionam uma experiência única para o público. Através de figurino e elementos cênicos do século XIX recriam, de maneira lúdica, o período ao qual o disco se refere. No repertório, o trio arranja brechas para cantar músicas que os influenciaram na hora de compor, e dentre as apresentadas estão clássicos do imaginário coletivo, como, por exemplo, “Marrom BomBom”, eternizada na voz do conjunto Os Morenos.
Durante toda à tarde de apresentação o público cantou juntinho, em alto e bom tom. “Amantes” (única faixa no disco que não foi composta pela banda, é uma música de José Augusto) ganhou uma versão acústica ainda mais emocionante do que está registrada no álbum. André aproveita seus momentos no palco para arrancar boas gargalhadas de todos os presentes, comenta sobre como surgiram as músicas e faz brincadeiras envolvendo o elenco da banda, além de comentar sobre suas aventuras pessoais.
Após uma hora de muito romantismo e diversão o show termina, deixando aquela saudade quase que instantânea de momentos bons. O publico pede e a Lítera fica para mais uma, e no bis nada de repertório próprio, os caras embalaram um coro com o hit sertanejo do momento, “10%”, da dupla Maiara & Maraisa.
Uma banda que não tem medo de ser romântica e viver seus sentimentos a flor da pele, essa emoção transborda no palco em forma de alegria e serve também como o disfarce perfeito para desabafar algumas angústias pessoais. A Lítera ressignifica a história de Domitila e nos apresenta uma mulher forte, considerada a primeira feminista do Brasil, dando ênfase que o romance foi apenas uma parte de sua vida, e esse período não foi nada quando comparado a sua importância cultural numa tarde de música, romance e história.