texto de Homero Pivotto Jr.
fotos de Billy Valdez
É difícil falar em “festa punk” e não lembrar d’Os Replicantes, autores da faixa de mesmo nome, lançada em 1987, no álbum “Histórias de Sexo e Violência”. A expressão ganhou vida própria e é usada para descrever uma balada forte ou um agito em que predominam músicas do estilo conhecido pela contestação, energia e simplicidade. Pois, em 15 de agosto último, a banda gaúcha de nome inspirado nos robôs humanoides do filme “Blade Runner” se reapropriou do termo que dá título à já referida música e promoveu, em casa, uma verdadeira festa punk para celebrar seus 40 anos. Com um Opinião (tradicional casa de shows de Porto Alegre) lotado — ingressos esgotados —, o quarteto repassou sua trajetória com um repertório de clássicos e performance intensa. No palco, além da formação atual — Julia Barth (voz), Cláudio Heinz (guitarra), Heron Heinz (baixo) e Cléber Andrade (bateria) —, estiveram ex-integrantes dos tempos áureos (Wander Wildner, Carlos Gerbase e Luciana Tomasi) e um convidado: o saxofonista King Jim (Garotos da Rua/Lory F. Band).
Por volta das 22h15 (a apresentação estava prevista para as 22h), um vídeo com declarações de fãs começou a ser exibido nos telões. Por mais de 10 minutos, desconhecidos & conhecidos — como Clemente (Inocentes) e Thunderbird (ex-VJ da MTV) — declararam sua admiração pelo Repli. Contudo, talvez pelo barulho da ocasião e/ou pelo áudio baixo, nem sempre era possível entender o que estava sendo dito.
Em seguida, entraram em ação Julia, os irmãos Heinz e Gerbase na bateria. Então, a vocalista contou até cinco (meio que subvertendo o “1,2,3,4” popularizado pelos Ramones) para abrir o baile com ‘Nicotina’. Na sequência, Wander assumiu o microfone e, com a formação original, executou ‘Sandina’, ‘Surfista Calhorda’ (com público cantando juntando) e o ‘O Futuro é Vortex’. Gerbase deixou as baquetas com Cléber e passou à frente para cantar ‘Boy do Subterrâneo’ junto à esposa Luciana e King Jim no sax. ‘Negócios à Parte (Catarina)’ e ‘Amor Eu Preciso’ seguiram com o casal de vocalistas dançando e divertindo-se em meio à própria performance.
Teve também ‘Hippie, Punk, Rajneesh’, ‘Minha Vizinha’ e ‘Só Mais uma Chance’. Julia voltou à cena para dividir o irônico refrão de ‘Problemas’ (“resolver os problemas do mundo / é coisa de vagabundo”) com Luciana. Chegada a vez de ‘Astronauta’, ‘Ele quer ser Punk’, ‘Corrida Espacial’ e ‘Tom & Jerry’ com seu didático refrão entoado pela plateia (“seja punk, mas não seja burro”). O repertório teve seguimento com ‘Motel da Esquina’ e ‘Punk de Boutique’. Julia pediu palmas para o clã Heinz, fundadores d’Os Replicantes, e a banda lascou ‘One Player’, ‘Libertá’, ‘Censor’, ‘Chernobyl’, ‘Maria Lacerda’ e ‘Mentira’. Sem intervalo para bis, todos os músicos que participaram do espetáculo subiram ao palco para tocar novamente ‘Surfista Calhorda’ e ‘Sandina’, além de ‘Festa Punk’ — não necessariamente nessa ordem.
Uma baita buena onda ver Os Replicantes ativos e surfando no legado construído durante quatro décadas! O evento estava previsto para rolar em 16 de maio, data em que o grupo porto-alegrense fez seu primeiro show com venda de ingressos, em 1984 — o que é considerado pelos músicos como o início oficial das atividades. Porém, a enchente que assolou o Rio Grande do Sul fez os planos irem por água abaixo, e o conjunto acabou celebrando primeiro em São Paulo, em dose dupla, no Sesc Paulista, dias 5 e 6 de julho (o Scream & Yell estava lá cobrindo uma das noites).
Além das apresentações especiais, Os Replicantes também estão com outras atividades comemorativas. Um vinil com gravações do show de aniversário na capital gaúcha está nos planos. Também está em produção um livro contando a história da banda — escrito por Juan Acosta e com pesquisa do Samarone Silveira —, bem como o relançamento do disco de estreia “O Futuro é Vortex” e um documentário chamado “Seja Punk, Mas Não Seja Burro”.
Uma exposição temática sobre a trajetória do conjunto foi aberta, no Museu do Trabalho, em Porto Alegre, mas precisou ser encerrada prematuramente em razão das chuvas de maio.
Paralelamente, o estúdio Dub anunciou o lançamento de um tributo aos punks gaúchos. O material deve ser lançado digitalmente em novembro pelo selo Maxilar, de Gabriel Thomaz. O trabalho reúne 18 bandas e artistas “que se identificam fortemente com as letras e as músicas destes ícones do punk rock”, conforme divulgação. Participam da empreitada nomes como Autoramas, Walverdes, Space Rave, Devotos, Damn Laser Vampires e The Biggs.
– Homero Pivotto Jr. é jornalista, vocalista da Diokane e responsável pelo videocast O Ben Para Todo Mal.
– Billy Valdez é pai da Kaáka, fotógrafo, videomaker, integrante do Coletivo Catarse e baixista da Diokane
eu e minha mãe nas fotos!!! valeu pelos registros! sigamos apoiando o submundo
Boa matéria, mas da próxima vez quem sabe colocam uma foto do co-fundador e único guitarrista da banda, Claudio Heinz?
Não seria mais relevante do que algum convidado, ou mesmo, do que fotos do público?