por Renata Arruda
Em 2012, Roger Valença e Diego Scalada lançaram “A Hora e a Vez de Onagra Claudique”, um EP de apenas três faixas que chamou a atenção da crítica. Dois anos depois, resolveram investir no crowdfunding para viabilizar a gravação do seu primeiro álbum cheio. “Eu sempre fui a favor de tentar o financiamento coletivo, mas como toda experiência nova, ela trazia certo receio e desconfiança”, diz Roger. “Eu costumo dizer: o dinheiro sempre vem de algum lugar; com o financiamento coletivo, você elimina algum terceiro que não está necessariamente interessado no seu projeto”.
E assim surgiu “Lira Auriverde” (2014), disco produzido por Fabio Pinczowski e Mauro Motoki (Ludov) e mixado por Victor Rice (Banda do Mar; Bixiga 70), cujas 10 faixas formam um álbum heterogêneo que passa por baladas melancólicas, reflexões, narrativas divertidas e inclui, ainda, uma canção política, “Teses Taxistas”, cujo título brinca com o clichê do taxista reacionário: “É um pequeno resumo das barbáries que vem ganhando força nesse paisinho tão difícil. É uma letra política que trata de assuntos fortes e atuais, mas que não soa ressentida ou melancólica”, conta Roger.
O álbum “Lira Auriverde” (assim como o primeiro EP “A Hora e a Vez”) está liberado para download gratuito no bandcamp da Onagra Claudique (http://onagra.bandcamp.com/) e, bem articulado, o duo concedeu a entrevista a seguir por e-mail, onde falam sobre a feitura do álbum, sua paixão por literatura (o nome do grupo é inspirado em uma frase de Rui Barbosa), a cena independente (“A colaboração ao invés da competição é essencial”), a experiência no Catarse e ainda comentam o momento político do país pós-eleições (“Artistas têm todo o direito de se posicionar, mas não creio que seja um dever”) Com vocês, Onagra Claudique.
Como foi a concepção de “Lira Auriverde”?
Roger: É a síntese da Onagra Claudique, um álbum composto por uma seleção de canções que eu e Diego fizemos desde 2008 até o ano passado, 2013. Todas elas, das mais antigas até as recentes, maturadas e trabalhadas minuciosamente por muito tempo. Por ser um álbum de dois compositores, com canções produzidas num longo intervalo de tempo, “Lira Auriverde” mantém uma aparência heterogênea, mas mantém em comum nosso modo de compor e escrever, além de ser extremamente sincero.
Vocês têm a literatura como inspiração: é seguro dizer que o nome da banda vem da frase de Rui Barbosa? Vocês buscaram inspiração em obras específicas para este álbum?
Roger: Sim, é isso mesmo. O nome do grupo vem da frase de Rui Barbosa “a mim pouco se me dá que a onagra claudique, apraz-me acicatá-la”. Foi escolhido por ter esse significado enigmático, soar estranho aos ouvidos, além de ter a “mula manca” como personagem. De fato há muita inspiração na Onagra Claudique vinda da literatura, o nome de nosso EP (“A Hora E Vez de Onagra Claudique”) vem de Guimarães Rosa e de nosso álbum é inspirado em Mário de Andrade. É importante dizer que não há nenhuma tentativa de reproduzir a obra de qualquer autor, todas as canções vêm, na verdade, de experiências pessoais. Assim, as citações à literatura não aparecem num sentido estrito ou acadêmico, fiel às suas fontes, senão como evocador de atmosferas ou imagens. Há algo de Hemingway em “Rosa Ferrugem” ou Lorca para a primeira parte de “Sagração”, mas todas são apropriações muito pessoais.
