por Marcelo Costa
O som de belas notas de piano invadem a sala. Sobre elas, uma voz angustiada parece que vai ter seu coração partido a qualquer momento. A primeira coisa que vem à cabeça é Radiohead. Será que eles voltaram a fazer rock??? Não por enquanto, mas um de seus vários discípulos acaba de chegar ao segundo álbum: o Muse.
Depois do estrondoso sucesso do primeiro álbum, “Showbizz”, o trio de moleques que descobriu o rock através de “Nevermind”, do Nirvana, e “The Bends”, do Radiohead, está de volta com “Origin Of Symmetry” (2001), um álbum pesado e dolorido. A comparação com o Radiohead é inevitável. Matthew Bellamy, o vocalista, parece um clone de Thom Yorke e, às vezes, parece querer ser mais Thom Yorke do que o próprio. No máximo consegue ser um Fran Healy (vocalista do Travis) à beira do suicídio.
Mesmo assim, em um ano em que o rock parece dar voltas em torno de si mesmo, é louvável que três moleques pisem nos pedais de distorção e façam o maior barulho possível. E os moleques começaram bem moleques. Com 13 anos já faziam barulho sob a alcunha de Gothic Plague. O trio chegou a mudar o nome da banda mais duas vezes até chegar ao curto e direto Muse.
A banda inglesa surgiu influenciada pelo rock norte-americano dos Smashing Pumpkins e do Nirvana e não tava nem aí para tudo o que a dobradinha Blur/Oasis fazia (nas paradas e fora delas). A única coisa que chamou a atenção de Matthew Bellamy, Chris Wolstenholme (baixo) e Dominic Howard (bateria) no velho mundo foi “The Bends”.
Os dois primeiros EPs da banda arrancaram suspiros da crítica britânica e receberam um aliado de peso: John Leckie, o cara que havia produzido “The Bends”. Leckie não se fez de rogado e entrou em estúdio com o trio. O resultado foi o multi-platinado “Showbizz”, o álbum que o Radiohead ficou devendo após o estouro com “The Bends” (eles preferiram fazer história com o sensacional “Ok Computer”).
“Origin Of Symmetry”, o novo álbum, não muda nada na receita Muse de sucesso. As guitarras continuam altas e barulhentas, a voz de Matthew continua chorosa e gritada e eles continuam como um sub-Radiohead (impossível não traçar o paralelo Silverchair/Pearl Jam), síndrome que dificilmente vão conseguir abandonar.
Isso tudo quer dizer que “Origin Of Symmetry” é ruim? De forma alguma. A banda é derivativa, mas faz um barulho dos diabos, perfeito para se ouvir no último volume, o que já arranca sorrisos do rosto do freguês.
A tal que começa com piano é “New Born”, segundo single retirado do álbum. O pianinho ali dura 40 segundos até que as guitarras assumem a frente. Assim acontece também nas ótimas “Bliss”, “Space Dementia” e no primeiro single, “Plug In Baby”, com direito a riff chicletão.
A mistura tecladinhos deprê e guitarras barulhentas é a fórmula básica que funciona bem até a metade do álbum. Daí pra frente acaba entornando o caldo nos vocais exagerados de “Feeling Good” e na terrivelmente chata “Screenager”, cheia de efeitos e com uma introdução que esbarra no dedilhado clássico: o resultado decepciona. A porrada volta com a desinspirada “Dark Shines” e o mundo parece que vai acabar com todo mundo ajoelhado ao som do órgão de igreja de “Megalamonia”, a bacana última faixa.
Tentar explicar o título do álbum é um supremo desperdício. Segundo Matthew, o título veio de um livro que comentava sobre a beleza do universo, a sincronicidade e simetria das dimensões e blá blá blá, o que deixa um certo ranço épico nos bons rocks do trio.
No final fica a impressão que o Muse são apenas três garotos se divertindo (Rock não seria só isso? Mas precisava chorar tanto? Será que ele consegue cantar duas horas assim ao vivo?) com baixo, guitarra e bateria. No mais, das bandas que copiam o Radiohead, a melhor. Basta?
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
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