por Marcelo Costa
Em 1986, o Rock Nacional já era uma realidade, porém restringida ao eixo Rio / São Paulo com acréscimo da cena de Brasília. No Rock in Rio I, um ano antes, Paralamas, Blitz, Lulu Santos, Kid Abelha e Barão Vermelho se juntaram a Rita Lee, Erasmo Carlos e a uma constelação de grandes artistas gringos, mas o que pouca gente tinha noção é que a chama rock estava pegando fogo em vários cantos do país, inclusive no Sul, e o álbum “Rock Grande do Sul” foi o responsável por apresentar esse novo rock gaúcho ao mundo.
Lançado em 1986 pela major RCA (e relançado em CD em 1998), “Rock Grande do Sul” era o que se chamava na época de “pau de sebo”, coletânea com vários artistas, e quem conseguisse alcançar o topo do mastro (ou seja, fazer sucesso), teria um contrato com a gravadora (as demais bandas eram dispensadas). Na época, vários álbuns assim foram lançados: o selo Epic, da Sony, lançou “Os Intocáveis” com Capital Inicial, Zero e outras bandas esquecidas; o selo Plug lançou “Rock Forte” com Último Número, Sexo Explicito (embrião do Pato Fu) e Pouso Alto (embrião do Skank) tentando repetir o sucesso que teve com “Rock Grande do Sul”.
O embrião do álbum, porém, é um festival que reuniu cerca de 40 mil pessoas em Porto Alegre em 1984 para assistir apenas bandas gaúchas (segundo conta Carlos Gerbase no documentário abaixo, produzido para celebrar 30 anos deste álbum seminal para a cena gaúcha) e, depois, o Rock Unificado, festival em 1985 que contou com a presença de Tadeu Valerio, da RCA, que após visualizar um Gigantinho lotado para ver nomes como Replicantes, Garotos da Rua, TNT e Engenheiros do Hawaii, entre outras, contratou as quatro bandas mais o DeFalla por insistência de seu amigo e contato em POa, Claudinho Pereira.
O resto é história. No documentário abaixo há declarações de Carlos Gerbase (Replicantes), Edu K e Biba Meira (DeFalla), Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii), Charles Master e Nei Van Soria (TNT), King Jim (Garotos da Rua), do produtor Reinaldo Barriga (que assinou a produção de boa parte dos álbuns dessa turma), de Carlos Eduardo Miranda e de outras pessoas envolvidas com a cena da época. Segundo Miranda, “o ‘Rock Grande do Sul’ é a ponta do iceberg. É a tentativa de tradução de uma cena louca e ousada para o mainstream”.
Entre os destaques do doc estão uma cena curta que flagra Flávio Basso chegando para o ensaio com o TNT e cantando “Cachorro Louco” (que não entrou na coletânea, mas aparece no álbum de estreia do TNT, já sem o futuro Júpiter Apple e Nei Van Soria, que deixaram o grupo para montar o Cascaveletes), as lembranças de Edu K, que chega a citar Humberto Gessinger (“Como ele dizia, estávamos longe demais das capitais”) e de outros músicos, como Nei Van Soria: “Foi tudo tão rápido. Entre o final de 1984 e o meio de 1986, foi um furacão”.
Por influencia de Claudinho Pereira, DJ, produtor cultural e contato do olheiro da RCA, as cinco bandas reunidas em “Rock Grande do Sul” não se limitaram a depender do sucesso de suas canções no pau de sebo, e gravaram seus primeiros álbuns na RCA. Entre os hits estão “Surfista Calhorda”, dos Replicantes, e “Tô de Saco Cheio”, dos Garotos da Rua, que tocaram muito naquele ano. Em menor escala aparece “Sopa de Letrinhas”, dos Engenheiros, e “Segurança”, presente neste álbum em sua primeira versão, com letra modificada.
Assista ao documentário e ouça o álbum abaixo:
01 – Engenheiros do Hawaii – “Sopa de Letrinhas”
02 – Os Replicantes – “Surfista Calhorda”
03 – TNT – “Entra Nessa”
04 – Garotos da Rua – “Sozinho Outra Vez”
05 – DeFalla – “Você Me Disse”
06 – Garotos da Rua – “Tô de Saco Cheio”
07 – Engenheiros do Hawaii – “Segurança”
08 – TNT – “Estou na Mão
09 – DeFalla – “Instinto Sexual”
10 – Os Replicantes – “A Verdadeira Corrida Espacial”
Leia também:
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– 10 pérolas raras do Rock Brasil anos 80 (DeFalla, Nau, Black Future) (leia aqui)
– O rock nacional anos 80 e a Censura Federal (Blitz, Lobão, Ultraje) (leia aqui)
Obra de grandeza a serviço do Rock nacional.!