Diego: A literatura é apenas uma predileção compartilhada entre nós e que permeia algumas de nossas escolhas, como os nomes dos álbuns, por exemplo. O “Lira Auriverde” não tem uma obra específica que norteou nosso trabalho, mas é importante citar que tanto o Roger quanto eu apreciamos, talvez em demasia, a palavra em si, desprovida de seu significado, apenas como uma unidade sonora. Isso explica o nome Onagra Claudique, assim como o “Lira Auriverde”. Não há uma relação direta entre nosso som e nossa intenção expressada através de vocábulos insólitos. O nome “Lira Auriverde” foi retirado do poema “As Infibraturas do Ipiranga”, que fecha o livro de estreia de Mário de Andrade, “Pauliceia Desvairada”, mas sem qualquer intenção de nos filiarmos a um projeto estético de vanguarda ou modernista, como foi o intuito de Mário. O nome então se reduz a um simples “adereço” que não necessariamente tem a ver com o som que fazemos.
Então quais são as influências literárias de vocês? Acompanham este bom momento da literatura nacional?
Roger: Acho que temos algumas inspirações em comum, como a profundidade de Fiódor Dostoiévski, a poesia suculenta de Raduan Nassar, o ceticismo irônico de Samuel Beckett e a dor obsessiva de Yukio Mishima. Eu particularmente, gosto muito do espirito melancólico e fluído de Ernest Hemingway. É difícil selecionar alguns. Dos contemporâneos, ando meio fascinado com o norueguês Karl Ove Knausgård.
Diego: Tento acompanhar a literatura brasileira contemporânea, tendo em vista que a fruição literária é algo completamente anacrônico aos nossos dias, é difícil manter-se suficientemente antenado com o que está sendo produzido hoje, mas gosto muito de alguns romancistas brasileiros, como Cristovão Tezza, Milton Hatoum, Reinaldo Moraes, etc.
E as influências musicais? O que vocês costumam ouvir e o que ouviram em especial para a composição deste álbum?
Roger: Acredito que é seguro dizer que Clube da Esquina, Neil Young, Simon & Garfunkel e Belchior são referências compartilhadas por nós, para citar alguns. Mas a pluralidade da Onagra Claudique vem justamente do leque imenso de referências que não são necessariamente as mesmas. Posso citar alguns importantes pra mim: John Frusciante, Sonic Youth e Elliot Smith, por exemplo, sempre estarão no meu imaginário. Dos mais recentes, tenho escutado muito Oliver Wilde e seu “A Brief Introduction to Unnatural Light Years”, uma revelação do ano passado que chegou de repente e já tem seu lugar cativo na minha playlist. Deste ano, me marcaram muito o álbum instrumental de Keaton Henson, o “Romantic Works” e também “Benji”, de Sun Kil Moon. Além disso, acho que vale dizer que eu e o Diego nos conhecemos por causa do punk. Assim, Ramones e Cólera devem valer como referência em alguma esfera, hahaha. De qualquer modo, não buscamos nenhuma referência sonora para a composição do “Lira Auriverde”. Ele é um álbum feito com canções de idades muito diferentes e seria difícil precisar o que estávamos ouvindo quando fizemos esta ou aquela canção. Ainda assim, mesmo que o fizéssemos, não buscamos compor inspirados em ninguém, embora, é claro, as coisas que ouvimos sempre fiquem gravadas em nosso subconsciente.
Com um álbum tão heterogêneo, gostaria de saber o que vocês pensam sobre o conceito de álbum, principalmente nos dias de hoje em que ele parece ter perdido o sentido com o download e os serviços de streaming, onde o ouvinte pode selecionar suas faixas preferidas em playlists.
