por Jorge Wagner
Nem só de música se faz um festival. Ou melhor: nem só de definir as bandas que vão participar dele. Não importa o tamanho do seu evento, tão básico quanto escolher quais serão as atrações é escolher em quais dias e em que ordem elas vão se apresentar, o público que se deseja atingir, o quanto se quer cobrar pela entrada, a capacidade de lotação do espaço escolhido etc. São pontos, aliás, amplificados quando seu evento está diretamente associado a uma marca, visando menos o lucro direto e mais o fortalecimento da identificação de seu público com o produto ou serviço oferecido pela marca em questão.
Com uma estrutura maior do que em sua primeira experiência, em abril deste ano, o Converse Rubber Tracks Live teve, na última semana, a sua segunda edição nacional. Ao todo, em cinco noites de festival – três das quais acompanhadas pelo Scream & Yell –, vinte atrações passaram pelo palco do Cine Joia, em São Paulo, sendo duas internacionais por noite. A estrutura maior, no entanto, não impediu que o festival incorresse em equívocos e derrapadas, incluindo, em uma das noites, um pequeno incidente com potencial para ferir pessoas. Mas do começo…
Anunciado há pouco menos de um mês, o Converse optou, mais uma vez, pela distribuição gratuita de ingressos. Para conseguir o seu – e o de mais um acompanhante –, bastaria se inscrever em uma lista de espera e torcer para ser escolhido. Dessa vez, porém, a distribuição não levou em conta um fatores básicos citados no primeiro parágrafo: a capacidade de lotação da casa. Já na primeira noite, o número de pessoas com o nome na lista que acabou ficando de fora antecipou algo que viria a acontecer em todas as outras. Na sexta-feira, que contou com Chet Faker e Busta Rhymes como atrações principais, houve quem não conseguisse entrar mesmo tendo esperado por mais de três horas na fila.
A pouca conexão entre os nomes escolhidos para dividir o palco é outro ponto que merece ser observado. Afinal, a quem interessa que metade dos presentes vá embora após a apresentação da penúltima banda, como aconteceu entre os shows do Minus the Bear e do Brand New? E, se os fãs do ruivo Chet Faker, por outro lado, permaneceram por lá após a sua apresentação, era curioso vê-los espremidos entre aqueles que estavam lá para ver o verborrágico veterano Busta Rhymes.
A terceira noite, aliás, foi mesmo um caso à parte, com a um fã invadindo uma área proibida da casa pelo teto e derrubando uma placa de gesso sobre a cabeça da DJ Typá, que havia se apresentado com Don L, levada às pressas para o hospital Sírio Libanês com escoriações nos ombros, nos braços e na cabeça. Embora tenha ferido apenas Typá e outro presente no mezanino, o incidente deu início a uma pequena confusão, com direito a correria e debandada de parte do público.
Mas e a música? Bem, esta, apesar dos pesares da produção, foi bem. Coadjuvantes durante o Converse Rubber Tracks, Minus the Bear e Chet Faker merecem voltar em breve para se apresentarem com mais tempo. Mesmo tocando para um público reduzido, o Brand New foi bem em seu show, acompanhado a plenos pulmões de poucos, mas fiéis fãs. Mas foram mesmo Chromeo – na esteira do bom “White Women”, lançado esse ano – e ao Dinosaur Jr. – responsável por um show preciso e de repertório bem selecionado – os pontos altos da festa.
Para uma próxima edição, seria bom que a organização do Converse Rubber Tracks tomasse algumas precauções, tanto com a segurança do público – como demonstra o incidente da terceira noite – quanto com o seu bem estar. A escolha de um espaço maior ou um pouco mais de critérios na distribuição de convites, limitando os números à capacidade de lotação da casa escolhida precisam estar entre as prioridades. Porque apesar de alguns bons shows, a impressão que se fica, no fim das contas, é que a Converse falhou em entregar um bom festival.
– Jorge Wagner (@jotablio) é jornalista. Fotos de divulgação do Facebook oficial da Converse.