Download: Gito, de Antonio Novaes

por Marcelo Costa

Antonio Novaes (www.facebook.com/sonantonimo) nasceu em Belém do Pará, onde iniciou seus estudos musicais e sua carreira artística, integrando, por 11 anos, a banda A Euterpia, que conquistou um público fiel em sua cidade natal, e acabou logo depois de se mudar para São Paulo, em 2007. Autentico cidadão do mundo, Antonio permaneceu na capital paulista, mas passou uma temporada estudando música em São Francisco (EUA) e experimentando sonoridades em Milão (Itália), sem nunca esquecer a terra natal.

“Eu sou um músico brasileiro e tive a sorte de nascer em um lugar como Belém, com um pulso de criatividade maravilhoso”, conta o músico, que está disponibilizando gratuitamente no Scream & Yell seu primeiro EP solo, “Gito”, um trabalho que soa como um resumo de uma rica busca musical, que recebe influências do jazz e da música brasileira, sem deixar de lado a veia pop da canção que gruda no ouvido e, quando menos se espera, já está sendo cantada pelo ouvinte, aconchegada em sua memória.

“Gito” traz cinco canções (e um remix) de material composto entre 2007 e 2013. Segundo Antonio Novaes, em faixa a faixa para o site, “Cumbieira” é uma homenagem para Mestre Vieira “e traz uma marcante influência das minhas raízes amazônicas”. Já “Breve Tristeza de um Violão” tem influência de Portishead e Garoto, dois trabalhos que Antonio estava ouvindo bastante na época que a compôs. Abaixo você pode fazer o download gratuito do disco (clicando na imagem), e conferir um bate papo com o músico.

Você esteve por mais de 10 anos em uma banda, A Euterpia, e depois estreou o projeto Antônimo: como é depois tanto tempo tocando numa banda lançar um disco solo? O que ficou destes projetos em “Gito”?
Foram 11 anos com a banda A Euterpia, onde nasci musicalmente e me tornei profissional da música. Manter uma carreira “solo” por um lado facilita porque musicalmente quem decide o que vai acontecer sou eu, evidentemente que sempre estou cercado de muitas colaborações. Costumo dizer que de solo meu trabalho não tem nada: toco com seis músicos, conto com a participação de fotógrafos, designers, publicitários, jornalistas, relações públicas e etc, ainda bem! Uma das coisas que mais me deixa feliz é o convívio com as pessoas com quem trabalho, mas claro que a relação não é a mesma de quando tínhamos 18 anos e nos reunimos para montar uma banda. “Gito”, sem dúvida, traz a assinatura dessa identidade musical mais “individualizada”, já n’A Euterpia, minha principal colaboração era como compositor, coisa que eu sempre fiz com uma certa intensidade, e algumas das canções presentes no projeto Antônimo são dessa época, apesar de nunca terem sido tocadas na banda.

Já na fase com a banda vocês chegaram a morar em São Paulo, e você permanece aqui. Já se acostumou com a cidade?
Sim. Viemos para São Paulo em 2007, mas a adaptação não foi muito fácil para o grupo e alguns resolveram voltar à Belém. Ainda tentamos substitutos, mas não funcionou, encontramos grandes músicos, mas A Euterpia acima de tudo era a união daquelas pessoas. Oficialmente A Euterpia parava ali… em 2008, mantivemos uma grande amizade e sempre que possível fazemos apresentações para nosso público em Belém do Pará. São Paulo é onde eu me sinto em casa, apesar de não conseguir ficar tanto tempo sem visitar Belém, vou cerca de duas vezes ao ano, para rever familiares, amigos e fazer apresentações. “Gito” será lançado dia 13 de junho primeiramente em Belém, no Espaço Cultural SESC Bouvelard, e 11 de julho aqui em São Paulo no Serralheria Espaço Cultural .

“Gito” traz cinco músicas e uma faixa bônus: de quando são essas canções? O que você buscou quando selecionou estas músicas para o álbum?
A mais recente é de 2013, “Emoção de Fibra Ótica”. “Do Tamanho do Mundo” é de 2010, “Cumbieira”, de 2008, e “Calçada da Deselegância” e “Breve Tristeza de um Violão” são de 2007. Escolher o repertório não é muito fácil, geralmente músicos fazem aquilo que fazem por satisfação, amor e prazer, e quando o trabalho é “autoral” essa relação geralmente é mais intensa. No “Gito”, a escolha dessas músicas contou muito com a fluidez que essas canções “deslizavam” por nossas rotinas de ensaios, e também quis colocar duas músicas onde toco guitarra para equilibrar com o teclado. A versão remix “Do Tamanho do Mundo” surgiu do desejo de “eletrificar” de “digitalizar”, buscando uma ambientação e textura diferente do que tem no restante do EP.