Roger: Existem diversos critérios para reunir canções em um álbum. Elas podem ter como mote o mesmo tema (como a falta de comunicação em “The Division Bell”, do Pink Floyd), a mesma sonoridade (como os violões em “Quiet Is The New Loud”, do Kings of Convenience), ou mesmo uma história, contada do início ao fim (como em “Hospice”, de The Antlers). Eles ainda podem ser menos explícitos, como é o caso de “Lira Auriverde”, são todas canções que compartilham nosso modo particular de escrever com vocábulos incomuns, de compor com acordes invertidos e cheios de acidentes, e na postura lírico-jocosa de encarar o mundo. Esse costume de entrecortar álbuns em faixas favoritas não é necessariamente recente. Ele é uma prática comum desde a popularização do formato MP3, em meados de 1997. E mesmo antes disso, era costume fazer mixtapes com fitas cassete. Enfim, quero dizer que não acho que seja necessariamente um efeito colateral da tecnologia, senão um hábito antigo que foi facilitado. Os serviços de streaming, para mim, apenas ajudam no hábito de ouvir álbuns completos. Ainda assim, é uma delícia colocar um vinil e esperar para trocar seu lado. Ou seja, ambas as possibilidades coexistem e são possíveis com mais facilidade hoje em dia. É óbvio que a proposta do grupo em reunir determinadas canções específicas dentro de um álbum é importantíssima, e deve ser levado em conta a priori, mas creio que a liberdade para se fazer uma curadoria pessoal de seu próprio álbum, por assim dizer, seja ela baseada em um conceito, em uma atmosfera ou o que quer que seja, é positiva e até enriquecedora.
Vocês falaram sobre a incapacidade de ser sociável. Isso me leva a uma pergunta que eu tenho feito a alguns artistas independentes: como é a relação de vocês com a cena independente? Alguns artistas reclamam que falta um pouco de união e de incentivo, com uns indo aos shows dos outros, por exemplo.
Roger: Creio que não podemos nos aprofundar muito sobre a nossa relação com a cena independente por um razão simples: ainda não começamos nossa temporada de apresentações ao vivo. Mas, de fato, ter uma banda (ou exercer qualquer outra atividade artística) dentro de uma lógica de mercado capitalista é estar sujeito a oscilações incertas, preso as ideais de sucesso e desempenho que não são eficientes para as artes. Por exemplo, no capitalismo a lógica de competitividade e jogos de poder são essenciais para manter a crise do sistema e fazê-lo avançar. Mas a mesma lógica aplicada ao cenário de bandas alternativas só cria inimizades e insegurança. Esse é um campo que não pode atender aos mesmos procedimentos, por isso a colaboração ao invés da competição é essencial para esse cenário florescer com força. O sucesso de projetos de financiamento coletivo é um excelente sintoma disto.
Diego: Existe sim na cena independente um intercâmbio saudável entre os artistas. Hoje é muito comum um artista independente fazer uma apresentação e convidar outros artistas também independentes para dividir o palco, assim como para fazer uma participação em uma faixa de um álbum. Logo, acho que existe sim uma união entre os artistas, no entanto ela é quase sempre restrita ao aspecto performático e criativo. A união que a cena independente carece é a de concepção, planejamento, distribuição, enfim, aspectos mais ligados à gestão e à difusão do que é feito. Há muita coisa boa na cena independente, muitos a acusam de ser anticomercial ou hermética, daí o fato de não circularem em âmbito nacional ou não chegarem às “massas”. Nisso eu discordo em absoluto. Creio que a cena independente tem sim um cunho popular e comercial, mas acho que ele não é suficientemente explorado. Falta à música independente a veiculação fora dos círculos alternativos, neles há uma espécie de retroalimentação que não permite uma sustentabilidade financeira. Talvez isso pudesse ser em partes sanado através de associações de artistas, organizações e coletivos que pensassem exclusivamente a difusão e a comercialização do que é produzido, e não apenas o fomento através da promoção local de eventos que dão espaço para os artistas independentes se apresentarem.
E o público? Em um tempo onde a oferta é ampla e muitas vezes as pessoas têm resistência para conhecer o novo, existe algo que vocês façam ou pensem em fazer para se destacar e chegar até ele?
