por Renan Guerra
“Youth”, Moromo (Lixo Records)
Pouco mais de 11 minutos e sete músicas formam o disco de estreia de Moromo, “Youth”, duração essa que poderia ser questionada por defensores dos formatos, que gostariam de chamar isto de um EP. Definições formais a parte, Moromo é Tiago Tourinho, baiano residente de Aracaju, do tipo “do it yourself” da geração Y, de produção extensa na internet e que brinca (zomba?) das múltiplas linguagens e referências desse cenário. Com faixas que passeiam por mangás (Sakura Card Captors e Pokémon presentes), filmes e cenários lo-fi, “Youth” poderia ser mais uma vertente dessas tags de nicho (vaporwave? glitch pop?), porém soa mais como música viajandona para dias preguiçosos em que você só quer ficar reblogando gifs toscos no Tumblr. Certamente “Youth” não convencerá muita gente, mas certamente renderá uma boa diversão para quem estiver aberto ao universo. Recomendação: quem curtir a viagem, vale a pena desbravar os outros lançamentos da Lixo Records, selo ultraindependente carioca, que reúne uma galera das boas.
Nota: 6 (baixe gratuitamente)
“Dillo”, Dillo (RockinHood)
O brasiliense Dillo chega ao seu quarto disco com uma carreira independente já solidificada, porém ainda buscando mais espaço de comunicação popular. Com uma sonoridade que pode ecoar Wado e Lucas Santanna, o disco homônimo de Dillo tateia a todo momento o contemporâneo, versando sobre Wesley Safadão, sofrência e gírias momentâneas, tudo isso embalado em sonoridades distintas, que a cada momento jogam para um lado, criando certa pluralidade ao disco, mesmo que às vezes quase descambe para a confusão. Contando com participações de Frejat, Donatinho e André Gonzales (Móveis Coloniais de Acaju), “Dillo” (o disco), ainda reverbera as suas não-participações/não-parcerias em “Fica Para o Próximo Disco”, porém é em “Amor de Ficar” que encontra-se seu momento mais pop, do tipo que poderia estar em trilha de novelas e cativar corações. “Dillo”, o disco, assim como Dillo, o cantor/compositor, tem carisma suficiente para conquistar um público maior, só precisamos saber se é agora que ambos conseguirão essa aceitação.
Nota: 6,5 (ouça no Spotify)
“Planos Para Esta Encarnação”, Antiprisma (M4Music)
O duo formado por Elisa Moreira e Victor José se apresenta em uma primeira audição como jovens hipsters que encontraram Almir Sater. Vendidos sob o rótulo de ‘folk’, o Antiprisma é o nosso bom e velho sertanejo, no maior estilo sertanejo lisérgico, classificação cunhada por Arrigo Barnabé nos anos 80. Produzido por Diego Oliveira (o moço por trás do projeto folk benjamin) e com a participação da Alambradas em duas faixas, o Antiprisma caminha por referências e caminhos do folk e acerta em paisagens brasileiras (essas canções podem servir tanto de trilha para o cerrado, para a caatinga quanto para os pampas ou mesmo o nosso pantanal). É sob o amparo de uma delicada viola que “Planos Para Esta Encarnação” mescla bucolismo e calmaria, servindo quase de antídoto para a velocidade cotidiana. Nesses tempos em que o trabalho é corrosivo e o final de semana é celebrado como alforria, nada é mais alentador que a faixa “Hoje é Terça e Tudo Bem”: vale ouvir enquanto se abre uma cerveja gelada em qualquer dia da semana.
Nota: 7,5 (ouça no Spotify)
– Renan Guerra é jornalista e colabora com o sites You! Me! Dancing! e Bate a Fita
Velho, achei bem bacana o texto, gostei muito de ver o Moromo nessa matéria, só uma correção mesmo, acho que o Tiago vive/mora em Aracaju/SE