O Scream & Yell acredita sinceramente que vivemos um dos melhores momentos musicais da história do país. Como você situa o seu trabalho nesse cenário?
Às vezes parece até redundância falar em grandes momentos da música brasileira, claro que acho que também produzimos coisas de qualidade duvidosa, mas é incrível a força da música brasileira, e que bom que coisas incríveis estão vindo à tona. Eu sou um músico brasileiro e tive a sorte de nascer em um lugar como Belém, com um pulso de criatividade maravilhoso, mas sempre busquei o caráter universal da música, seu poder dela como linguagem de transpor fronteiras, barreiras idiomáticas, naturalidade ou nacionalidade. O mais importante para um compositor, ao meu ver, é que sua música chegue até as pessoas e acrescente algo pra elas. Uma vez me pararam em Belém e disseram: “Tu que és o compositor daquela música ‘Pequenininho’ (Do tamanho do Mundo)? ‘Égua’ ela é a trilha sonora do meu casamento! Minha mulher adora essa música!”. Bingo !! É para isso que a gente faz música, para chegar até as pessoas. Isso tem uma força inestimável, esse é o maior retorno imaterial que um artista pode ter do seu trabalho, independente de que conceituação, classificação ou segmentação que aquele produto artístico receba.

Por outro lado, ainda estamos tateando formas de fazer com que a boa música chegue ao grande público. Como é para você fazer música no Brasil hoje?
Em termos de matéria prima, quero dizer, como um “artesão” da música é ótimo, o Brasil se alimenta de um hibridismo sensacional, e isso é reafirmado cada vez mais com a chegada de novas gerações e com o surgimento de novos trabalhos. O DNA de um músico brasileiro é um dos mais privilegiados do mundo. Mas fazer música, muitas vezes não significa fazer negócios e pagar as contas, nesse sentido acredito que a fluidez não é a mesma. Como professor de música, procuro equilibrar essa relação, ensinar tornou-se extremamente prazeroso e a relação que tenho com meus alunos, de aprendizado mutuo e comprometimento faz com que esta atividade seja tão importante quanto a de compositor e músico. Mas os veículos de comunicação muitas vezes são inescrupulosos e irresponsáveis, ou melhor, responsáveis, por um público bitolado e superficial. Infelizmente temos sérios problemas com educação no Brasil e sabemos disso, vivemos uma crise de valores quanto isso que não é novidade pra muita gente.

FAIXA A FAIXA

1-“Emoção de Fibra Ótica”
Acredito que falar das canções pode tirar do ouvinte o universo que ele pode criar e as identificações que ele pode ter da vida dele com aquela música, mas “Emoção de Fibra Ótica” é a canção mais recente desse trabalho feita em 2013, a ideia desse arranjo de bateria é de Adriano Souza, baterista de Belém, que compõe a banda que me acompanha por lá. Trata-se da batida de um Lundum Marajoara.

2-“Do Tamanho do Mundo”
Essa foi a música que me fez pensar em um trabalho solo. Composta em 2009, tive colaboração nos arranjos de metais do saxofonista Angelo Ursine, o mesmo que fez sax e clarinete no “Gito”.

3- “Calçada da Deselegância”
Essa música é uma parceria com Daniel Mã, compositor baiano que mora em SP. A ideia surgiu da profunda indignação que sentimos em ver que existem (e como!) pessoas que saem para passear com seus cachorros de estimação e, ao vê-los defecar, deixam ali as fezes e vão embora como se nada tivesse acontecido. Composta em 2008.

4-“Cumbieira”
Essa música tem o nome em homenagem a Mestre Vieira, grande mestre das guitarradas paraense e traz uma marcante influência das minhas raízes amazônicas.

5-“Breve Tristeza de um Violão”
Essa música, composta em 2008, também traz minhas raízes paraenses e nela tivemos a participação de João Paulo Deográcias fazendo uma interferência com um sound designer. Ela tem uma referência muito forte da banda inglesa Portishead, na época que compus essa canção escutava bastante juntamente com o violonista brasileiro Garoto. Sem dúvida, a sonoridade de ambos me influenciaram bastante nessa faixa.

6- “Do Tamanho do Mundo Remix”
Essa versão de João Paulo Deográcias foi um pedido meu: “João faz uma versão remix pra tocar nas periferias”. Ele disse que não via muito essa estática na canção e saiu essa com a atmosfera das discotecas Europeias.

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

Outros discos para download no Scream & Yell
– “Curvas, Lados, Linhas Tortas, Sujas e Discretas”, de Leonardo Marques (aqui)
– “Somos Todos Latinos”: músicos brasileiros regravam canções hispânicas (aqui)
– “Espelho Retrovisor”, um tributo aos 30 anos dos Engenheiros do Hawaii (aqui)
– “Ainda Somos os Mesmos”, um tributo ao álbum “Alucinação”, de Belchior (aqui)
– “De Lá Não Ando Só”, terceiro álbum dos mineiros da Transmissor (aqui)
– Walverdes ao vivo no Asteroid Bar (aqui)
– “Natália Matos”, o disco de estreia da cantora paraense (aqui)
– “Projeto Visto I e II”: brasileiros e portugueses juntos em dois EPs (aqui)
– Download gratuito: diversos álbuns liberados pelos próprios artistas (aqui)

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