Roger: Não é só o público que tem essa resistência. Jornalistas e curadores, mesmo no cenário alternativo, costumam dar atenção a quem já é de certa forma aclamado. O público costuma ir atrás de formadores de opinião, é natural. Tivemos uma grande visibilidade com o EP, porque ele continha apenas três faixas, era simples de chegar até o final. Mas não podemos nos ater à facilidade de consumo para sempre, seria desonestidade artística e intelectual de nossa parte. “Lira Auriverde” é um álbum que se desvela aos poucos, temos consciência disso e esperamos no mínimo o coração aberto e ouvidos atentos do público. É um processo lento e natural. Além disso, não vejo muitas vantagens em pular etapas e se destacar de repente. Quando fizemos uma pequena temporada de shows do “A Hora e Vez” (EP), fomos acolhidos no cenário alternativo, fizemos o Prata da Casa, no Sesc Pompeia, e também fomos à Casa do Mancha e a partir daí fomos expandindo nosso alcance. E tem sido assim. O boca a boca é o método mais eficiente de expansão que permite criar bases sólidas. Qualquer processo excessivamente rápido acaba desmoronando rapidamente também.
Diego: Confesso que tenho pensado muito sobre isso, mas acredito que qualquer tentativa nesse sentido esbarre primeiramente na questão financeira. Poderíamos, por exemplo, recorrer a um artifício muito em voga e que só tende a aumentar: o apelo visual. Um videoclipe bem elaborado poderia trazer uma visibilidade muito positiva. Hoje a música está cada vez mais associada a uma estética que é, sobretudo, visual. O público é afeito a isso, tanto que é quase inconcebível hoje lançar um disco sem um videoclipe.
Vocês têm a “Teses Taxistas”, que é uma música política. Nós estamos em umas semanas pós-eleições acirradas, com ânimos à flor-da-pele e até pedidos de retorno do regime militar. Como vocês estão vendo esse momento político do país?
Roger: A política é uma manifestação intelectual da raça humana, uma ciência de organização social. Todavia, os ânimos acirrados mostram que as motivações políticas em nosso país ainda são embasadas no espectro emocional ao invés do racional. A meu ver, essa descompensação é a causa de tantas incoerências, e assim observamos incrédulos os fenômenos baseados puramente no ódio, como este que você citou: o medo de uma ditadura comunista e o desejo da volta de uma ditadura militar. Não faz o menor sentido. De qualquer modo, parece haver um movimento crescente em direção à conscientização política no Brasil, tudo ainda muito novo e, na maioria das vezes, bastante raso e dicotômico. Mas um avanço. Eu me deparo diariamente com manifestações individuais de caráter político no Facebook e no Twitter, por exemplo. Não era assim há alguns anos. Hoje em dia a internet proporciona um acesso à informação que era barrado de acordo com os interesses da mídia, a liberdade nesse sentido tem causado transformações muito interessantes. Mas, é claro, até compreendermos que direitos humanos não são reinvindicações exclusivas de extrema esquerda. Ainda há um longo caminho. Desconfio que as pessoas que pedem uma intervenção militar na democracia não sabem que o candidato a vice-presidente pela direita nessas eleições já fez parte da Aliança Libertadora Nacional, liderado por Marighella. Tudo isto faz parte de um campo muito complexo que não pode ser analisados de modo binário, como tem sido, independentemente de suas inclinações ideológicas.
Diego: O fim da União Soviética representou uma quebra no paradigma das reivindicações e demandas políticas. Hoje o exercício democrático e a luta por direitos fragmentou-se em grupos com diversas demandas, às vezes opostas. Já não existe aquela dualidade entre o comunismo e o capitalismo. A verdadeira política, não institucionalizada por partidos e sistemas democráticos, ou seja, a vontade que emana do povo, se traduz por uma luta em prol de direitos. Infelizmente uma parte da sociedade ainda não se deu conta disso, pensam que a concessão de um direito alheio significa a privação de um direito seu. Pensam a política sob um viés antes moral que ético, o que gera o ódio e o medo, ambos a meu ver completamente desnecessários e frutos de nossa própria ignorância. As classes mais abastadas e os setores mais conservadores da sociedade estão fabulando soluções esdrúxulas para problemas supérfluos. Falam em separatismo, volta do regime militar, e isso apenas é a prova de que carecem de vontade e empenho a fim de travar um debate amplo e plural. O revolver na cintura do filho do Bolsonaro durante o discurso de ódio que proferiu na Avenida Paulista é um símbolo claro de que não estão preparados, tampouco dispostos a ouvir e observar os anseios da sociedade como um todo.
E o que vocês acham de misturar política e música? Músico tem o dever de se posicionar?
Roger: Certamente artistas têm todo o direito de se posicionar e expressar sua opinião, mas não creio que seja um dever. Fiquei muito feliz ao ver diversos perfis de artistas declarando seu voto abertamente nas redes sociais. Mas a forma mais eficiente de se expressar politicamente para um artista, a meu ver, é justamente dentro de sua arte. “Teses Taxistas”, por exemplo, expressa nossa opinião de forma clara, caso você se preste a ouvir a música com atenção. É um modo de se posicionar sem partir para a militância. Pode ser um perigo engajar-se desse modo aproveitando-se do seu status de celebridade, como temos visto com alguns ex-roqueiros, que se manifestam a favor da uma extrema direita. Não estou dizendo que não seja possível levar uma vida de militante em conjunção a uma de artista, mas um artista não tem obrigação nenhuma de ser um assessor de assuntos gerais. Há, para cada campo, seu modus operandi específico.
Diego: Concordo com o Roger, não temos dever algum de nos posicionar politicamente. No entanto há uma grande diferença entre expressar uma opinião política e expressar-se politicamente a partir de uma ótica panfletária.
Vocês tiveram uma experiência bem-sucedida no Catarse, conseguindo financiar o disco com apoio coletivo. Eu li que no início vocês não eram muito a favor de pedir dinheiro para os fãs, mas mudaram de ideia. Então, o que acharam? Houve algum receio em relação à opinião dos apoiadores? Pretendem repetir a experiência?
Roger: Eu sempre fui a favor de tentar o financiamento coletivo, mas como toda experiência nova, ela trazia certo receio e desconfiança. O crowdfunding tem crescido admiravelmente como estratégia de financiamento de projetos independentes. Como eu disse anteriormente, acho que a arte e o capitalismo tem seus desencontros e a colaboração tem sido um meio do caminho muito interessante. Acho que ainda há muito que evoluir e talvez novos métodos mais eficientes venham. Isso tudo surge enquanto o preconceito do público também vai desaparecendo aos poucos. Eu costumo dizer: o dinheiro sempre vem de algum lugar, com o financiamento coletivo, você elimina algum terceiro que não está necessariamente interessado no seu projeto. Estou muito satisfeito com o resultado do nosso Catarse. Recomendo que tentem e que comecem a contribuir com outros projetos, é trabalhoso para os proponentes, mas muito gratificante para todos. Quanto a repetir a experiência, ainda é muito cedo para afirmarmos qualquer coisa, estamos no meio do processo, produzindo e enviando as recompensas diligentemente, mas, sem dúvida, é uma opção plausível para outros projetos num futuro não muito distante.
Para finalizar, o que o “Lira Auriverde” representa para vocês?
Roger: Um retrato fiel e sincero da Onagra Claudique e um marco artístico pessoal importantíssimo.
Diego: Representa a concretização um projeto muito antigo, a união de muitas forças em prol de um só objetivo. Sozinhos não seríamos capazes, por isso devemos agradecer profundamente a todos que colaboraram e fizeram do projeto uma realidade.
– Renata Arruda (@renata_arruda) é jornalista e assina o blog Prosa Espontânea.
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